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Brasileiro relata clima de incerteza e frustração no Egito

Por Adriana Carranca
Atualização:

O brasileiro-egípcio Mohamed Anas Mostafa Kamel, de 21 anos, ainda tem uma bala de arma de pressão alojada em seu pescoço. Outra atravessou de raspão o rosto e foi parar na orelha. Os ferimentos ocorreram em uma ação violenta de soldados da Junta Militar, então no poder, contra manifestantes concentrados na Praça Tahir, no Cairo. O confronto deixou dezenas de mortos, muitos deles tão jovens quanto Mohamed. Eles pediam a transição do governo com eleições diretas, meses após a queda do presidente Hosni Mubarak. As eleições vieram, mas Mohamed, estudante de direito, não escolheu o islamista Mohamed Morsi ou o general aposentado Ahmed Shafiq. O jovem que ajudou a fazer história com a Primavera Árabe anulou o voto. "Nenhum dos dois me convenceu", diz. Com o presidente Morsi no poder, o primeiro eleito diretamente no Egito, e prestes a aprovar a nova Constituição, o país mergulhou em nova crise, mas Mohamed e os amigos, que há um ano lotavam a Praça Tahir, desta vez não foram para as ruas. Suas escolhas demonstram a incerteza e frustração que deram lugar à euforia da revolução. "Há muita gente insatisfeita. Muitos morreram em recentes confrontos com homens da Irmandade Muçulmana e há manifestantes nas ruas contra a violência. Mas há também o jogo político da oposição inflando os protestos e suas intenções não são claras. Não sabemos se querem derrubar o presidente Morsi ou apenas ganhar apoio popular para vencer as eleições parlamentares", avalia Mohamed. "De outro lado, Morsi não parece saber o que está fazendo."Mohamed relata um clima de confusão no Cairo. "Eu mesmo ainda não me posicionei sobre as questões recentes", diz. "A verdade é que ninguém sabe o que está acontecendo no Egito."

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