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Britânico confessa que quase derrubou boeing brasileiro

Para 76% dos argentinos, guerra nas Malvinas foi ´uma loucura´, diz pesquisa

Por Agencia Estado
Atualização:

Um boeing brasileiro quase foi derrubado por engano em 1982 pela Força-Tarefa britânica, enviada por Margareth Thatcher para expulsar as tropas argentinas que estavam ocupando as ilhas Malvinas. A confissão foi realizada pelo almirante Sir John Foster `Sandy´ Woodward em entrevista ao jornal Clarín nesta terça-feira. Woodward, comandante da Força-Tarefa, explicou que um boeing brasileiro, que ia de Durban, na África do Sul, para o Rio de Janeiro, esteve a ponto de ser derrubado pelos mísseis britânicos. Segundo o almirante, a confusão ocorreu porque a Força Aérea argentina havia adaptado um Boeing 707 e seu radar para reconhecimento aéreo. Na ocasião, a frota britânica descia pelo Atlântico Sul rumo às Malvinas. "O avião havia se aproximado de nós várias noites seguidas. Primeiro checamos se era o mesmo avião e tudo parecia indicar que poderia ser um ataque. Chamei o quartel-general e disse que deveria derrubá-lo. Me disseram que não, pois a guerra ainda não havia começado. Na noite seguinte voltou supostamente o avião, com o mesmo radar, na mesma direção. Foi quando eu disse, depois de checar tudo: `não disparem contra ele´. Estive a 30 segundos de ordenar que o derrubassem. Teria caído em um minuto, com a horrenda perda de vidas de inocentes brasileiros". Neutralidade Durante a Guerra das Malvinas, o Brasil permaneceu neutro. A decisão do governo do general João Batista Figueiredo tranqüilizou os militares argentinos, que poucos anos antes haviam estado em estado de elevada tensão com o Brasil por causa da crise da hidrelétrica de Itaipu (a Argentina queria que a capacidade da obra fosse menor). Ao mesmo tempo, a neutralidade brasileira acalmou os britânicos, que entenderam que Figueiredo tampouco colaboraria ativamente com a Argentina. Malvinas Woodward lamentou a guerra das Malvinas, "pois ela não solucionou coisa alguma. Ela atrasou qualquer solução diplomática por mais 50 anos". O almirante sustenta que as forças britânicas "não tinham treinamento nem preparação para realizar uma operação anfíbia a 15 mil milhas de casa". Woodward também defendeu o afundamento do cruzador argentino General Belgrano, colocado a pique pelo submarino britânico Conqueror fora da denominada "área de exclusão de guerra" (a área externa ao setor de 200 milhas de raio ao redor das ilhas). "A zona de exclusão não foi bem entendida. O que quisemos dizer era que se alguém entrasse desde a Argentina seria atacado, mas, igualmente, se estava a 50 milhas fora dela e fossem uma ameaça, atacaríamos da mesma forma. Eles não podiam ter a liberdade de disparar e nós não". Woodward argumenta que "os argentinos ocuparam terras que consideramos que nos pertencem, e quando o Belgrano foi afundado, estávamos em guerra". O almirante rebate as críticas feitas à Grã-Bretanha de que a guerra foi um confronto entre um país militarmente poderoso e outro fraco. "Essa era uma guerra contra nosso pais feita por pessoas mal assessoradas. E, se não podiam fazê-la, não deveriam tê-la feito. Não é uma questão de `oh, pobre Argentina´. Eles vieram e nos roubaram um pedacinho de nossa terra". Segundo o almirante, "se houve alguém que foi colonialista nessa guerra foi a Argentina, pois quis impor suas regras a pessoas (os kelpers, habitantes das ilhas) que não as queriam. Isso é colonialismo da pior classe". Kelpers são ´eremitas´ Segundo ele, os kelpers não gostam dos argentinos. "Não são como você ou eu. São eremitas. Não gostam de se misturar com as pessoas. São muito, muito diferentes. Não acho que eles sintam-se especificamente britânicos, a não ser quando é convenientes para eles serem. Provavelmente terão auto-determinação". Segundo Woodward, a Grã-Bretanha continuará defendendo as Malvinas mesmo que isso implique em elevados custos. Invasão foi ´uma loucura´ Uma pesquisa realizada pela consultoria OPSM Ibope indicou que 76,1% dos argentinos consideram atualmente que a invasão das ilhas e a guerra contra os britânicos em 1982 foi "uma loucura". Apenas 15,1% acreditam que a Argentina teve chances de vencer o conflito bélico. A pesquisa indica que 40,4% dos entrevistados consideram que a melhor forma de negociação diplomática para reaver as ilhas seria por intermédio da ONU. Outros 21,9% acreditam que a melhor fórmula seria negociar uma devolução das Malvinas seguindo o modelo da entrega programada de Hong Kong à China. Outros 17,6% são a favor de uma soberania compartilhada das ilhas com a Grã-Bretanha. Nenhum entrevistado optaria pela hipótese de guerra para recuperar o arquipélago. A pesquisa também deixou claro o peso significativo que as Malvinas possuem nas prioridades políticas dos argentinos. Segundo o relatório, em comparação com outros problemas do país como a falta de segurança, desemprego e inflação, as negociações para recuperar as ilhas são "importantes" e "muito importantes" para 73,1% dos argentinos. Ausência e crítica Associações de veteranos de guerra e líderes da oposição criticaram a ausência do presidente Néstor Kirchner nas cerimônias oficiais realizadas na segunda-feira em memória aos mortos na Guerra das Malvinas. A cerimônia foi realizada na cidade de Ushuia, no extremo sul do país. Kirchner preferiu ausentar-se, e assim, esquivar-se uma grande manifestação - que estava sendo realizada nessa cidade - de professores públicos da Patagônia que exigem maiores salários. A oposição afirma que Kirchner não compareceu para que o conflito docente não fosse conhecido em todo o país. Sem provocação "Não tivemos a intenção de provocar". A frase é de um grupo de ex-combatentes argentinos da Guerra das Malvinas, que na segunda-feira, aniversário da invasão argentina às ilhas, pendurou uma grande bandeira de seu país no cemitério em Port Darwin, Malvinas, ondes estão enterrados centenas de seus colegas. O ato constituiu a primeira vez que uma bandeira argentina foi pendurada nas Malvinas desde a rendição de suas tropas em junho de 1982. Os ilhéus não apreciaram a atitude dos argentinos. O porta-voz do governo das ilhas, Mike Summers, declarou em Port Stanley, capital das Malvinas, que "essa atitude pode estimular reações" por parte dos kelpers.

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