Brasil volta a defender saída negociada para crise na Síria

EUA e União Europeia pedem afastamento de Assad após relatório indicar violações aos direitos humanos

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Por Camila Viegas Lee
Atualização:

NOVA YORK - O Brasil voltou a pedir nesta quinta-feira, 18, desta vez no Conselho de Segurança, uma solução negociada para a crise na Síria. A postura foi reafirmada após um relatório da ONU indicar "violações generalizadas e sistemáticas dos direitos humanos" no país árabe.

 

 

A postura brasileira destoa da adotada pelos Estados Unidos e pela União Europeia, que chegaram a pedir o afastamento do presidente sírio, Bashar al-Assad. Ativistas de direitos humanos denunciam a morte de milhares de ativistas na dura repressão do governo a protestos que pedem reformas democráticas. A representante interina do Brasil na ONU, Regina Dunlop, condenou a violência no país árabe, mas defendeu um "processo político conduzido pelos sírios com a participação de todas as partes", inclusive a oposição. Alinhamento

 

O representante da Rússia, Vitaly Churkin, posicionou-se ao lado do Brasil e disse que se trata de um "processo político interno" e que cabe aos sírios resolvê-lo, sem interferência internacional. Para a representante brasileira, "ainda há o que fazer para que esses processo político aconteça". "Cabe ao povo (sírio) decidir quem será o dirigente do país", disse. Dunlop também disse se tratar de "um processo interno", dizendo que a "soberania não pode vir de fora para dentro". Na última semana, Assad recebeu diplomatas do Ibas (fórum formado por Brasil, África do Sul e Índia), em Damasco. A posição conciliatória dos três países emergentes (assim como a da Rússia) destoa do tom crítico das nações desenvolvidas integrantes do conselho. Sanções A Grã-Bretanha, membro permanente do Conselho de Segurança, convidou os membros europeus do conselho e os representantes do Ibas para uma reunião informal nesta sexta-feira. A diplomata brasileira confirmou a expectativa de que um projeto de sanções contra o regime sírio possa ser discutido. "Não nos surpreenderia se um projeto de resolução com sanções nos fosse mostrado", disse Dunlop. O chefe de gabinete da missão francesa, Brieuc Pont, disse esperar que as delegações que se opõem a eventuais sanções "reconsiderem suas posições". "O que ouvimos hoje é espantoso e há uma necessidade particular de todas as democracias se unirem para colocar um fim a essas atrocidades", disse Pont. A sub-secretária-geral para Assuntos Humanitários, Valerie Amos, anunciou o envio de uma missão da ONU já neste sábado, 20 de agosto, à Síria, liderada pelo diplomata Rashid Khalikov. Violência O relatório apresentando pela Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navy Pillay, indicou a morte de pelo menos 1,9 mil pessoas, inclusive crianças. Segundo os investigadores da ONU, marcas de ferimentos nos corpos das vítimas indica uma política de "atirar para matar". A violência usada pelo governo pode ser classificada de crimes contra a humanidade, de acordo com o documento. O governo sírio reconheceu o número de 1,9 mil vítimas, mas inclui também integrantes das forças de segurança mortos por manifestantes. O relatório diz ainda que as forças sírias usaram com regularidade três métodos para matar civis: soldados no terreno, atiradores nos telhados e bombardeios aéreos. Foram descritas também execuções sumárias, o uso de frequentes batidas em hospitais para matar manifestantes feridos, além de relatos de tortura e detenções arbitrárias. Soldados ouvidos pelos investigadores dizem ter recebido ordens de usar munição real contra manifestantes e os que se recusavam, eram mortos. Na quarta-feira, Assad disse à ONU que as operações contra os manifestantes haviam sido interrompidas. No entanto, a afirmação foi negada por ativistas defensores dos direitos humanos, que dizem que a violência prossegue. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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