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Brasileira é morta em área dominada por paramilitares a serviço de Ortega

Reitor de universidade aponta milicianos ligados ao governo como autores dos disparos contra carro de Raynéia Gabrielle Lima, estudante de Medicina pernambucana de 31 anos, mas polícia local atribui tiros a um guarda de vigilância privado

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Por Redação
Atualização:

A pernambucana Raynéia Gabrielle Lima, de 31 anos, morreu às 0h54 de ontem em Manágua, depois de ser baleada em uma região controlada por paramilitares a serviço do presidente Daniel Ortega. Segundo o reitor da universidade em que ela cursava o sexto ano de Medicina e colegas que participam desde abril de protestos contra o governo, ela foi morta por esses milicianos. A polícia local sustenta que o autor dos disparos foi um segurança privado.

Em seus perfis em redes sociais, ela demonstrava muito carinho pelo país que a acolheu. “Nascida no Brasil, renascida na Nicarágua. Liberdade, luz, paz e amor”, é a descrição que faz de si no Facebook. Foto: Reprodução / Facebook

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A Coordinadora Universitaria, uma agremiação de estudantes de oito universidades nicaraguenses, disse no Twitter que Raynéia voltava para casa sozinha quando seu veículo foi atingido perto do Colégio Americano por tiros disparados por paramilitares. Os estudantes suspeitam que ela tenha sido morta por milicianos que vigiavam a casa de Francisco López, tesoureiro da Frente Sandinista de Liberação Nacional (FSLN), que dá suporte ao governo de Ortega.

+ Brasil busca esclarecimentos sobre morte de estudante na Nicarágua

O reitor da Universidade Americana (UAM), Ernesto Medina, reforçou que os disparos ocorreram quando ela ia para casa em seu automóvele, aparentemente, não parou em um bloqueio de homens encapuzados. A residência fica em um bairro nobre de Manágua, o Lomas de Montserrat, onde é comum a presença dos paramilitares.

 “Nesta zona vivem vários funcionários do governo e há testemunhos da presença de paramilitares na região. Não pode ser que estejam matando gente impunemente. Vamos exigir que se investigue, porque sabemos onde ocorreu. Pelo menos eles (a polícia) devem investigar e interrogar este senhor (Francisco) López”, afirmou Medina. 

A estudante morava no mesmo bairro de López que, até pouco tempo, era gerente de duas grandes empresas estatais relacionadas ao setor de petróleo e construção.

Raynéia estava perto de terminar o curso e já fazia residência, disse ao Estado seu pai, Ridevando Pereira. Ele afirmou que soube da morte da filha por meio de uma ligação da embaixada brasileira. Segundo ele, a família tinha poucas informações e obtinha atualização pelas redes sociais e pela imprensa.

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A brasileira trabalhava como médica do Hospital Carlos Roberto Huembes, da polícia nicaraguense. Segundo a embaixada brasileira em Manágua, ela havia saído do trabalho, onde era plantonista, quando foi vítima dos disparos. . Raynéia era acompanhada a distância por seu namorado, que dirigia outro veículo atrás da brasileira. Foi ele quem a levou à emergência do Hospital Militar. Ele foi internado em estado de choque. Mas, depois que recebeu alta, a polícia tentava localizá-lo pelo fato de ser a única testemunha do caso.

A Nicarágua enfrenta uma onda de violência que matou até 11 de julho 264 pessoas, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). A ONG Associação Nicaraguense pelos Direitos Humanos afirma que houve 351 mortos até o dia 10.  Raynéia ingressou ainda com vida no Hospital Militar Escuela Doctor Alejandro Dávila Bolaños às 23h30 de segunda-feira. O disparo tinha comprometido o fígado, o pulmão direito e o coração, segundo o governo. 

Essa versão de que um segurança privado a matou foi reforçada pela vice-presidente, Rosario Murillo, em sua participação diária no canal 4, usado como porta-voz do governo. Mulher de Ortega, Rosario mandou um abraço à família e assumiu o compromisso de esclarecer os fatos.

Segundo informações da embaixada brasileira, o reconhecimento do corpo já foi realizado e os resultados da autópsia são esperados para os próximos 15 dias. Ainda não há prazo para que o corpo da estudante seja liberado pelas autoridades e possa ser trazido para o Brasil.

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No mês passado, Sixto Henry Vera, de 48 anos e nacionalidade americana, foi assassinado a tiros quando, de madrugada, circulava pelo bairro de Rubenia, em Manágua, se tornando o primeiro estrangeiro vítima do caos e da repressão em que se encontra a Nicarágua. Segundo testemunhas, Vera foi atingido por tiros disparados por encapuzados que estavam em caminhonetes e perseguiam dois veículos.

Durante a tarde de ontem, alguns estudantes se concentraram em uma rotatória e se manifestaram pedindo justiça pela morte da brasileira. Eles atribuem a morte da colega diretamente à repressão governamental. O protesto foi pequeno e reuniu cerca de 30 estudantes e médicos.

“Eu vivo no Lomas de Montserrat e escutei vários tiros. É mentira que (o crime) tenha sido cometido por um vigilante”, disse um estudante do quinto ano de Medicina da Universidade Americana de Manágua que não quis se identificar. “Essa região está militarizada desde que desalojaram os estudantes da UNAN”, completou. Na operação para retirar os estudantes que se entrincheiraram por mais de um mês dois alunos foram mortos. / COLABORARAM LORENA LARA, MURILLO FERRARI e LU AIKO

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