
26 de novembro de 2010 | 12h24
O uso da violência para intimidar eleitores é tão difundido que um jornal local chegou a publicar uma tabela com os preços cobrados por esses leões-de-chácara - homens e mulheres.
"Votar? Não, prefiro ir trabalhar", disse o eletricista Adel Mohammed, 32 anos, na cidade portuária de Alexandria. "As eleições no Egito não importam. Os candidatos somem assim que conquistam as vagas, e a violência não vale a pena."
Hafez Abou Saeda, da Organização Egípcia de Direitos Humanos, disse que quatro pessoas já foram mortas e 30 ficaram feridas durante a campanha, em incidentes envolvendo facções políticas rivais.
"Isso acontece entre diferentes grupos, não só por parte do governo. Candidatos da Fraternidade Islâmica, do partido governista e de outros partidos se atacam mutuamente", disse ele. "A violência será forte nesta eleição."
Na eleição de 2005, 14 pessoas morreram, e houve relatos de intimidação das forças de segurança contra eleitores de oposição.
Ninguém duvida que o Partido Nacional Democrático (PND), do presidente Hosni Mubarak, obterá maioria outra vez. A proscrita Fraternidade Islâmica, cujos candidatos concorrem como independentes, deve perder terreno depois do seu expressivo resultado de 2005, quando conquistou um quinto do Parlamento.
O resultado da votação é previsível, mas sua lisura está sob atenta monitoração. O pleito também pode dar pistas sobre a intenção de Mubarak, no poder desde 1981, de disputar um sexto mandato presidencial no ano que vem.
Por estar proibida, a Fraternidade Islâmica não pode apresentar candidato a presidente, mas mesmo assim as autoridades parecem preocupadas com essa agrupação, e centenas de seus membros foram presos durante a atual campanha.
Policiais e homens armados à paisana impediram membros da Fraternidade de se registrarem como candidatos, e dispersaram comícios islâmicos, demonstrando os limites da tolerância oficial ao mais poderoso grupo egípcio da oposição.
Nesta sexta-feira, a Fraternidade acusou as forças de segurança de terem usado gás lacrimogêneo e balas de borracha contra seus seguidores em Alexandria. O grupo diz que as autoridades permitem que candidatos do PND façam passeatas e colem cartazes em todos os distritos, enquanto a campanha da Fraternidade é reprimida.
O PND, por sua vez, pediu ao Ministério Público que investigue candidatos apoiados pela Fraternidade Islâmica, alegando que suas atividades são "um flagrante desafio à Constituição e à lei, e uma violação das regras do processo eleitoral."
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