
09 de janeiro de 2019 | 10h54
LONDRES - Se há um acordo para o Brexit ou não, ainda é arriscado opinar, mas os britânicos ainda têm os seus enlatados, papeis higiênicos e vinho. Pelo menos é o caso daqueles com medo da possibilidade de a saída do Reino Unido da União Europeia acontecer sem um acordo.
Há uma incerteza generalizada sobre como a ruptura será finalizada. Se o Parlamento britânico não aprovar, na votação do dia 15, um acordo com a União Europeia, um Brexit sem acordo pode ter consequências econômicas catastróficas.
Por isso, alguns britânicos estão estocando bens que acreditam estar prestes a ficar inacessíveis - de necessidades básicas a itens menos vitais. “No caso de um Brexit sem acordo, eu estou estocando Nutella na minha barriga”, brincou um usuário no Twitter.
Na segunda-feira 7, o ministério dos Transportes levou 87 caminhões do aeroporto de Manston para Dover, onde está um dos mais ocupados portos da Europa. A ideia era observar como reagiria o tráfego em caso de um fechamento das fronteiras. Críticos dizem que foi um exercício de simulação não realístico e uma perda colossal de dinheiro do contribuinte. “Menos de uma centena de caminhões é uma gota no oceano se comparado aos mais de 10 mil que vão até os canais do porto todos os dias”, afirmou à Reuters o parlamentar de Dover Charlie Elphicke.
Em dezembro, a correspondente de saúde do Canal 4, Victoria Macdonald, noticiou que o Serviço Nacional de Saúde (NHS, em inglês) britânico pediu 5 mil novas geladeiras como parte de um plano de contingência para um Brexit sem acordo. “As preocupações são tantas que muitas drogas farmacêuticas vêm da Europa e a última coisa que eles querem ver acontecendo é elas ficando presas em Dover, já que têm prazo de validade curto”, contou a jornalista.
“Eu me tornei o maior comprador de geladeiras do mundo”, reconheceu o secretário de Saúde Matt Hancock. “Eu não esperava por isso.” Hancock foi alvo de críticas, já que pessoas anti-Brexit declararam que o risco aos pacientes do NHS é “irresponsável”. Outros questionaram o custo de estocar geladeiras e sugeriram que o dinheiro poderia ser melhor utilizado no NHS.
Na terça-feira 8, estações de rádio britânicas começaram a transmitir comerciais sobre um site do governo que ajuda a responder perguntas sobre a vida pós-Brexit.
As propagandas mostram europeus com diferentes sotaques fazendo perguntas sobre como a vida deles será afetada pela saída do Reino Unido do bloco econômico, direcionando para um site nomeado “Prepare-se para a saída da UE”. Visitantes podem usar o endereço para procurar como o processo impactará os negócios e indivíduos dependendo dos seus passaportes e residências.
Os comerciais não foram bem recepcionados entre os favoráveis a permanecer no bloco econômico. “Essa pavorosa campanha é uma metáfora para o Brexit: terrível do começo ao fim”, afirmou a parlamentar trabalhista Jo Stevens. "O site parece que foi feito por crianças durante o recreio", disse.
Manter uma bicicleta na estrada pode ser menos importante do que remédios no prazo de validade, mas a produtora de bikes dobráveis Brompton Bicycle também está estocando peças e alugando mais armazéns em busca de espaço.
O adicional de material comprado pela companhia foi estimado em US$ 1,27 milhão, informou o jornal britânico The Guardian nesta semana. A empresa anunciou que prefere dispensar estoque extra a ter o risco de faltar componentes depois.
Brompton é apenas um de alguns produtores de chocolate, manteiga e queijo, por exemplo, que se preparam para escassez de materiais para manter os seus negócios funcionando. “A parte mais importante é que nós vamos sobreviver ao Brexit”, afirmou o chefe-executivo da empresa, Will Butler-Adams. “Com o resto nós nos viramos.”
Planos de emergência estão em vigor para que os britânicos não fiquem sem vinho. Majestic Wine, um varejista britânico de vinhos, planeja aumentar o estoque de um milhão para 1,5 milhão de garrafas de vários países da Europa, informou o Guardian.
“Nós nos sentimos muito confiantes de que ninguém deixará de tomar a birita de almoço de domingo por causa do Brexit”, contou o executivo Rowan Gormely. / WASHINGTON POST
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