Brasil tenta ampliar exportações

País disputará com a Argentina fatia maior do mercado venezuelano

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Por João Paulo Charleaux
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Com a reunião de ontem, em Caracas, os argentinos assinaram 22 acordos comerciais, venderam 10 mil veículos para a Venezuela e largaram na frente do Brasil numa disputa comercial que pode envolver US$ 6,1 bilhões por ano. A quantia equivale ao total das exportações colombianas para a Venezuela em 2008. E agora que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, decidiu tirar a Colômbia do negócio, exportadores da Argentina e do Brasil pretendem entrar numa disputa acirrada pelo novo mercado. "Podemos ampliar a oferta de automóveis, autopeças, carne bovina, têxteis, calçados e alimentos, entre outros produtos, fazendo crescer ainda mais nossa presença", disse ao Estado o superintendente da Câmara de Comércio Brasil Venezuela, Luciano Wexell Severo. O Brasil já é o terceiro maior exportador de produtos para a Venezuela - com US$ 5,15 bilhões exportados em 2008. Esse valor é inferior apenas ao dos EUA (US$ 12 bilhões) e da Colômbia (US$ 6,1 bilhões). A Argentina vem em sétimo lugar, com US$ 1,2 bilhão. Só no ano passado, a Venezuela importou do Brasil dez vezes mais do que exportou, tornando-se responsável por 20% do superávit da balança comercial brasileira. MERCOSUL Apesar de ainda ocupar posição modesta, Buenos Aires partiu na frente e ontem conseguiu bons acordos com Caracas. O Brasil espera reverter o quadro no dia 19 de agosto, quando levará à Venezuela uma missão com 80 empresários, além de membros dos Ministérios das Relações Exteriores e do Comércio e Indústria. Eles dirão aos venezuelanos que estão prontos para cobrir a fatia da Colômbia e disputar mercado com a Argentina e outros concorrentes. Mas os brasileiros sabem que a China - quarto maior exportador para o mercado venezuelano - também está na briga. "O que beneficiaria tanto a Argentina quanto o Brasil seria a entrada da Venezuela no Mercosul. Assim, conseguiríamos exportar os produtos sem os impostos e tirar a China da concorrência", disse Severo. Mas o Senado brasileiro - paralisado por mais uma crise, envolvendo o presidente da Casa, José Sarney - pode não decidir a tempo se permite ou não a entrada da Venezuela no bloco. "Visitamos as bancadas, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, participamos das audiências públicas, fizemos de tudo para mostrar aos senadores que o Brasil tem mais a ganhar do que a perder permitindo a entrada da Venezuela", disse Severo. O economista argentino Mauricio Claveri, da consultoria Abeceb, de Buenos Aires, diz que os setores argentinos mais beneficiados pela redução da presença comercial da Colômbia na Venezuela seriam os de carnes bovinas e avícolas, laticínios, derivados de soja, têxteis, vestimentas, calçados, perfumaria, medicamentos, ferramentas, além do automotivo. Mas Claveri reconhece que "em todos esses setores a Argentina poderia enfrentar uma forte concorrência do Brasil, exceto o de laticínios, onde os argentinos são mais fortes. De forma geral, o Brasil possui maior capacidade industrial", disse ele. PREJUÍZO O atrito com a Venezuela passará ainda uma conta salgada à Colômbia - cerca de 17% de tudo o que os colombianos exportam atualmente vai para o mercado venezuelano. Já as exportações da Venezuela para a Colômbia registraram uma queda de 52% no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. COLABOROU ARIEL PALÁCIOS

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