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Bush e Powell distribuem afagos e puxões de orelha

Por Agencia Estado
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Um líder de fala franca, que vê o mundo como um lugar ameaçador, repleto de "malfeitores" a serem confrontados e destruídos, o presidente George W. Bush iniciou hoje no Japão uma visita de seis dias à Ásia que o levará também à Coréia do Sul e à China e testará não apenas a visão que informa sua política externa como sua capacidade de liderança internacional. A viagem estava prevista para o ano passado, mas foi adiada por causa dos atentados de 11 de setemebro. Esta é a segunda vez que Bush vai à China. Em novembro, ele esteve em Shangai para a reunião anual dos líderes da Associação Econômica da Ásia e Pacífico. A caminho de Tóquio, Bush reafirmou o significado político da viagem durante escala na base aérea de Elmendorf, em Anchorage, Alaska, renovando seus ataques contra a Coréia do Norte, país que, segundo o líder americano, forma um "eixo do mal" junto com o Iraque e o Iram. Ele acusou a Coréia do Norte de aterrorizar o mundo, conclamou o país a retirar suas armas da região próxima à zona desmilitarizada que separa as duas Coréias desde 1953 e voltou a falar da campanha contra o terrorismo como "uma cruzada inacreditavelmente importante para defender a liberdade". A dura retórica de Bush causa grande preocupação nos três países que visitará, e cria dificuldades para o presidente da Coréia do Sul, Kim Dae Jung, que está empenhado numa estratégica de diálogo, reconciliação com o Norte, e considera a abordagem de Washington contraproducente para seu projeto de reunificação futura do país. Com um encontro de três horas com o primeiro-ministro Junichiro Koizumi, Bush deu início à delicada missão de dois dias que cumprirá em Tóquio junto a um anfitrião que é um aliado na guerra contra o terrorismo mas um líder desacreditado em casa e, de acordo com alguns analistas, à beira da irrelevância. Em declarações públicas e em gestos, como o jantar que ele e sua mulher Laura tiveram a sós com Koizumi num restaurante em Tóquio, Bush manifestou o apreço pessoal pelo primeiro-ministro por seu empenho pessoal em envolver o Japão na luta contra o terrorismo, com ações como o envio de navios para dar apoio logístico às forças americanas no Afeganistão - uma iniciativa simbólica, mas que desafiou os limites da constituição pacifista japonesa e teve um custo político para Koizumi. Mas Bush também deixou claro ao líder japonês sua apreensão com a falta de ação do governo de Tóquio diante de uma crise que mantém a segunda economia do mundo em estado de letargia há anos, provoca hoje a terceira recessão em uma década e ameaça contaminar o resto da Ásia, com óbvias implicações negativas para a estabilidade da região e para a retomada da própria economia dos EUA. "Acredito firmemente que a economia do Japão precisa de reformas e reestruturação significativas, bem como se focalizar nas carteiras de empréstimos (dos bancos)", disse o líder americano, antes de se reunir com Koizumi. ´Mas estou mais do que confiante em que o primeiro-ministro compreenda isso e esteja disposto a tomar as decisões difíceis". Os manifestantes que marcaram a chegada de Bush em Tóquio, carregando cartazes pacifistas, chamaram atenção para um dos temas que dominará sua visita. A exemplo do que ocorre na Europa, onde os aliados dos Estados Unidos vêem com crescente alarma os planos da administração americana de ampliar a guerra contra o terrorismo ao Iraque, os governos japonês, sul-coreano e chinês apoiaram a resposta militar de Washington aos ataques de 11 de setembro mas temem que a retórica beligerante de Bush produza resultados opostos aos pretendidos. Antes de partir com Bush para a Ásia, o secretário de Estado, Colin Powell, procurou tranquilizar os aliados asiáticos sobre as intenções dos EUA lembrando que o país mantém-se aberto a conversas incondicionais com a Coréia do Norte. Mas a visita que Bush fará aos mais de 30 mil soldados americanos que garantem a zona desmilitarizada na Coréia do Sul alimenta a apreensão que sua retórica guerreira provoca na Ásia.

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