Brasileiro desaparecido brincou com altura do WTC

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Por Agencia Estado
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"Estou 100 andares acima do solo, dá para sentir frio." Assim o engenheiro capixaba Nilton Albuquerque Fernão Cunha, de 41 anos, brincou com o empresário Marcelo Chagas Menezes, no último e-mail que lhe mandou em 6 de setembro, antes de supostamente desaparecer no atentado terrorista do dia 11. O engenheiro falava de um escritório em um dos andares mais altos do World Trade Center. Desde então, Cunha não fez contato, e Menezes, um cliente para quem o engenheiro liberava compras nos EUA, tenta localizá-lo. Com uma convicção: se Cunha estivesse bem, já teria feito contato para tranqüilizar a família e os amigos no Brasil. Empresário do setor de informática, Menezes trabalha com o engenheiro há cerca de dois anos. Segundo ele, Cunha atua como uma espécie de corretor autônomo para empresas brasileiras que importam componentes eletrônicos e estava nos Estados Unidos desde o dia 5, com volta prevista para o dia 12. Para liberar uma carga para Menezes, Cunha deveria ir ao escritório de uma empresa japonesa que importara de Taiwan o material, localizada no 108º andar da primeira torre que seria atingida pelo ataque terrorista. O engenheiro "estava sempre" no WTC, onde se concentravam muitas empresas com que tinha que negociar. "Geralmente, quando a gente fazia contato, ele estava lá no prédio", relatou Menezes. Ele explicou que os dois costumavam conversar por e-mail, ICQ e Webphone, porque ligações telefônicas convencionais são mais caras. No dia 6, o último e-mail foi mandado pelo engenheiro às 11h - 12h no Brasil. Os dois chegaram a comentar sobre um programa de televisão, que mostrava pessoas que faziam bungee-jump (esporte que consiste em pular de um lugar muito alto, amarrado por um cabo) em edifícios. Cunha, explicou Menezes, não gostava de altura. Não houve troca de e-mails entre os dois no fim de semana prolongado pelo feriado de 7 de setembro nem na segunda-feira, dia 10. Depois do ataque, Menezes ainda esperou um dia, antes de começar a procurar o engenheiro. "Fiz contato com nosso consulado em Nova York, fui a páginas de procura na Internet", continuou. Uma lista com quatro hotéis onde Cunha costumava hospedar-se, encabeçada pelo Metropolitan, na Lexton Avenue, 569, foi enviada para os diplomatas brasileiros que procuram os cidadãos do País desaparecidos no atentado. "Ele não chegou a se registrar", disse o empresário. Menezes disse ter sido informado de que um dos problemas para localizar os brasileiros é que os nomes, às vezes, foram trocados, ao serem registrados, principalmente se, como no caso de Cunha, são longos. Outro caminho que está sendo investigado é o de provedores de Internet usados por Cunha no Brasil e nos Estados Unidos, na tentativa de obter alguma pista ou ajuda com outras pessoas, com as quais ele costumava trocar mensagens. A mãe de Cunha, Juliana Albuquerque Fernão, de 72 anos (ela é viúva, e ele, filho único), que mora em Vila Velha (ES), também procurou o empresário, tentando ter notícias do filho. Nesta sexta-feira, porém, Juliana já não estava em casa. Segundo vizinhos, ela foi levada para o Rio por pessoas conhecidas, possivelmente parentes. "Vou ao Rio hoje tentar localizá-la", disse o empresário. Por instrução do consulado, ele precisa de informações de familiares de Cunha, para preencher um relatório de sete páginas, e também tem que orientar Juliana para um exame de DNA, que ajudaria a identificar o desaparecido.

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