Bush e líderes mundiais repudiam testes norte-coreanos

Países pedem que Pyongyang cumpra moratória para testes com mísseis e retorne à mesa de negociações sobre programa de armas nucleares

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Por Agencia Estado
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O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, disse nesta quarta-feira que o fracasso norte-coreano em testar um míssil de longo alcance não diminui a necessidade de que o regime comunista seja encorajado a abandonar seu programa de armamentos nucleares. Bush ressaltou que o míssil Taepodong-2 (T2) lançado na madrugada desta quarta-feira pela Coréia do Norte caiu no mar apenas 42 segundos após a decolagem. Segundo especialistas, o projétil seria capaz de alcançar o território americano. Para o presidente, no entanto, o fracasso "não diminui meu desejo de resolver esse problema". A julgar pelo tom das declarações dadas pelo presidente e, mais cedo, pela secretária de Estado Condoleezza Rice, a administração tem por objetivo não deixar que as tensões provocadas pelo exercício norte-coreano sejam interpretadas como um problema entre Washington e Pyongyang. A todo momento, Bush tentou demonstrar que as preocupações relativas às intenções norte-coreanas se espalharam por todos os países do mundo. Segundo o presidente, o lançamento de sete mísseis pela Coréia do Norte amplia o isolamento de Pyongyang em relação ao resto do planeta. Ainda assim, Bush usou um tom menos duro do que os apelos feitos na semana passada, quando disse que a realização de testes com os mísseis seria "inaceitável". Ele reiterou que os Estados Unidos querem que o problema seja resolvido através de negociações multilaterais, e não apenas entre o regime comunista e a administração americana, como reivindicam os norte-coreanos. "O governo norte-coreano pode aderir à comunidade das nações e provar seus benefícios agindo de acordo com o desejo daqueles que acreditam que o país não deve possuir armas nucleares e com aqueles que acreditam que há um caminho positivo para o governo norte-coreano e seu povo", disse o presidente. "Esta é uma escolha que cabe a eles." O presidente americano acrescentou que o conselheiro de segurança nacional e diplomatas dos Estados Unidos trabalham com outras nações para tentar convencer os norte-coreanos a voltarem para a mesa de negociações. Bush disse que também pretende conversar com outros líderes que trabalham para que Pyongyang abandone seu programa de armas nucleares. "O que esses lançamentos fizeram foi isolar ainda mais o povo norte-coreano", ele disse. "E isso me deixa profundamente preocupado com o futuro deste povo", continuou, insinuando que um eventual abandono do programa de armas nucleares por Pyongyang traria "melhores oportunidades para que o governo e as pessoas se movam adiante". Repúdio mundial Antes das declarações de Bush, líderes mundiais já haviam condenado os testes norte-coreanos, ameaçando tomar providências antes mesmo de o caso passar pelo Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) e exortando Pyongyang a restaurar o contato paralisado com o grupo de seis países formado para negociar sua questão nuclear. Na contramão, a Venezuela afirmou que o país asiático tem o direito de desenvolver sua tecnologia de mísseis. Seguindo a linha adotada por Bush, a secretária de Estado Condoleezza Rice disse mais cedo nesta quarta-feira que a repercussão negativa dos testes são uma oportunidade para "o governo da Coréia do Norte mudar o seu comportamento". Condoleezza considerou que a resposta generalizada da comunidade internacional mostra que não se trata de "uma questão apenas entre Washington e Pyongyang". Rice afirmou ainda que os norte-coreanos "podem ter calculado mal" a forma como os testes seriam vistos pelo resto do mundo. Já o Japão, próximo da zona de testes, colocou em alerta máximo seu efetivo militar. O ministro da Defesa do país, Fukushiro Nukaga, conversou por telefone com o secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld. Ambos decidiram cooperar mutuamente e trocar informações no desdobramento da crise. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) se pronunciou dizendo que os sete testes ameaçaram a segurança do leste da Ásia e do resto do mundo, enquanto a Rússia afirmou que eles minaram a confiança da comunidade internacional na empobrecida nação comunista. Os países europeus criticaram o governo de Kim Jong Il. A Otan pediu uma firme resposta da comunidade internacional e fez mais um apelo. "Pedimos que a Coréia do Norte cesse imediatamente o desenvolvimento de mísseis de longo alcance e retome sua moratória quanto aos lançamentos de mísseis", disse em uma declaração a aliança de 26 países. O embaixador da França nas Nações Unidas, Jean-Marc de La Sabliere, informou que o Conselho de Segurança realiza uma reunião de emergência ainda nesta quarta-feira, solicitada pela missão japonesa, que promete apresentar uma resolução contra Pyongyang. O chanceler japonês, Taro Aso, advertiu sobre uma "grande possibilidade" de se impor sanções econômicas contra o país. Na Rússia, o governo convocou o embaixador norte-coreano em Moscou para dar explicações nesta quarta-feira. Um dos mísseis lançados caiu perto de uma cidade russa na costa do Pacífico, assustando moradores locais. O vice-chanceler Alexander Alexeyev disse ao embaixador Pak Ui Chun que os testes "prejudicam a paz e a estabilidade na região e complicam as negociações em torno dos problemas nucleares na Península Coreana". O diplomata norte-coreano disse que informaria Pyongyang rapidamente sobre a posição russa. Na cidade portuária de Nakhodka, não muito distante da Coréia do Norte, os moradores tentaram protestar em frente ao consulado norte-coreano, mas foram contidos por policiais. Venezuela Na contramão da comunidade internacional, o governo da Venezuela declarou que a Coréia do Norte tem o direito de desenvolver tecnologia de mísseis como qualquer outro país. "Não concordo com a idéia de que um grupo de países privilegiados tenha o direito de desenvolver essa tecnologia e o resto da humanidade seja proibido", disse o ministro da Informação, Willian Lara. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, planeja visitar a Coréia do Norte ainda neste ano. O chefe de Estado constantemente acusa os Estados Unidos de ameaçarem outros países com seu gigantesco poderio militar ao mesmo tempo em que tentam proibir nações como a Coréia do Norte de desenvolverem sua própria tecnologia militar. O governo da Coréia do Sul pediu uma resposta pacífica aos testes de mísseis promovidos pela Coréia do Norte entre ontem e hoje e alertou que o aumento da pressão sobre Pyongyang poderia aumentar ainda mais a tensão na Península Coreana. A assessoria do presidente Roh Moo-hyun informou que o governo do país tentará engajar Pyongyang em um "diálogo paciente" para amenizar a tensão na região e solucionar o impasse provocado pelos programas bélicos norte-coreanos. Outro país a pedir calma para resolver a situação foi a China. Pequim expressou preocupação com os testes norte-coreanos, mas pediu que a comunidade internacional "não agrave ainda mais a situação". A China demorou mais de 15 horas para emitir um pronunciamento sobre os testes.

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