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Brasileiros na Bolívia tentam resistir à expulsão

Cerca de mil famílias têm até dezembro para deixar propriedades em ?zona de segurança? na fronteira

Por AP e LA PAZ
Atualização:

Cerca de mil famílias brasileiras que possuem terras na Província (Estado) de Pando, na Bolívia, próximas à fronteira com o Brasil, terão de deixar o local até 14 de dezembro, segundo o Ministério de Desenvolvimento Rural e Terras. De acordo com a Constituição boliviana, nenhum estrangeiro pode ter propriedades na "zona de segurança fronteiriça", que compreende a área de até 50 quilômetros a partir dos limites do país. A saída, porém, já está provocando tensões na região e algumas das famílias pretendem resistir à ordem de expulsão, segundo o jornal boliviano El Dever. "Muitos brasileiros têm uma vida estabelecida, com posses e famílias consolidadas", afirmou ao jornal o presidente do Comitê Cívico de Pando, Hebert Salvatierra. A imprensa boliviana diz que grupos de resistência estariam se organizando do outro lado da fronteira, no Acre, e muitos brasileiros planejariam pôr fogo em suas fazendas caso sejam expulsos de fato. O diretor nacional de terras do governo de La Paz, Cliver Rocha, afirmou que está apenas "cumprindo a lei" e, para evitar um problema social, o governo levaria as famílias para La Paz e Cochabamba. Os brasileiros não receberão indenização para deixar suas propriedades, mas o governo boliviano prometeu dar ajuda para que se instalem em outras partes da Bolívia, oferecendo até 75 hectares de terra. Os que preferirem, receberão ajuda para voltar ao Brasil. As promessas, contudo, não convenceram várias das famílias que pretendem realizar protestos em Bella Flor e Rapirrán, cidades com as maiores concentrações de brasileiros no país. Em entrevista ao Blog da Amazônia, o brasileiro Waldemar Gomes, que mora em Pando há 47 anos e ocupa com a mulher e os nove filhos uma área de 500 hectares, disse que não pretende se mudar. "Como vou levar minha casa? Gastei R$ 7 mil para construí-la", afirmou. "Trabalhei muitos anos para ter esse patrimônio e não posso perder tudo de uma vez." A embaixada brasileira na Bolívia confirmou que as famílias serão obrigadas a se mudar e informou que trabalhará para que seus cidadãos deixem o local da forma menos traumática possível. Um levantamento da embaixada mostrou que a maioria dos brasileiros afetados são humildes e se dedicam à extração de castanha e borracha ou à criação extensiva de gado. As terras deixadas pelos brasileiros devem ser ocupadas por famílias bolivianas. Recentemente, o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, afirmou que uma invasão mesmo pacífica de estrangeiros em Pando poderia ter consequências funestas à integridade do território boliviano.

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