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Bush diz que Iraque "é um problema internacional"

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente americano, George W. Bush, disse hoje ao primeiro-ministro de Portugal, José Manuel Durão Barroso, que o Iraque "é um problema internacional" após ter sido advertido por seu convidado a não agir unilateralmente contra Saddam Hussein. Bush afirmou ao premier português que as duas nações "têm de trabalhar juntas para resolver o problema". Durante o encontro dos dois líderes na Casa Branca, Bush advertiu sobre "a medonha possibilidade de que regimes bandidos desenvolvam armas de destruição em massa e (se liguem) a organizações terroristas, ou se unam contra países que amam a liberdade, países como Portugal". O primeiro-ministro, por seu lado, exortou Bush a manter consultas com líderes mundiais. "É muito importante que os Estados Unidos da América e o presidente Bush escutem a opinião de aliados próximos, e Portugal é um aliado muito próximo dos Estados Unidos", afirmou. Em tom de ironia, o premier acrescentou: "O problema com aliados é que algumas vezes eles têm opiniões, e eu vim aqui para ouvir o presidente Bush, mas também para dar minha opinião, com muita franqueza". Bush reagiu com um sorriso. "Neste exato momento, quando existem algumas ameaças globais que têm de receber uma resposta global, temos de agir globalmente", aconselhou o premier. Bush afirmou mais tarde compreender a situação, e é por isso que ele escolheu as Nações Unidas como local para fazer um discurso sobre o Iraque na quinta-feira. "Acredito que trata-se de um problema internacional, e temos de trabalhar juntos para resolver o problema", disse Bush na embaixada do Afeganistão. Ele contornou perguntas específicas sobre a proposta do presidente francês, Jacques Chirac, de um plano de duas fases pelo qual as Nações Unidas poderiam permitir o uso da força, através de uma resolução do Conselho de Segurança dando ao Iraque um ultimato de três semanas para permitir a volta dos inspetores de armas. "Deixem-me ir à ONU e fazer o que é para mim um importante discurso", disse Bush. "Vou apresentar o caso de como penso que temos de proceder e como trabalharemos juntos para manter a paz". Bush também conversou por telefone com o primeiro-ministro José María Aznar, da Espanha, e com o presidente Alvaro Uribe, da Colômbia, e planejava falar ainda hoje com o presidente mexicano, Vicente Fox. O porta-voz do presidente americano, Ari Fleischer, disse hoje que Bush não pediu a aliados para ajudar a pagar a reconstrução do Iraque num cenário pós-Saddam. Apesar de Bush estar exigindo uma "mudança de regime" em Bagdá, "não é papel dos Estados Unidos escolher líderes no mundo", considerou Fleischer. "Os Estados Unidos não impõem sua vontade sobre as outras nações. Os Estados Unidos não designam um indivíduo para ser o líder de outro país". "No entanto, o presidente também acredita que os Estados Unidos, como parte da comunidade internacional, desempenharão um papel construtível, útil, ombro a ombro com a comunidade internacional na eventualidade de uma mudança de regime tornar-se realidade no Iraque", acrescentou. "Vamos trabalhar com a comunidade internacional para oferecer paz e estabilidade ao Iraque, à região". Bush tem conversado com líderes mundiais sobre uma ação contra o Iraque. Mas pedir ajuda financeira para um cenário pós-Saddamé "prematuro", afirmou Fleischer. Autoridades da Casa Branca disseram estar encorajadas com o fato de alguns líderes europeus não mais estarem inflexíveis em relação a uma ação militar dos EUA contra o Iraque caso Saddam Hussein continue a impedir inspeções de armas. Altos oficiais da administração adiantaram que Bush exortará as Nações Unidas na quinta-feira a exigir que Saddam abra suas instalações de armas para inspeções incondicionais ou enfrentará ações punitivas.Mas Fleischer pareceu questionar a efetividade da ONU. "Pessoas em todo mundo chegarão à sua própria conclusão sobre a importância das Nações Unidas, dado o fato de que as Nações Unidas aprovaram muitas resoluções pedindo para Saddam Hussein se desarmar, de se livrar das armas que tem, de abandonar a busca de armas de destruição em massa", disse Fleischer. "O julgamento ainda está sendo feito sobre se a ONU tem feito um bom trabalho impondo suas resoluções". Hoje, o diretor da CIA, George Tenet, e a conselheira de Segurança Nacional, Condoleezza Rice, reuniram-se com líderes do Congresso para apresentarem as razões para uma possível ação militar. A líder da minoria na Câmara dos Representantes, a democrata Whip Nancy Pelosi, afirmou após o encontro que a administração ainda não conseguiu persuadi-la da necessidade de uma ação militar. Muitos congressistas têm expressado preocupação com a falta de apoio internacional para um ação militar contra o Iraque. Blair Assim com Bush, o premier britânico, Tony Blair esforçou-se na missão de conseguir apoio ao ataque contra o Iraque. Blair disse hoje que a ONU deve ser "a via para enfrentar a ameaça de Saddam Hussein, não um caminho para evitá-la", matizando seu até agora compacto alinhamento com um eventual ataque unilateral dos EUA ao Iraque. Em seu esperado discurso perante o congresso anual da Confederação dos Sindicatos britânicos, Blair se defrontou não apenas com os líderes de associações sindicais, como também com a opinião pública britânica, que rejeita por maioria uma intervenção unilateral contra o Iraque. O presidente iraquiano, Saddam Hussein, constitui uma ameaça que "deve ser enfrentada", disse Blair diante de sindicalistas e trabalhadores reunidos na cidade de Blackpool, na costa ocidental inglesa. Blair acrescentou que seria "um ato de grave irresponsabilidade" permitir a Saddam que empregue "as armas que tem ou as armas que busca". Enquanto os "falcões" de Washington pressionam por uma ação militar, ainda que unilateral, contra Bagdá, Blair destacou hoje o papel das Nações Unidas, cujo secretário-geral, Kofi Annan, advertiu recentemente sobre a gravidade dessa medida, que desataria uma resposta de características imprevisíveis. "Creio que é o correto enfrentar Saddam através das Nações Unidas. Além do mais, é a vontade da ONU que ele está violando. É ele (Saddam), e não George W. Bush nem eu, quem está violando as resoluções da ONU", disse Blair. "Se nosso desafio é trabalhar com a ONU, nós responderemos a este desafio", continuou o primeiro-ministro britânico, acrescentando em seguida que "se o fizermos, então nosso desafio para toda a ONU é este: a ONU deve ser a via para enfrentar a ameaça de Saddam Hussein, não um caminho para evitá-lo". O premier prosseguiu seu discurso com uma advertência ao presidente iraquiano: "está claro que deve ser desarmado. Está claro que não pode haver mais condições, artimanhas, desvios, e que a autoridade da ONU não pode mais ser minada. É claro que, se a vontade da ONU for ignorada, a ação será lançada". Blair enfatizou que embora de um lado a "dioplomacia seja vital", de outro "quando se trata com ditadores ? e nenhum no mundo é pior do que Saddam -, a diplomacia deve ser apoiada pela certeza... de que por trás da diplomacia esteja o uso da força". A obra de contenção do arsenal iraquiano, explicou Blair funcionou "só até certo ponto", e que a vigilância das zonas de interdição aos vôos no norte e no sul do Iraque por parte da Grã-Bretanha e dos EUA não pode "prosseguir para sempre", advertiu. Se não se enfrenta "a ameaça deste delinqüente internacional e de seu regime bárbaro, pode ser que a situação não vá explodir e nos fazer submergir este mês ou no próximo, talvez nem sequer este ano ou no próximo, mas em algum momento isto ocorrerá. E eu - acrescentou Blair - não quero ter em minha consciência o peso de que sabíamos e não fizemos nada". Com seu discurso, Blair tentou reconciliar posições com os sindicatos, que ontem aprovaram uma moção de "total oposição" a qualquer tipo de ação militar unilateral contra o Iraque por parte dos EUA ou qualquer outro país. Mas o premier foi mais além, buscando tranqüilizar os parlamentares de Westminster sobre a linha do governo. "Antes de qualquer discussão sobre uma ação militar, posso assegurar-lhes de maneira categórica que o Parlamento será consultado e terá toda a oportunidade de debater sobre a questão e expressar sua opinião". Por outro lado, Blair considerou necessário encaminhar o processo de paz no Oriente Médio. "Devemos trabalhar com todos os interessados, incluindo os EUA, por uma paz duradoura que ponha fim ao sofrimento tanto dos palestnos nos territórios ocupados como dos israelenses à mercê dos terroristas", afirmou. O reinício do diálogo, explicou Blair, "deve estar baseado sobre princípios idênticos para um Israel seguro no interior de seu limites e um Estado palestino viável".

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