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Brasileiro pula muro da fronteira dos EUA e fica 90 dias preso

Wellington Aleixo decidiu ir de forma clandestina de Tijuana, no México, para San Diego, nos EUA, mas foi pego pela polícia

Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela e Sorocaba
Atualização:

SOROCABA - O brasileiro Wellington Waldecy de Oliveira Aleixo, de 28 anos, tentou desafiar a política anti-imigração do presidente americano, Donald Trump, e entrou clandestinamente nos Estados Unidos pulando o muro na fronteira com o México, em 25 de setembro do ano passado.

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Preso pela patrulha da fronteira americana, ficou quase três meses incomunicável e sem assistência, misturado a presos comuns, antes de ser expulso, em 22 de dezembro. “Passei fome, frio e fui tratado pior que bandido, como se fosse um animal. Não faço isso nunca mais”, disse.

Vigilância do lado americano surpreendeu o brasileiro Wellington Aleixo, que foi preso tentando cruzar de Tijuana, no México, para San Diego, nos EUA Foto: EPITACIO PESSOA/ESTADÃO

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Casado e pai de três filhos, Aleixo decidiu tentar a vida nos EUA depois de perder o emprego como coletor de lixo numa empresa de Sorocaba. Ele se informou sobre as opções de cruzar a fronteira pela internet e comprou uma passagem de avião para Tijuana, no México, na fronteira com a cidade americana de San Diego.

“Só parentes mais próximos ficaram sabendo da minha intenção. Aos amigos e à imigração mexicana eu disse que estava de férias e ia pegar uma praia.” Ele conta que foi direto do aeroporto para a fronteira com cinco brasileiros que conheceu no voo.

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Durante a madrugada, não tiveram dificuldade para pular o muro de pouco mais de dois metros e transpor uma barreira metálica. “A gente não contava com tanta vigilância no lado americano. Era patrulha a pé, a cavalo e de helicóptero a todo momento. Não achamos jeito de chegar a San Diego.” Escondido no mato, o brasileiro pensou em desistir e voltar para o México, mas ficou com medo dos “coiotes”, mexicanos que cobram para ajudar na travessia.

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Enfrentando calor escaldante de dia e as temperaturas baixas de noite, sem ter o que comer ou beber, Aleixo se desesperou. No quarto dia, urinou num saco plástico e bebeu. “Tenho vergonha de contar isso, mas não tinha mais o que fazer”, relembra. No dia seguinte, quando foi abordado e rendido por uma patrulha. “Eu esperava ser enviado rapidamente de volta para o Brasil, mas não foi o que aconteceu.”

Durante quase dez dias Aleixo ficou nas mãos de autoridades federais em dois Estados até ser levado para um presídio em Houston, no Texas. O brasileiro diz que dividiu uma cela com 70 presos e sua nacionalidade o ajudou. “Tinha condenado a 15 anos, outros com estiletes, mas fui bem tratado porque gostavam de falar de futebol, do Pelé, Romário, Roberto Carlos e Neymar. Foi o que me salvou.”

Em meados de dezembro, um guarda de origem hispânica permitiu que ele usasse um telefone para ligar para o Brasil. Um irmão de Aleixo atendeu. “Ele até chorou. Ninguém sabia o que tinha acontecido comigo. Meus filhos achavam que o pai deles tinha morrido”, explica.

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O irmão de Aleixo procurou ajuda de políticos locais e do Itamaraty. Em nota, a chancelaria brasileira informou não ter encontrado registro do contato feito por Aleixo com o consulado brasileiro em Los Angeles, que responde por San Diego.

Em 22 de dezembro, Aleixo embarcou com outros dois brasileiros, também deportados, com destino a São Paulo. “Estou decidido a enfrentar a vida aqui mesmo. Descobri que o sonho americano é ilusão”, disse.

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