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Bush aceitará exílio de Saddam

Por Agencia Estado
Atualização:

Num gesto calculado para mobilizar apoio internacional ao plano americano de desarmar o Iraque e tirar Saddam Hussein do poder, o presidente George W. Bush reiterou hoje que os EUA aceitariam o exílio do ditador iraquiano como uma solução para a confrontação com Bagdá sobre a presença no país de armas de destruição em massa. A destruição dessas armas fazem parte dos termos de rendição aprovados pelo Conselho de Segurança da ONU, que Saddam aceitou no fim da Guerra do Golfo, em 1991. Elas foram reafirmadas na resolução 1.441 do conselho, adotada em novembro. "Se ele escolher deixar o país, com muitos dos lacaios que torturaram o povo iraquiano, é claro que veríamos isso com agrado", afirmou Bush aos jornalistas, antes de um encontro com o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi. O líder americano pediu que o "mundo livre faça pressão" para convencer Saddam a abandonar o poder. Mas ele deixou claro que não esperará muito tempo para testar a viabilidade de uma saída negociada do presidente iraquiano do poder - uma hipótese tida como pouco plausível no mundo árabe. "Isso é uma questão de semanas, não de meses", afirmou Bush. "Por amor à paz, essa questão tem de ser resolvida - pacificamente, esperamos." Bush conversou também com Berlusconi sobre a fixação de um prazo limite final para o Iraque acatar a ordem da ONU de desarmar-se. O presidente americano discutiu a possibilidade do exílio de Saddam em algum país disposto a recebê-lo - a Mauritânia seria um deles - também com o ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, Saud Al-Faisal. Ele deve retomar o assunto no encontro que terá neste fim de semana, no retiro presidencial de Camp David, com o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, seu mais importante aliado na confrontação com o Iraque. "Se Saddam fosse para o exílio, seria um evento positivo para o mundo", reforçou o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, enfatizando a importância da pressão internacional para que se produza tal resultado. A decisão da Casa Branca de trazer de volta o exílio do líder iraquiano como solução aceitável sugere, de modo incongruente, que Bush estaria disposto a conviver com uma solução que não envolva o julgamento de Saddam. Politicamente, falar nessa saída oferece a vantagem de dar à estratégia americana um tom mais razoável, sem comprometer as duas tarefas a que os EUA se dedicarão nas próximas semanas. A primeira delas é complementar os preparativos militares para uma invasão do Iraque, que devem levar todo o mês de fevereiro. Num gesto calculado para sinalizar o início da fase final da mobilização militar, o Pentágono informou quarta-feira que o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas americanas, general Richard B. Myers, não mais participará das entrevistas coletivas diárias para evitar perguntas sobre movimentos de tropas. O subsecretário de Estado, Richard Armitage, disse hoje ao comitê de Relações Exteriores do Senado que os EUA poderão ter acesso a 21 países em caso de guerra com o Iraque. Segundo ele, pelo menos 20 países se comprometeram a autorizar o uso de seu espaço aéreo. Embora improvável, por causa do grau de controle que Saddam parece ter sobre o Iraque, uma variação desse cenário seria uma revolta de generais e a deposição do ditador. A segunda é obter o respaldo do CS da ONU, ao menos implícito, para uma solução de força. Esse trabalho, que começou com o discurso de Bush ao Congresso, terça-feira, intensificou-se com a decisão de Bush de enviar o secretário de Estado, Colin Powell à ONU, no dia 5, para apresentar provas ao conselho de que o regime de Bagdá está ludibriando os inspetores de armas enviados ao Iraque, sob mandato da resolução 1.441, aprovada por unanimidade. O embaixador americano na ONU, John Negroponte, adiantou que Powell acionará o dispositivo da resolução que prevê um novo debate se for constatado que o Iraque falhou no compromisso que assumiu perante a comunidade internacional de eliminar as armas de destruição de massa. O objetivo de Washington é usar esse debate no Conselho de Segurança para produzir um prazo final para Saddam submeter-se. Este prazo valeria como uma autorização implícita para uma ação armada punitiva, caso a França e a China mantenham sua atual resistência a um aval específico para uma nova guerra no Golfo Pérsico.

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