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Bush não obtém apoio do G-8 para isolar Arafat

Por Agencia Estado
Atualização:

Os dirigentes europeus presentes à cúpula do Grupo dos 8, no Canadá, negaram-se a apoiar a tese defendida pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush - em seu discurso na segunda-feira -, sobre a necessidade de remoção do presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat, do poder como precondição para a criação do Estado palestino. O G-8 é formado pelos sete países mais industrializados do mundo (EUA, Canadá, França, Itália, Alemanha, Japão e Grã-Bretanha) e a Rússia. No fim do dia, o Grupo emitiu um comunicado apoiando dois Estados, Israel e Palestina, lado a lado, com fronteiras seguras e reconhecidas. O texto cita a necessidade de reformas urgentes na Autoridade Palestina e sua economia, e de eleições livres e justas. Não menciona a saída de Arafat como requisito. Horas antes, porém, Bush, se mostrara satisfeito, dizendo ter obtido da maioria dos líderes europeus acolhida "muito positiva" a seu plano de paz. Os líderes do G-8 receberam bem, de fato, os principais pontos do plano, mas insistiram nas reuniões em que não cabe nem ao G-8 nem à comunidade internacional decidir quem deve liderar os palestinos. Elogios Arafat voltou a elogiar aspectos do plano de Bush, em entrevista ao jornal moscovita Izvestia, e ao mesmo tempo deixou claro que o aceita como "ponto de partida". Ele frisou, porém, que nunca vai "capitular". "Gostei de alguns pontos, como as palavras sobre a necessidade de acabar com a ocupação israelense e parar a construção de assentamentos (judaicos)." Em outro trecho, respondeu à referência de Bush a sua saída do poder. "Só os palestinos têm o direito de decidir quem são seus dirigentes. No começo do ano haverá eleições para presidente e o Parlamento. Vamos esperar o veredicto do povo." Arafat foi eleito em 1996. De acordo com os acordos de Oslo, nova eleição teria de ser realizada em 1999, ano em que seria criado o Estado palestino, o que não se confirmou. Resistência Em sua edição de hoje, o jornal britânico The Times destacou que o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair - principal aliado de Bush no Ocidente -, resistiu à pressão norte-americana sobre o futuro de Arafat. A questão causou o primeiro desentendimento sério entre Blair e Bush, pois o primeiro-ministro fincou pé no direito dos palestinos de reelegerem Arafat. Na entrevista à imprensa, ao lado de Bush, Blair frisou quarta-feira que nem seu país nem os EUA estavam tentando dizer aos palestinos quem eles deveriam escolher, mas deixou claro que negociações de paz "requerem um líder no qual se possa confiar". A Rússia é o país do G-8 que mais claramente se opôs à saída forçada de Arafat da cena política, embora tenha prezado o plano de Bush como "oportunidade para retomar o processo de paz". ?Apoio? Curiosamente, Bush expressou sua satisfação com o "apoio" do G-8 após se reunir com o presidente russo, Vladimir Putin, que não fez nenhum comentário sobre o tema. Putin dissera antes ser um "erro" a exclusão de Arafat. O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, foi o mais enfático no apoio a Bush. "Muitas pessoas estão convencidas de que Arafat deveria adotar uma posição generosa e sair de cena." No outro extremo ficou o chanceler alemão, Gerhard Schroeder. "Arafat continua sendo nosso interlocutor", insistiu. Fontes diplomáticas disseram ao Times que a decisão da Casa Branca de rejeitar qualquer papel para Arafat não foi fácil. Havia fortes divergências entre o Departamento de Estado e a Casa Branca. O porta-voz do Departamento, Richard Boucher, afirmou que os Estados Unidos não acreditam ser Arafat capaz de reformar as instituições antes das eleições, mas continuarão mantendo contatos "plenos" com dirigentes da AP. Ele indicou que o país vai marginalizar Arafat completamente.

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