Britânicos estão atrás de um Macron

A ideia é criar um novo partido e repetir no Reino Unido a estratégia que levou o líder francês ao poder após se desligar de um sistema partidário

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Por Redação
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Britânicos de perfil social-liberal, contrários ao Brexit e insatisfeitos com a hegemonia de conservadores e trabalhistas na política britânica estão organizando a criação de uma nova legenda: o “Renew”, ou Renovar. A ideia é repetir no Reino Unido a estratégia que levou o atual presidente da França, Emmanuel Macron, ao poder, depois que ele se desligou do sistema partidário e criou um novo movimento, o En Marche. Na plataforma da nova legenda, o divórcio entre Londres e Bruxelas ocupa um espaço prioritário: seus fundadores querem anular o Brexit. 

O presidente da França, Emmanuel Macron Foto: Lionel Bonaventure / AFP

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Com o mote “Pessoas de fora da política para renovar a esperança britânica”, a legenda foi lançada no domingo, em uma reunião que deveria ser discreta, mas acabou chamando a atenção da imprensa dentro e fora do Reino Unido. Ainda sem líder político, o Renew seguirá a estratégia vencedora de Macron e pretende reconectar a sociedade civil à política, abrindo espaço para novos rostos, em substituição aos políticos “tradicionais” que dominam o país.

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Para construir o programa de governo, o Renew enviará seus militantes em uma grande turnê pelo país, de porta em porta, com o objetivo de identificar as expectativas dos britânicos. Mas, desde já, o partido se apresenta como uma alternativa centrista – ou “de esquerda e de direita”, como diria Macron –, progressista e preocupada em resgatar a qualidade dos serviços públicos. Todo o discurso dá especial ênfase à saúde e à educação públicas, à qualificação da infraestrutura e ao combate à desigualdade, que os fundadores consideram as raízes do Brexit.

Ruptura. O divórcio da União Europeia é, aliás, o grande tema do partido. Seu slogan, “Repensar o Brexit. Renovar o Reino Unido”, deixa claro qual será o primeiro combate: impedir que o Reino Unido se separe da Europa. Segundo Sandra Khadhouri, um dos três líderes do movimento, é preciso antes de mais nada entender por que os britânicos votaram pela ruptura, que era sobretudo defendida pela legenda de extrema direita Partido pela Independência do Reino Unido (Ukip). 

“Consideramos que o sistema político, formado por conservadores, trabalhistas e até mesmo liberal-democratas – que são contra o Brexit, mas falharam nas eleições –, abandonou a população britânica. Muitas pessoas se sentem sem-teto na política”, explicou Sandra ao Estado. “Queremos recriar o sistema político.”

Segundo Sandra, uma ex-jornalista da rede de TV CNN, com passagens por organizações internacionais e hoje especialista em estratégias de comunicação com atuação em zonas de conflito, a ideia é ter como base as experiências do francês En Marche, mas criar o partido com base em temas da realidade britânica.

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Sobre a falta – temporária, estimam os fundadores – de uma personalidade que possa liderar o movimento nas próximas eleições gerais que resultarão na escolha de um novo primeiro-ministro, o Renew não tem pressa. “Precisamos de novas políticas e de um novo jeito de ver as coisas. Temos três líderes proeminentes hoje, mas creio que essa liderança surgirá, seja de dentro ou de fora do partido, e quem sabe de um dos partidos existentes”, explica. 

Além do Renew, outros movimentos vêm refletindo sobre a eventual criação de novos partidos para desafiar conservadores e trabalhistas. Uma das iniciativas cogitadas em Londres é a criação do Partido Democrata, em uma linha semelhante ao do homólogo americano.

Outro movimento, esse suprapartidário, vem sendo organizado por membros insatisfeitos dos partidos Conservador e Trabalhista, contrários ao Brexit. A necessidade de refundar o sistema partidário britânico já foi evocada até pela revista The Economist. Para seus editores, o país necessita de uma terceira força política. 

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