Bush admite erros e anuncia reforço militar no Iraque

"Se ajudarmos os iraquianos a quebrar o ciclo de violência nesse momento crucial, poderemos antecipar o momento de nossas tropas retornarem para a casa"

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Por Agencia Estado
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Em um esperado discurso no qual anunciou a nova estratégia militar dos Estados Unidos para o Iraque, o presidente George W. Bush disse nesta quarta-feira que irá enviar mais de 20 mil soldados à região para ajudar a sanar o estado de pré-anarquia em que o país árabe se encontra. Bush também admitiu pela primeira vez que sua administração errou ao não garantir um número suficiente de soldados para manter a segurança nas regiões mais delicadas de Bagdá. "Onde erros foram cometidos, a responsabilidade permanece comigo", disse o presidente em sua mais direta admissão de culpa desde o início do conflito, há quase quatro anos. Mais de 3 mil soldados americanos morreram na guerra. Pontuando sua fala com contextualizações sobre a atual situação no Iraque, o presidente reconheceu que a violência no Iraque superou os níveis aceitáveis em 2006, após um ataque de terroristas sunitas à mesquita sagrada de Samarra, em fevereiro. Bush destacou também que a necessidade de uma mudança de rumo no Iraque não deve ser encarada como uma "solução mágica." O discurso surpreendeu pela gritante mudança na posição sustentada pelo presidente americano, que até então insistia que os Estados Unidos vinham conduzindo o Iraque rumo a um regime democrático. Apesar de ter classificado as eleições iraquianas de 2005 como uma "vitória impressionante", o presidente afirmou que a "violência no Iraque, particularmente em Bagdá, superou os ganhos políticos alcançados pelos iraquianos". O mandatário, que enfrenta a maior crise em seu governo desde os ataques terroristas de setembro de 2001, pontuou o que classificou como os dois principais problemas que levaram à deterioração da situação no Iraque: "Nossos esforços para proteger Bagdá fracassaram por duas razões principais: não havia soldados iraquianos e americanos suficientes para proteger os locais de onde tinham sido removidos os terroristas e insurgentes. E havia muitas restrições para as tropas de que dispúnhamos." Ainda assim, o presidente afirmou que o futuro da segurança nos Estados Unidos depende da "vitória no Iraque". "As Forças Armadas dos EUA travam uma luta que determinará a direção da guerra global contra o terror e a segurança em nosso país. A nova estratégia que anuncio hoje mudará o rumo dos EUA no Iraque e nos ajudará a vencer a guerra contra o terrorismo". Do lado de fora da Casa Branca, entretanto, manifestantes antiguerra pediam a renúncia de Bush e o retorno das tropas para os Estados Unidos. O plano anunciado por Bush prevê o envio de 17,5 mil soldados americanos para reforçar a segurança em Bagdá. Segundo o presidente, as primeiras cinco brigadas deverão chegar ao país na próxima segunda-feira. Outros 4 mil Fuzileiros Navais serão posicionados na conturbada província de Anbar, região que serve de base para a insurgência sunita e abriga combatentes estrangeiros da Al-Qaeda. Bush explicou as diferenças entre o novo plano e tentativas anteriores: "Nas outras operações, as forças iraquianas e americanas expulsavam os terroristas e insurgentes dos bairros, mas, quando iam para outros objetivos, os assassinos voltavam. Agora, com a ampliação do contingente militar, teremos um número de tropas suficientes para manter essas áreas livres de terroristas." Apesar de as sugestões iniciais sobre o incremento de tropas no Iraque darem conta de que o novo contingente permaneceria no país por um período restrito, Bush não mencionou quanto tempo durará o novo esforço. Ele também acrescentou que a nova estratégia, pela qual os iraquianos terão que se responsabilizar pela segurança das 18 províncias do país até novembro - contra as três atuais -, "não colocará um fim aos ataques suicidas" e a outros tipos de violência. "O ano que temos à frente exigirá mais paciência, sacrifício e determinação." Plano iraquiano O envio de mais soldados americanos ao Iraque está sendo anunciado paralelamente a um esforço conjunto das forças locais para implementar um novo plano de segurança em Bagdá. Estima-se que entre 10 a 12 mil novos homens serão empenhados pelo governo iraquiano. Nesse sentido, explicou Bush, as forças americanas exercerão mais um papel de apoio do que de protagonismo. "Nossos comandantes militares revisaram o novo plano iraquiano (de segurança) para garantir a correção de (eventuais) erros. Eles informam que este plano pode dar resultados e o primeiro-ministro Nuri al-Maliki prometeu que não vai tolerar a interferência política ou sectária", disse o presidente, referindo-se às pressões exercidas pelos diferentes grupos religiosos na política iraquiana. "Só os iraquianos podem acabar com a violência sectária e dar segurança a seu próprio povo. E seu governo iniciou um intenso plano com esse objetivo", adiantou o presidente. Nesta quarta-feira, Maliki deu um surpreendente ultimato à milícia Exército Mahdi, o braço armado do poderoso líder xiita Muqtada al-Sadr. O clérigo, conhecido por sua fervorosa retórica antiamericana, exerce grande influência sobre importantes setores do parlamento iraquiano. Apesar da renovação de seu comprometimento com a tentativa de sanar as divisões internas do Iraque, o presidente alertou que os esforços americanos não durarão para sempre. "Deixei claro ao primeiro-ministro e às demais autoridades iraquianas que o compromisso dos EUA não é eterno. Se o governo iraquiano não cumprir as suas promessas, perderá o apoio do povo americano e do iraquiano. Chegou a hora de atuar. O primeiro-ministro entende isso." O anúncio vai de encontro com a posição defendida pela nova maioria democrata no Congresso americano. Num breve discurso de resposta às palavras de Bush, o senador democrata Dick Durbin afirmou que seu partido está convencido de que os EUA "não vão ganhar a guerra" e afirmou que o aumento de tropas não vai mudar o resultado. "Este é o momento de Bush enfrentar a realidade. Os EUA estão pagando um preço muito alto. Chegou a hora de planejar uma retirada ordenada de nossas tropas", afirmou. Mais cedo durante sua fala, entretanto, Bush deixou claro que não atenderá às reivindicações democratas: "Sair agora levará ao colapso do governo iraquiano, dividirá o país e resultará em assassinatos em massa em uma escala inimaginável." No raciocínio sustentado pelo presidente, um envio de tropas agora permitirá a retirada em um futuro próximo. "Se nós ampliarmos nosso apoio nesse momento crucial e ajudarmos os iraquianos a quebrar o atual ciclo de violência, poderemos antecipar o momento de nossas tropas retornarem para a casa." Síria e Irã Bush acusou ainda o Irã e a Síria de permitir o uso de seus territórios para que terroristas e insurgentes entrem e saiam do Iraque e prometeu "interromper o fluxo de suporte da Síria e do Irã. E vamos buscar e destruir as redes que fornecem armas avançadas e treinamento para nossos inimigos no Iraque". O presidente disse ainda que a Arábia Saudita, o Egito, a Jordânia e os Estados do Golfo - todos aliados aos Estados Unidos no Oriente Médio - precisam entender que uma derrota americana no Iraque "criará um santuário para extremistas - e uma derrota estratégica para sua sobrevivência". Apesar de esforçar-se em demonstrar otimismo, Bush admitiu que uma eventual vitória no Iraque não será como as vitórias em outras guerras, com a entrega do lado derrotado. "As mudanças que expliquei têm como objetivo garantir a sobrevivência de uma jovem democracia que luta por sua vida numa parte do mundo que é de enorme importância para a segurança americana. A pergunta é se nossa estratégia nos aproximará do sucesso. Eu acho que sim. A vitória não será como as conquistadas pelos nossos pais e avós. Não haverá cerimônia de rendição na coberta de uma embarcação. O Iraque democrático não será perfeito. Mas será um país que lutará contra o terrorismo, em lugar de apoiar os terroristas, e ajudará a trazer um futuro de paz e segurança para nossos filhos e nossos netos". Texto ampliado às 2h56

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