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Brasileiros partem hoje para resgate na Colômbia

Dois helicópteros com 16 militares participarão de libertação de reféns

Por João Paulo Charleaux e Damaris Giuliana
Atualização:

O Brasil enviará hoje para a Colômbia 16 militares do Exército em dois helicópteros Cougar para participar da operação de libertação de seis reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A operação deve começar no domingo em dois locais da Amazônia colombiana que serão indicados pelos guerrilheiros e, possivelmente, um terceiro ponto no planalto andino. Confira especial sobre os conflitos armados na América Latina Os helicópteros, cada um com capacidade para 25 pessoas, serão identificados com o emblema do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e deverão operar completamente desarmados, com exceção dos tripulantes militares que conseguiram autorização para levar pistolas guardadas em coldres, com a justificativa de serem úteis para "sobrevivência na selva". A equipe brasileira é composta por quatro pilotos, quatro mecânicos, dois técnicos em comunicação, quatro especialistas em manutenção, um coordenador aeronáutico e um técnico em oxigênio, que pode ser acionado caso o helicóptero tenha de voar acima de 10 mil pés - se for confirmado o resgate em região montanhosa. O helicóptero que será usado no resgate levará apenas cinco militares. A segunda aeronave será mantida com o restante do grupo em solo, como reserva, em um local ainda não divulgado. Ainda farão parte da equipe de resgate dois delegados suíços e um médico francês do CICV, além de quatro membros da Comissão Colombianos e Colombianas pela Paz, entre eles a senadora Piedad Córdoba, que atua como interlocutora política com o grupo guerrilheiro. Os brasileiros estão proibidos de levar máquinas fotográficas, mas é possível que o governo colombiano consiga embarcar um cinegrafista, apesar da resistência do CICV. O acordo estabelecido prevê que 36 horas antes do início da operação seja feito um contato com o ministro colombiano da Defesa, Juan Manuel Santos, e com o chefe das Forças Armadas, Freddy Padilla, para obter a garantia de que nenhum ataque militar ocorrerá na região do resgate. O mesmo será feito com os guerrilheiros das Farc. Os pilotos brasileiros só receberão as coordenadas do voo minutos antes da decolagem. Uma base do CICV será montada em Villavicencio, próximo da capital Bogotá, para onde os reféns poderiam ser levados depois da libertação. POLÍTICA A escolha do Brasil foi um jogo de cartas marcadas. Panamá e Costa Rica também foram sondados, mas já se sabia de antemão que não dispunham das mesmas condições operacionais. A discrição e a cautela mostradas pelo governo até aqui têm sido os principais trunfos brasileiros, em contraste com a propaganda feita pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, durante a libertação das reféns Clara Rojas e Consuelo Gonzáles, em janeiro do ano passado. Na época, Chávez recebeu as duas ex-reféns em Caracas em frente das câmeras de TV do mundo todo e, em seguida, pediu que a Colômbia reconhecesse o "estatuto de beligerante" das Farc, supostamente habilitando os guerrilheiros a participar de um diálogo político. "O Brasil tem atuado com discrição, diplomacia e isso é muito útil nesse tipo de operação", disse ao Estado o porta-voz do CICV em Bogotá, Yves Heller. "É uma posição que, ao mesmo tempo, agrada ao governo colombiano pela discrição e neutraliza o desejo das Farc de conseguir um protagonismo internacional exagerado a cada liberação", disse o representante da fundação colombiana Segurança e Democracia, Cesar Restrepo. Para o assessor da Presidência do Brasil Marcel Biato, que intermediou o início do diálogo com o CICV em Brasília, a escolha "é um reflexo da longa tradição brasileira de construir consensos para os problemas regionais". REBELDES PRESOS As autoridades colombianas detiveram ontem dois rebeldes das Farc suspeitos de participar nos recentes atentados em Bogotá, entre eles um contra uma locadora da Blockbuster que deixou dois mortos.

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