Brasil vê disposição para diálogo na Síria e busca consenso na ONU

Chanceler diz que, apesar da 'violência em escala inaceitável', o governo sírio parece aberto a reformas.

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Por Alessandra Corrêa
Atualização:

Em uma semana de crescente pressão dos Estados Unidos e de outros países contra o regime sírio, o chanceler brasileiro, Antonio Patriota, disse nesta quarta-feira que o Brasil ainda busca consenso sobre o assunto dentro do Conselho de Segurança da ONU. Segundo o ministro das Relações Exteriores, a posição brasileira é a de que, apesar da violência contra manifestantes pró-democracia, há por parte do governo sírio alguma disposição para o diálogo. "É sempre justo reconhecer que, apesar da violência em escala inaceitável - que o Brasil não considera condizente com um Estado moderno, democrático e pluralista, como esperamos que a Síria se torne cada vez mais -, o governo sírio, diferentemente do da Líbia, tem demonstrado alguma disposição em promover um diálogo nacional, em rever leis eleitorais, em soltar presos políticos e em avançar algumas reformas", disse Patriota. "Do nosso ponto de vista, o ideal seria que o conselho se manifestasse de forma consensual sobre esse tema. Se não puder ser por uma resolução, talvez por uma declaração presidencial", afirmou o ministro, em Nova York, logo após a reunião na qual o Conselho de Segurança recomendou a integração do Sudão do Sul como integrante da ONU. O Brasil faz parte de um grupo de países dentro do conselho que vêm resistindo a uma condenação mais dura à Síria, como gostariam Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e outros países europeus. Nesta semana, após ataques às embaixadas dos Estados Unidos e da França em Damasco, cresceu ainda mais a pressão desses países contra o regime de Bashar al-Assad. A secretária de Estado, Hillary Clinton, disse que Assad "perdeu a legitimidade" e não é "indispensável", declarações consideradas as mais duras feitas por Washington a respeito da situação na Síria - onde, segundo grupos de defesa dos direitos humanos, mais de 1,4 mil civis e 350 oficiais de segurança já foram mortos na repressão aos protestos contra o governo, iniciados em março. Líbia Ao comentar a posição brasileira de resistir a uma condenação mais dura contra Damasco, Patriota lembrou que o Brasil votou a favor de uma resolução no Conselho de Direitos Humanos condenando a violência na Síria. Mas há no governo brasileiro a preocupação de que uma suposta resolução no Conselho de Segurança acabasse abrindo caminho para uma ação militar, como ocorreu na Líbia. Em fevereiro, o Brasil votou a favor de sanções contra o regime do líder líbio, Muamar Khadafi, aprovadas por unanimidade pelo CS. No entanto, no mês seguinte, se absteve na votação da resolução que autorizou uma ação militar na Líbia. De acordo com Patriota, além da certa disposição do governo para o diálogo, outra diferença no caso da Síria é o fato de que não há um consenso entre os países árabes sobre o que fazer, como havia na questão da Líbia. "Há uma certa polarização entre aqueles que defendem a adoção de uma resolução e aqueles que consideram que o mais apropriado é trabalhar bilateralmente com a Síria ou, enfim, aguardar a evolução dos acontecimentos." De acordo com o ministro, o Brasil, ao lado da África do Sul e da Índia, tem buscado "aproximar posições" no Conselho de Segurança na questão da Síria. "Mas a verdade é que a dificuldade tem sido dos próprios membros permanentes e também de associar o membro árabe do Conselho de Segurança, que é o Líbano, a alguma proposta que possa prosperar", afirmou. Haiti Patriota chegou a Nova York depois de encontros com autoridades americanas em Washington e de uma visita à capital do Haiti, Porto Príncipe, onde se reuniu com o presidente Michel Martelly. "Fiquei muito impressionado em ver como as principais artérias da capital já estão todas desimpedidas", disse o ministro, referindo-se ao processo de recuperação de Porto Príncipe, devastada por um terremoto em janeiro do ano passado. "A reconstrução está prosseguindo aceleradamente, o número de desabrigados diminuindo também de forma seguida e constante. E nota-se um dinamismo na economia, na sociedade haitiana." Patriota admitiu a possibilidade de reduzir o efetivo da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), comandada pelo Brasil e cujo mandato precisa ser renovado em outubro. "Eu acho que, na medida em que continue a evoluir de forma positiva o quadro econômico e político interno, a questão da redução do número de tropas será legítima", disse. "Caberá aí calibrar um pouco o ritmo dessa redução, o número, os prazos. Isso é algo que o Conselho de Segurança terá que deliberar de forma coletiva." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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