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Brasil se oferece para acolher refugiados sírios da Alemanha

Imigrantes que estão na Europa viriam para o País, que pede ajuda financeira do bloco em troca para receber os refugiados

Por Jamil Chade
Atualização:

GENEBRA - O governo brasileiro negocia um acordo com a Alemanha para receber parte dos refugiados sírios que estão no país europeu ou pretendam viajar para lá - e já abriu um processo para avaliar com a União Europeia (UE) um diálogo para colaborar na questão dos tratados que auxiliam os requerentes de asilo. Em troca, o Brasil pede aos governos da Europa que arquem com os custos dos estrangeiros e sua integração. 

O projeto, segundo apurou o Estado, foi apresentado pelo Ministério da Justiça à Embaixada da Alemanha em Brasília, na semana passada. Ontem, um encontro foi realizado com a delegação da UE para iniciar uma cooperação.

Meninasíria brinca entre barracas de campo de refugiados de Idomeni, na Grécia Foto: EFE/Kostas Tsironis

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Beto Vasconcelos, secretário nacional de Justiça, confirmou a existência do diálogo com alemães e com a UE, indicando que agora o Brasil espera receber propostas concretas da parte dos europeus sobre como viabilizar essa iniciativa. Segundo o secretário, Brasília optou pela “ousadia” para lidar com a crise internacional. 

Por enquanto, não se fala ainda em números de refugiados que o Brasil poderia aceitar, mas poderiam ser sírios que, ainda na Turquia, Líbano e Jordânia, tenham planos de ir para a Alemanha. Outra opção seria acolher pessoas que já estejam na Europa, com a meta de chegar até a Alemanha. Pela proposta oferecida pelo Brasil, porém, os refugiados teriam de ser em parte bancados pelos governos europeus.

Otimismo. Mesmo com a solicitação de um pagamento, fontes em Berlim confirmam que o oferecimento do Brasil foi “bem recebido” pelo governo de Angela Merkel. Para os alemães, o projeto serviria para desafogar parte do fluxo de refugiados em direção ao país, uma situação que, nos últimos meses, tem criado forte tensão para a chanceler. 

Em 2015, Merkel adotou uma política de abertura de suas fronteiras, que fez um total de 1,1 milhão de refugiados entrar no país. No total, 42% dos refugiados eram sírios, o foco da proposta colocada na mesa pelo Brasil.

 

O gesto da líder alemã foi amplamente aplaudido no exterior. Mas, em eleições locais, seu partido foi surpreendido pela ascensão de grupos de extrema direita que, de forma explícita, denunciam a estratégia de receber refugiados.

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A chanceler tem repetido publicamente a promessa de que não vai mudar sua política em relação aos imigrantes que fogem de conflitos e perseguição política ou religiosa em seus países de origem. Nos bastidores, no entanto, Merkel já começou a negociar alternativas para a questão.

Diálogo. As negociações do Brasil também envolveram conversas bilaterais na ONU. Ontem, durante uma reunião da entidade para buscar soluções para a crise dos refugiados, a delegação brasileira também adotou um tom de apelo para que a comunidade internacional aceite os refugiados não como gesto de solidariedade, mas como direito que essas pessoas têm em suas tentativas, muitas vezes desesperadas, de fugir das guerras - milhares já morreram em travessias improvisadas no Mediterrâneo e a chegada da primavera na Europa deve aumentar esse fluxo. 

“Até que essas pessoas possam voltar para suas casas, precisamos contar com a comunidade internacional”, disse a embaixadora brasileira, Regina Dunlop. 

Segundo ela, o Brasil concedeu, desde 2013, cerca de 8,5 mil vistos de permanência com caráter humanitário, num programa que será mantido até 2017. No total, 2,2 mil refugiados sírios vivem hoje de forma regularizada no País.

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