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Bush e democratas parecem longe de acordo sobre Iraque

Congresso dos EUA, de maioria democrata, quer restringir liberação de novos recursos financeiros para sustentar a ocupação militar norte-americana

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e os democratas (oposição) que controlam o Congresso norte-americano estão em rota de colisão devido às verbas a serem gastas com a guerra no Iraque --por enquanto, nenhum dos dois lados dá sinais de estar cedendo. O embate cada vez mais intenso é o exemplo bastante visível de um temerário comportamento político manifestado em 1995, quando uma disputa em torno do Orçamento entre o então presidente Bill Clinton (democrata) e os republicanos paralisou o governo. Naquele ano, os norte-americanos viram em Clinton a voz da razão e consideraram que os republicanos haviam exagerado em seus esforços para diminuir os gastos do governo federal. Mas, na situação verificada hoje, o resultado ainda não é tão claro. Disputa Os democratas foram eleitos para controlar o Congresso, em novembro passado, prometendo limitar o envolvimento dos EUA com o Iraque. A oposição tenta fazer isso condicionando a concessão de um fundo de guerra de US$ 100 bilhões para Bush à fixação de um cronograma para a retirada das forças norte-americanas. O dinheiro seria gasto com os conflitos no Iraque e no Afeganistão. Apesar de pesquisas mostrarem um grande apoio à postura dos democratas, autoridades do governo acreditam que os norte-americanos, no fundo, concordam com Bush --a opinião pública, mesmo cansada da guerra no Iraque, hoje impopular, aceitaria que os militares precisam receber dinheiro. Em janeiro, muito se falou sobre a necessidade de haver cooperação entre a maioria democrata no Congresso e a Casa Branca de Bush. Mas os enfrentamentos entre os dois partidos tornaram-se novamente a regra em Washington. Críticas Todos os dias, o governo tem escolhido alguns democratas para criticar devido ao projeto de lei sobre o fundo de guerra, avisando que o período de permanência dos soldados no Iraque será prorrogado se não houver verbas para realizar a rotação das tropas. Na quinta-feira, foi a vez de o vice-presidente do país, Dick Cheney, partir para o ataque. "Acredito que uma parte significativa dos democratas, entre os quais, Nancy Pelosi (presidente da Câmara dos Deputados), é totalmente contrária à guerra e está preparada para arrumar as malas e voltar para casa derrotada ao invés de elaborar uma política responsável que nos leve à vitória", disse. Os democratas ainda precisam apresentar sua proposta de cronograma para Bush, que deve vetá-la, de toda forma. Para que isso não aconteça, as duas partes têm de resolver suas diferenças sobre o projeto de lei, segundo o qual as forças norte-americanas de combate estariam fora do Iraque até 1º de setembro de 2008. A versão da lei no Senado exige que a retirada comece antes e que termine no próximo dia 31 de março. Os democratas têm certeza de que as diferenças serão resolvidas e que um projeto de lei será apresentado a Bush no regresso do recesso de Páscoa. A oposição espera que o presidente disponha-se a negociar com o Congresso tratando-o como um parceiro de peso igual no governo. "Ele deveria se sentar e conversar conosco. Somos razoáveis", afirmou o líder da maioria no Senado, Harry Reid, na quarta-feira. "Já cedemos em outras questões antes. Já ele não, e isso porque ele tinha o Congresso para dar-lhe tudo o que desejava. Não vamos mais fazer isso. Não temos mais de fazer isso." James Baker, ex-secretário de Estado e amigo da família Bush que presidiu uma comissão conhecida como Grupo de Estudo sobre o Iraque, descreveu o que poderia ser um acordo. O grupo de estudo elaborou um relatório com 79 sugestões a respeito da guerra. Bush estaria ignorando muitas das principais sugestões, entre as quais a de negociar diretamente com o Irã e a Síria. Baker escreveu em um artigo publicado na quinta-feira, no jornal The Washington Post, que o presidente deveria seguir todas as recomendações do relatório e que deveria pedir aos democratas que se unissem a ele. Caso não o faça, segundo Baker, "o fardo da rejeição de uma postura unificada nesse caso recairá sobre o ombro deles". "Avançar nesse caminho, o que exigiria que os dois lados cedessem, seria muito melhor do que continuar com a rixa partidária responsável por prejudicar as metas da política externa dos EUA no Iraque e no Oriente Médio", afirmou Baker.

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