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Bush é recebido com protestos e ameniza discurso

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente George W. Bush, que iniciou hoje uma visita de dois dias à Coréia do Sul sob protestos de centenas de manifestantes, numa Seul fortemente policiada, não pretende falar diretamente sobre o "eixo do mal" no discurso que fará amanhã aos soldados norte-americanos durante a visita à zona desmilitarizada que separa as duas Coréias. Tendo causado grande constrangimento político a seu anfitrião, o presidente Kim Dae Jung, que defende uma política de aproximação e engajamento com a Coréia do Norte, Bush abrandou o tom dos ataques contra o regime de Pyongyang antes mesmo de chegar a Seul. Mas a ausência da expressão belicosa não significa que o líder dos Estados Unidos abandonará a estratégia que adotou no final do mês passado para sinalizar sua determinação de ampliar a guerra contra o terrorismo ao Iraque, ao Irã e à Coréia do Norte, se esses países, que ele considera como partes do "eixo do mal", continuarem a produzir e exportar mísseis e armas de destruição em massa. Anne Hughes, assessora próxima que acompanha o líder norte-americano na viagem à Ásia, disse que Bush usará sua visita à tensa fronteira guardada por 37 mil soldados dos EUA para reiterar sua convicção de que a Coréia do Norte é um dos regimes mais perigosos e repressivos do mundo. Bush, que não viu os protestos de ruas que marcaram sua chegada a Seul, afirmou que não há lugar para armas de destruição em massa na península coreana e renovou a oferta de seu país para conversações incondicionais com a Coréia do Norte. Na véspera, ao discursar da Dieta, o parlamento japonês, em Tóquio, ele afirmara que busca "uma Ásia onde a força militar não é usada para resolver disputas" e onde "a proliferação de mísseis e de armas de destruição em massa não ameacem a humanidade". Altos funcionários da administração indicaram que Washington não tem planos de contingência contra a Coréia do Norte além da manutenção das tropas que garantem a zona desmilitarizada há 49 anos. Mesmo em relação ao Iraque, que é o alvo mais importante e mais imediato da ofensiva retórica de Bush, não há planos militares firmes. Fontes oficiais disseram esta semana que as alternativas em estudo vão da invasão ao apoio a uma conspiração oposicionista para tirar Saddam Hussein do poder. Mas ressalvaram que nada acontecerá antes de maio, o mês em que quando Bush deverá fazer uma visita à Rússia. Os dois dias que Bush passa na Coréia do Sul são os mais controvertidos de sua viagem de seis dias à Ásia, porque a retórica dura que ele adotou contra o Pyongyang virou munição da política interna do país. O presidente Kim Dae Jung, que ganhou o prêmio Nobel da Paz por seus esforços de diálogo, distensão e eventual reunificação com a Coréia do Norte, viu sua estratégia descarrilar no ano passado depois que, durante uma visita que fez a Washington para conhecer Bush, o presidente dos EUA atacou duramente a Coréia do Norte. Em protesto, o regime comunista de Pyongyang suspendeu os contatos que tinham iniciado com Seul e Washington. Com o congelamento do diálogo, o líder da oposição, Lee Hoi Chang, partiu para o ataque com Kim. Lee, que também apóia o diálogo com o Norte, passou a dizer que o líder sul-coreano conseguiu muito pouco em concessões de Pyongyang pela ajuda que concedeu. Ele repetiu essas críticas ao vice-presidente Dick Cheney e a outros altos funcionários da administração durante visita a Washington. Na segunda-feira, Lee taxou de "agente norte-coreano" um deputado do partido de Kim que chamou Bush de "o mal encarnado". O líder oposicionista é o favorito para vencer as eleições presidenciais do ano que vem. Kim, que não pode concorrer, tem pouco mais de um ano para tentar consolidar seu legado de pacificador da península e nenhum motivo para receberá qualquer ajuda de seu ilustre hóspede de Washington.

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