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Brasileiro escapa de desabamento em Miami por dormir na casa da namorada

Decisão salvou a vida do brasileiro Erick de Moura alugava um apartamento no 10.º andar do prédio que desabou em Surfside, Flórida

Por Jaclyn Peiser
Atualização:

Erick de Moura acordou por volta das 5h30 de quinta-feira para usar o banheiro. Estava na casa da namorada, Fernanda Figueiredo – um fato raro em dias de semana –, e foi até a cozinha pegar o celular. Foi quando viu todas as ligações e mensagens. Uma delas se destacou. Era de Rochelle, síndica de seu prédio na Collins Avenue, em Surfside, perguntando como ele estava. 

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“Meu Deus, você está vivo”, disse Rochelle a Moura, quando ele atendeu o telefone. “Como assim ‘estou vivo’?”, ele respondeu. “O prédio desabou”, disse ela. Aí veio a sensação de naufrágio, a confusão e a negação. Talvez ela quisesse dizer que uma parede caíra ou que tinha entrado água no apartamento, ele pensou. “O que você quer dizer com ‘o prédio desabou’?”, disse. Rochelle, então, enviou uma foto dos escombros onde até então se encontrava sua casa.

No que ele descreve como um milagre, Moura foi poupado do colapso da Champlain Towers, que custou a vida de dez de seus vizinhos, com cerca de 150 desaparecidos. “Foi uma noite incomum. Eu ia sair da Fernanda para voltar para casa, tomar banho e morrer”, disse Moura ao Washington Post.

Brasileiro Erick de Moura vivia em prédio que desabou na Flórida Foto: Maria Alejandra Cardona/Reuters

O brasileiro alugava um apartamento no 10.º andar havia cerca de três anos. Passava quase o dia todo no apartamento, onde dirigia seu negócio de vendas. Conhecia vários vizinhos e muitas vezes trocava gentilezas, sorrisos e umas fofocas sobre algum novo morador. Na quarta-feira, ele trabalhou de casa, como sempre, enquanto uma panela de feijoada fervia na cozinha. De shorts e camisa do Brasil, ele saiu por volta das 18h15 e foi para a casa de Fernanda para assistir ao jogo Brasil x Colômbia com outros dois casais e seus filhos.

Depois, eles foram ao quintal para jogar futebol, mas sabiam que a noite havia acabado quando a bola caiu no canal vizinho à casa de Fernanda. Moura saltou para recuperá-la e voltou para se despedir dos convidados. “As pessoas começaram a entrar nos carros e eu falei: ‘Também vou para casa’”, disse.

Ele tinha uma sessão de personal training pela manhã e não havia levado roupas. Mas Fernanda, de 47 anos, insistiu para que ele ficasse e jogou as roupas encharcadas na máquina de lavar, enquanto ele tomava banho. O casal ficou um tempo acordado, conversando e tomando cerveja antes de dormir. Moura adormeceu 30 minutos depois – quase ao mesmo tempo em que seu prédio desabava.

Algumas horas depois, ele acordou e procurou o celular, porque se lembrara de programar o despertador para a manhã seguinte. E não voltou a dormir. Ao saber do desabamento do prédio, ele acordou Fernanda e lhe contou a notícia. Ela tremia e chorava enquanto Moura, ainda em estado de choque, saltou em seu carro e dirigiu para casa. 

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“Eu não conseguia acreditar”, disse. “É simplesmente inacreditável ver o lugar que você chamava de casa nos últimos três anos daquele jeito, no chão.” Desde então, Moura diz que se sente entorpecido, furioso e confuso. Ele ainda não chorou. “Sinto que estou vivendo um pesadelo”, disse Moura. “Como se estivesse num filme. Num filme péssimo.”

Moura se sente atraído pelo local da catástrofe. Tem ido duas vezes por dia, só para ficar parado ali, esperando que a qualquer momento alguém lhe diga que é seguro voltar para casa. O problema é que sua casa não existe mais. “Eu me sentia seguro aqui”, disse. “É o único lugar que conheço em Miami.”

Moura conhece duas das vítimas identificadas, uma delas é Cassondra Stratton, cujo marido ouviu seus gritos ao telefone enquanto o prédio desabava. Outra amiga sobreviveu e eles se encontraram no hotel onde os residentes estão hospedados. Ele ainda tenta absorver o fato de ter ficado tão perto da morte e observou que nenhuma pessoa que morava acima ou abaixo dele foi encontrada. “Para mim, para a Fernanda, foi um milagre”, disse. “Foi um ato de Deus.” / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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