Brown quer que tropas britânicas deixem papel de combate no Iraque

Em visita aos EUA, premiê diz a Bush que seus soldados devem limitar-se a supervisionar operações militares

PUBLICIDADE

Por AP e NYT E THE GUARDIAN
Atualização:

Camp David, EUA - Em seu segundo dia de visita aos EUA, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, indicou que as tropas britânicas devem abandonar seu papel de combate no Iraque, limitando-se a supervisionar as operações de segurança nas quatro províncias iraquianas que estavam sob sua responsabilidade militar. Durante entrevista coletiva ao lado do presidente americano, George W. Bush, Brown não deu data definitiva para a mudança, mas indicou que ela seria informada aos deputados britânicos após o recesso parlamentar, que termina em 8 de outubro. Com 5.500 mil soldados no Iraque - Londres chegou a manter 45 mil homens no país, no começo da guerra -, o contingente militar britânico só perde em número para o americano. Sofrendo pressões políticas internas para uma retirada das tropas, Bush ressaltou a importância da permanência dos soldados britânicos. "As conseqüências de um fracasso no Iraque seriam um desastre para os EUA, e o primeiro-ministro sabe disso", disse o presidente. Recentemente, os EUA enviaram mais tropas ao Iraque, especialmente a Bagdá. Pouco antes de o premiê viajar para os EUA, um porta-voz de Brown já havia afirmado que a Grã-Bretanha não tinha um plano de retirada antecipada de seus soldados. Das quatro províncias no sul do Iraque originalmente sob comando militar britânico, três já estão sob controle das autoridades iraquianas. As tropas britânicas são responsáveis hoje apenas pela segurança de Basra. "Também pretendemos passar apenas a supervisionar essa quarta província. Essa decisão será tomada com base na opinião de nossos comandantes militares", disse Brown, que prometeu ainda criar em Basra uma agência de desenvolvimento econômico para criar empregos e estabilizar a região. A política de Brown - que assumiu o cargo há um mês - em relação ao Iraque era uma das maiores preocupações americanas. Washington contava com o apoio incondicional do ex-premiê britânico Tony Blair, que chegou a ser apelidado de "poodle" de Bush. A visita de Brown a Camp David era considerada um teste para a relação entre Washington e o novo governo britânico. Apesar dos esforços para demonstrar que a relação entre os dois países não mudou, os dois líderes adotaram algumas posições bem diferentes no encontro. O presidente americano fez elogios pessoais ao primeiro-ministro, afirmando que Brown não era o "escocês rabugento descrito pelos meios de comunicação". Bush ressaltou ainda o entendimento entre os dois líderes. "Todos estavam imaginando se o primeiro-ministro e eu iríamos encontrar pontos em comum. A resposta é: com certeza." Brown, no entanto, limitou-se a falar sobre a relação entre EUA e Grã-Bretanha. "Disse ao presidente Bush que é do interesse britânico que nossos países trabalhem juntos para enfrentar todos os desafios", afirmou. TERRORISMO Brown reafirmou o compromisso britânico na guerra ao terror, dizendo que os dois países estão comprometidos na "batalha a longo prazo contra a Al-Qaeda". Mas fez uma distinção em relação à posição americana, afirmando que "o Afeganistão é a linha de frente da guerra contra o terrorismo". Bush sustenta que o front da guerra ao terror é o Iraque. No caso do Irã, Brown defendeu o pedido do governo americano por sanções mais duras, como punição à recusa de Teerã em abandonar seu programa nuclear. "Concordamos que as sanções atuais não estão funcionando. O próximo passo é uma nova resolução da ONU", disse o premiê. Brown e Bush pediram uma conclusão em breve para a Rodada Doha de negociações comerciais. Os dois também defenderam maior pressão internacional para acabar com a violência em Darfur, no Sudão. Mais tarde, Brown se reuniu com líderes democratas e republicanos no Congresso, onde garantiu que as relações anglo-americanas "estão se fortalecendo". O premiê viaja hoje para Nova York, onde fará um discurso na ONU e se reunirá com o secretário-geral da organização, Ban Ki-moon.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.