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Brasil vota em Caracas, mas torce por outra opção

Itamaraty esclarece que o governo optou por uma posição discreta e cautelosa diante das extravagâncias de Hugo Chávez

Por Agencia Estado
Atualização:

O governo Luiz Inácio Lula da Silva votou nesta segunda-feira, 16, em favor da candidatura da Venezuela para a vaga não permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas reservada para a América Latina entre o início de 2007 e o final de 2008. Ainda assim, a diplomacia brasileira não se esforçou para defender a candidatura de seu vizinho. Fontes do Itamaraty deixaram claro que o governo optou por uma posição discreta e cautelosa diante das mais recentes extravagâncias do presidente venezuelano, Hugo Chávez, como a de chamar George W. Bush de "demônio" em plena Assembléia Geral da ONU. Pesou também a interferência da Venezuela nos interesses do Brasil na Bolívia. Depois da quarta votação frustrada na Assembléia Geral, no início da tarde de ontem, a diplomacia brasileira parecia torcer pela suspensão da escolha do representante da América Latina no Conselho de Segurança. A solução abriria a possibilidade para uma terceira candidatura da região - o Chile, como vinha sendo murmurado há meses, ou o Uruguai, como sugeriu o presidente peruano, Alan García, na semana passada, depois de visita oficial a Washington. Qualquer dessas duas alternativas teria não somente o voto de Brasília como, certamente, seu trabalho nos bastidores. Para o governo Lula, a escolha entre Guatelama e Vezenuela não deixou saída. A Guatemala é um país distante dos pontos de vista geográfico, político e econômico do Brasil. Já a Venezuela é vizinho sul-americano, integrante do Mercosul desde 2005, com o qual o Brasil tem interesses comerciais e energéticos comuns. O Brasil votou por Caracas. Mas, ao contrário do que fez na disputa pelo posto de secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), em maio passado, não batalhou em favor de seu candidato. Na OEA, o governo brasileiro conseguiu reverter os votos do Paraguai e do Haiti em favor do chileno José Miguel Insulza, que foi o escolhido. Nesta segunda, ao votar na Venezuela, o Itamaraty estava ciente dos riscos associados a essa decisão. Inflamado opositor dos Estados Unidos e simpatizante dos regimes do Irã e da Coréia do Norte, a Venezuela de Chávez tenderia a transformar-se em sério problema para o Conselho de Segurança nos próximos dois anos - mesmo sem o poder de veto das decisões. Em um cálculo de extremo otimismo, o Itamaraty ainda acreditava que esse embaraço poderia precipitar uma decisão em favor da reforma do Conselho de Segurança, a maior ambição do governo Lula na área externa.

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