Brasileira deixa hospital suíço e deve voltar ao País

Justiça não descarta possibilidade de processar Paula Oliveira, que alega ter sido agredida, por falso testemunho

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Por Jamil Chade e ZURIQUE
Atualização:

O Ministério Público de Zurique pode declarar hoje que a brasileira Paula Oliveira está livre para deixar a Suíça durante o restante da investigação em relação ao suposto ataque sofrido por ela. Mas a Justiça confirmará que a tese da automutilação ganha cada vez mais força e não descarta a possibilidade de um processo contra Paula. Se os indícios colhidos pela polícia se confirmarem até a tarde de hoje, as autoridades devem declarar num comunicado que Paula não precisa permanecer na Suíça até o final do processo. Ontem, Paula fugiu da imprensa e deixou o hospital de Zurique em que estava internada havia seis dias por uma saída secundária. Ela passou a noite de ontem em seu apartamento no subúrbio de Zurique. Paulo Oliveira, pai da suposta vítima, havia avisado à imprensa que ela sairia pela porta principal do hospital e pediu para que os jornalistas a aguardassem ali. "Sairemos pela porta da frente e de cabeça erguida", disse, momentos antes. Mais tarde, Oliveira alegou que sua filha "entrou em desespero" ao saber da presença de jornalistas. "Ela está chocada e disse que não queria ser exposta à imprensa", disse. Questionado sobre a filha não ter cumprido a promessa de sair "pela porta da frente", ele apenas disse: "Ela não saiu pela porta principal porque não estava bem. O hospital tem muitas portas." Paula afirmou que teria sofrido um ataque e um aborto. Em seu corpo, os supostos agressores teriam talhado as letras "SVP", siglas do Partido do Povo Suíço. Já o laudo da polícia mostrou que não havia gravidez e os investigadores trabalham com a tese da automutilação. Até ontem, Paula não sabia da versão da polícia. Mas sua mãe decidiu revelar o conteúdo do laudo. "Paula reagiu com indignação e tristeza. Ela está com as emoções à flor da pele", afirmou Oliveira. "Ao sair do hospital, ela precisava voltar à realidade", justificou o pai sobre por que a família tomou a decisão de contar o que a polícia havia descoberto. Segundo fontes próximas à investigação, a automutilação é a hipótese cada vez mais provável. Segundo o Ministério Público de Zurique, não haveria necessidade de manter Paula na Suíça para as próximas etapas do processo. O SVP não vê problemas na volta de Paula para o Brasil, mas quer que ela arque com os custos da investigação. "O contribuinte suíço não deve pagar a conta", disse Alain Hauert, porta-voz do partido. "Ainda não sabemos quando voltaremos ao Brasil. Todos temos o plano de voltar. Mas não sei quando. Isso dependerá do estado físico de Paula e, por enquanto, ela se recuperará em sua casa (na Suíça)", afirmou o pai. O Ministério Público confirmou ao Estado que existe a possibilidade de que um processo seja aberto após a investigação, se ficar confirmado que ela simulou um ataque. Mas dificilmente Paula será presa. Para os promotores, ela sofreria de problemas psicológicos e a prisão não seria a resposta ao incidente. Pela lei suíça, falso testemunho pode resultar em pena de até 3 anos. DESCULPAS Ontem, o jornal suíço NZZ publicou que a assessoria de imprensa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva estaria preparando um pedido oficial de desculpas às autoridades suíças. Membros do governo brasileiro chegaram a qualificar o suposto ataque contra Paula como um ato xenófobo. Hauert também disse ontem que a investigação se estende ao noivo de Paula, Marc Trepp. Ele deixou Zurique na semana passada e refugiou-se no interior da Suíça. Segundo a família da brasileira, ele mantém contato com Paula.

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