Brasil se abstém em voto sobre Ucrânia

Embaixadora brasileira na ONU diz que proposta apresentada por Kiev tinha outros elementos além da cooperação

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Por JAMIL CHADE , CORRESPONDENTE e GENEBRA
Atualização:

O Brasil se absteve ontem em uma votação sobre uma proposta apresentada pelo governo ucraniano que pedia às Nações Unidas monitoramento da situação no país. A resolução foi apresentada em Genebra e solicitava uma maior cooperação da ONU para investigar violações dos direitos humanos na Ucrânia. O documento acabou sendo aprovado, mesmo com um duro ataque da Rússia contra a organização. Na próxima semana, a Rússia recebe a presidente Dilma Rousseff e outros líderes dos países emergentes para a cúpula dos Brics. No entanto, na ONU, a explicação dada pelo Brasil para a abstenção foi técnica. A embaixadora brasileira nas Nações Unidas, Regina Dunlop, disse que o Brasil não é contra ampliar a cooperação da entidade na questão da Ucrânia. O problema, segundo ela, é que a resolução apresentada pelo governo ucraniano fazia uma referência a uma decisão de 27 de junho de 2014, considerada inaceitável pelo Itamaraty. No ano passado, a resolução não apenas pedia o monitoramento da ONU, mas citava a situação política da Ucrânia. "Era um texto que tinha elementos não apenas de cooperação", explicou. "Por isso, o Brasil decidiu se abster", confirmou a embaixadora. Naquele documento, não se reconhecia a anexação da Crimeia pela Rússia e se estabelecia o compromisso pela "integridade territorial da Ucrânia". O embaixador da Ucrânia nas Nações Unidas, Yuri Klimenko, lamentou a abstenção brasileira, mas fez questão de indicar que as relações entre Kiev e Brasília são "fundamentais". No total, 20 países se abstiveram na votação da proposta ucraniana. Questionado sobre a abstenção, Klimenko disse que América Latina precisa "entender os fatos". "Só estamos pedindo para olharem a realidade. Fomos agredidos. Hoje somos nós, mas depois podem ser outros", alertou. Resistência. De acordo com o embaixador ucraniano, a referência no texto à resolução do ano passado era "apenas para manter a consistência". "Estamos apenas pedindo a assistência internacional no campo de direitos humanos. Queremos que a missão da ONU que já monitora a situação - que existe desde março de 2014 - continue", declarou. Além das abstenções, a proposta enfrentou a resistência do governo russo, que votou contra. "Devemos entender o que ocorre e os motivos. Essa resolução não trata do assunto", disse a delegação de Moscou. "Essa resolução tem uma motivação política", declarou o embaixador da Rússia na ONU, Vitali Churkin. Cuba e Venezuela também se declararam contra o texto. Para o embaixador dos EUA, Keith Harper, não havia nada de político na resolução. "Trata-se apenas de um pedido para que a ONU continue a monitorar a situação e a mostrar o que está ocorrendo. Não existe uma explicação para dizer não para a Ucrânia. Só mesmo a política", completou.

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