Brasileiros presos em Benghazi prepararam saída por navio

Grupo de 130 funcionários da Queiroz Galvão estão desde o dia 16 fechados em uma casa e um hotel da cidade aguardando possível retirada.

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Por BBC Brasil
Atualização:

Roberto Roche Moreira vive há mais de dois anos na Líbia com a família Um grupo de 130 brasileiros fechados desde a semana passada em uma casa e em um hotel da cidade de Benghazi já se prepara para uma alternativa para deixar o país caso não seja possível tomar um avião fretado preparado para retirá-los de lá. A possibilidade em estudo é a saída por mar, pelo porto de Benghazi, em direção a Malta ou à Itália. Segundo informações ainda não confirmadas, a pista do aeroporto da cidade teria sido danificada durante os protestos, prejudicando a possibilidade de saída com avião. A cidade de Benghazi, segunda maior do país, é o principal foco das manifestações contra o governo do coronel Muammar Khadafi, no poder no país há mais de quatro décadas. Dezenas de pessoas teriam morrido em consequência da repressão aos protestos no fim de semana. Grupos opositores teriam tomado o poder na cidade. Os brasileiros do grupo são funcionários da empresa Queiroz Galvão, que tem contrato para seis projetos de obras de infraestrutura na região de Benghazi. A empresa mantém as famílias de brasileiros e também de empregados portugueses na casa do diretor da empresa para o Norte da África, Marcos Jordão. Há várias crianças no grupo. Os funcionários solteiros estão alojados em um hotel próximo. "Estamos todos bem. Temos suprimentos para mais de cinco dias, mas esperamos uma definição para conseguirmos a retirada entre hoje e amanhã", afirmou Jordão em entrevista à BBC Brasil por telefone. Segundo ele, os planos de retirada estão sendo coordenados entre a empresa e as Embaixadas do Brasil e de Portugal na Líbia. "A ansiedade é grande, todo mundo aqui está com sua malinha pronta para ir embora", afirmou à BBC Brasil Roberto Roche Moreira, que está na casa de Jordão em Benghazi com a mulher e dois filhos. Empenho A filha mais velha de Moreira, Mariana, que vive no Rio de Janeiro, disse à BBC que espera do governo brasileiro um empenho maior na retirada dos brasileiros presos em Benghazi. "O governo brasileiro precisa agir. Queria saber o que eles estão fazendo a respeito, mas tudo o que eu consegui ouvir nos contatos que fiz lá (no Itamaraty) foram respostas padrões. Eles só respondem que estão negociando, tudo muito vago", disse Mariana, de 27 anos. Roberto Moreira, porém, diz que todos na casa estão "bens e tranquilos" e diz que tanto a Queiroz Galvão quanto as embaixadas do Brasil e de Portugal estão empenhadas em conseguir a retirada dos funcionários da empresa. "Em nenhum momento nos sentimos abandonados', disse. "O problema maior é de logística, saber quem vai liberar nossa saída", afirmou, observando que o salvo-conduto para a movimentação do grupo pode ter que ser negociado com os grupos de oposição que teriam tomado conta da cidade. "Queremos sair o mais rápido possível, mas temos que sair com segurança, com a certeza de que não vamos enfrentar nenhum perigo pelo caminho. Aqui está todo mundo bem, todo mundo tranquilo, mas não vamos nos arriscar", afirmou. Tiros Segundo Marcos Jordão, o grupo de cerca de 50 pessoas que está fechado em sua casa desde a quarta-feira não chegou a observar a violência decorrente da repressão aos protestos populares. "Nos primeiros dias, ouvíamos de longe sons de tiros, mas desde sábado à noite não temos ouvido mais nada. A cidade parece estar tranquila agora", diz. Segundo ele, as informações que o grupo recebe são escassas, por conta do bloqueio à internet e a censura na imprensa local. A única fonte de informação são os canais internacionais da TV por satélite, que não tem sido bloqueada. Os serviços telefônicos também estão prejudicados. Os brasileiros contam que conseguem receber ligações, mas não conseguem ligar para fora. Jordão foi o único do grupo a deixar a casa, para visitar os demais funcionários alojados pela empresa em um hotel próximo. Ele contou ter visto sinais das manifestações nas ruas, como pilhas de lixo e pneus queimados e materiais militares abandonados, mas afirmou não ter visto pessoas protestando nem episódios de violência. Segundo ele, o comércio para suprimentos, como supermercados, permanecia aberto na cidade. "As informações que temos ainda são desencontradas. Sabemos que houve algo pesado, pela quantidade de tiros que ouvimos, mas cada um diz uma coisa e todos tendem a aumentar um pouco", diz. "Temos procurado ficar distantes desses eventos, sem nos envolver", afirma. A Queiroz Galvão é a única empresa brasileira instalada na região de Benghazi. Outras três companhias do país - Petrobras, Odebrecht e Andrade Gutierrez - mantêm escritórios e funcionários na capital do país, Trípoli. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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