Bush faz história com vitória republicana

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Por Agencia Estado
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O presidente George W. Bush e o Partido Republicano alcançaram uma vitória sem precedentes nas eleições da terça-feira, conquistando o controle do Senado e ampliando a maioria apertada que o governo tinha na Câmara num pleito que, tradicionalmente, é marcado pelo encolhimento, no Legislativo, do partido que ocupa a Casa Branca. O líder americano acabou com a tradição e tornou-se o primeiro presidente da história dos EUA a ver seu partido retomar o controle do Senado numa eleição de meio de mandato. Bush pode reivindicar o bom resultado como uma vitória pessoal porque, nas três semanas finais da campanha, preocupado com a possibilidade de ter suas asas cortadas por um avanço dos democratas na duas casas do Congresso, entrou pessoalmente na campanha em vários Estados, introduziu temas nacionais nas eleições e deu a elas um caráter de referendo sobre sua administração. Entre outras implicações, o resultado da votação remove quaisquer dúvidas sobre a legitimidade de Bush, remanescentes de sua controvertida eleição, assegurada por um veredicto da justiça, e não nas urnas, depois do fiasco da contagem dos votos na Flórida. O envolvimento de Bush na campanha sublinhou esse aspecto das eleições de terça-feira. Ele foi à luta pela reeleição de seu irmão, Jeb Bush, ao governo da Flórida. Investiu a grande popularidade que ganhou depois dos ataques de 11 de setembro em várias disputas ao Senado nos estados que acabaram dando ao seu partido as vitória que garantiram a maioria: Dakota do Sul, Minnesota, Missouri, Georgia. Bush fez campanha até para alguns deputados, o que não é muito comum para ocupantes da Casa Branca. Uma das beneficiárias de seu apoio foi Katherine Harris, a ex-secretária de Estado da Flórida que teve um papel central na condução do embaraçoso processo de contagem e recontagem dos votos que deu a vitória a Bush. Harris foi eleita deputada. Embora os resultados finais revelem um país politicamente dividido ao meio e possam levar Bush a interpretá-los como um mandato claro e indiscutível que é difícil de discernir numa eleição legislativa, com temas e personalidades múltiplos, a vitória coloca os republicanos no controle da agenda legislativa e abre o caminho para o presidente levar adiante vários projetos que seus rivais haviam bloqueado no Senado. Entre estes, estão criar um novo ministério da segurança interna, tornar permanente a ambiciosa redução de impostos por dez anos que conseguiu aprovar nos primeiros meses da administração e recolocar em pauta uma proposta de privatização parcial da seguridade parcial. A retomada da maioria do Senado pelos conservadores abre o caminho, também, para a confirmação de dezenas de juízes federais nomeados por Bush, que os senadores democratas deixaram na gaveta. Além disso, um par de aposentadorias na Suprema Corte, nos próximos dois anos, poderá dar a Bush a oportunidade de estabelecer uma maioria conservadora no tribunal máximo dos EUA. Na área externa, a eleição certamente será tomada, na Casa Branca, como um respaldo popular ao projeto da guerra contra o Iraque, mesmo que a questão não tenha sido dominante nos debates eleitorais. Ironicamente, a derrocada democrata pode abrir espaço para a ressurreição do ex-vice-presidente Albert Gore, que perdeu a presidência para Bush há dois anos apesar de ter tido 500 mil votos a mais do que ele na votação popular nacional. Um dos efeitos prováveis do desastre eleitoral que os democratas sofreram será o de alijar os líderes que estavam emergindo como potenciais rivais de Bush na briga pela Casa Branca, entre eles os senadores Joseph Lieberman, que foi companheiro de chapa de Gore, o líder da maioria perdida no Senado. A eleição tem um custo também para o ex-presidente Bill Clinton, pois um protegido seu, Terry McAuliffe, é o atual presidente do Partido Democrata. Uma tentativa de ressurgimento do pouco carismático Gore poderá, no entanto, apenas complicar ainda mais o acerto de contas interno que não demorará a começar entre os democratas. Os republicanos - que haviam perdido o controle do Senado em junho do ano passado, quando Jimm Jeffords, de Vermont, abandonou o partido e declarou-se um independente, aliado aos democratas - terão pelo menos 51 das 100 cadeiras, contra 48 para os democratas e uma do independente Jeffords, na 108º legislatura do Congresso, que se instalará em janeiro. E os conservadores têm a possibilidade de ampliar sua bancada, dependendo do resultado do segundo turno das eleições em Louisiana, onde a senadora democrata Mary Landrieu não conseguiu a maioria absoluta exigida pelas regras eleitorais do Estado e enfrentará uma desafiante republicana no dia 7 de dezembro. Na Câmara, os republicanos aumentaram em cinco cadeiras a vantagem que tinham sobre seus rivais e terão 227 deputados, contra 206 democratas e um independente. Uma vaga, também em Louisiana, só será decidida no segundo turno. Os conservadores perderam Estados importantes, como Pensilvânia, Illinois e Michigan. Os democratas mantiveram o controle da Califórnia, o maior e mais populoso Estado da união. Mas os republicanos, que tinham mais governos estaduais em disputa, entre os 36 que estavam em jogo, terminaram com o mesmo número de Estados dos democratas - 25 -, depois de alcançar vitórias simbolicamente importantes. Uma delas ocorreu em Maryland, onde Kathleen Kennedy Towsend, a filha mais velha do ex-senador Robert Kennedy, perdeu uma disputa que parecia ganha por antecipação um mês antes do pleito. O último governador republicano de Maryland foi Spiro Agnew, nos anos 60, que se tornou depois vice-presidente de Richard Nixon e foi forçado a renunciar, sob a acusação de corrupção, num prenúncio do que viria a ser o escândalo do Watergate.

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