Bush pressiona Congresso por apoio à guerra

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Por Agencia Estado
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Com as pesquisas de opinião indicando que os norte-americanos estão mais preocupados com o estado precário da economia de seu país do que com a ameaça que o regime de Saddam Hussein representa para sua segurança, o presidente George W. Bush fez um discurso de 30 minutos ao país, nesta segunda-feira à noite, para mobilizar o apoio da opinião pública à guerra que prepara para remover o líder iraquiano do poder. Bush chamou Saddam de "tirano assassino", disse que ele é "viciado em armas de destruição em massa" e está construindo armas nucleares. "Se permitirmos que ele faça isso, estaremos cruzando uma terrível fronteira (e) Saddam ficará em posição de chantagear qualquer um que se oponha à sua agressão", afirmou o líder americano em Cincinnati, Ohio - que foi escolhida como palco do pronunciamento por ser uma das cidades mais conservadoras dos Estados Unidos. As redes de TV recusaram a solicitação de tempo da Casa Branca para transmitir ao vivo o discurso, que foi transmitido apenas por emissoras a cabo. Segundo Bush, na ausência de uma ação militar que destrua a capacidade ofensiva do Iraque, Saddam "estaria em posição de dominar o Oriente Médio", de "ameaçar a América" e de, a qualquer momento, "passar tecnologia nuclear para os terroristas". Ele procurou estabelecer, na cabeça dos norte-americanos, uma conexão entre a ameaça que vê no regime de Saddam e os devastadores atentados de 11 de setembro de 2001. "Ainda que haja outros perigos no mundo, a ameaça do Iraque é única", porque "reúne os mais sérios perigos de nossa era em um lugar". O objetivo imediato do pronunciamento de Bush é pressionar os congressistas - especialmente os membros da maioria democrata que controla o Sernado - e, por tabela, o Conselho de Segurança da ONU a votar resoluções que autorizem e legitimem uma guerra preventiva contra o Iraque. A Câmara de Representantes iniciará nesta quarta-feira o debate de uma resolução autorizando o presidente a usar a força contra o Iraque. A medida deve ser aprovada esta semana. No Senado, onde há maior resistência, não se espera que a resolução passe antes da semana que vem. Figuras-chave da oposição continuaram nesta segunda-feira a cobrar explicações. Algumas horas antes do discurso, o senador John Edwards, democrata da Carolina do Norte e oponente potencial de Bush nas eleições de 2004, acusou o presidente de engajar-se em "unilateralismo gratuito" que pode minar a guerra contra o terrorismo. Para Edwards, que defende ações fortes contra Saddam, o problema é que a mensagem da administração "é, freqüentemente, que os outros (países) não contam". Segundo o senador, o governo dos EUA "corretamente pede aos nosso aliados que apoiem esforços vitais para os interesses da América, mas depois mostra desdém por iniciativas de cooperação e acordos importantes para eles". Embora dois terços dos americanos concordem com o governo em que Saddam representa uma ameaça, eles estão divididos quanto à urgência de uma resposta militar contra o homem forte de Bagdá e querem que Bush proceda com cuidado e sem pressa. A divisão se estende aos militares. Não por acidente, os vazamentos de informação à imprensa sobre as opções militares em estudo para a guerra contra o Iraque partiram do Pentágono. Pesquisa da rede CBS e do New York Times, divulgada neste domingo mostrou que o apoio a um incursão no Iraque cai fortemente, de 67% para 54%, diante da possibilidade de ela resultar num número substancial de baixas nas forças americanas. Cai ainda mais, para 49%, quando se considera a possibilidade de uma ação militar americana produzir grande número de mortos entre os civis no Iraque. Quase dois terços das pessoas ouvidas disseram que os EUA devem esperar, primeiro, pelo resultado do trabalho dos inspetores internacionais de armas, cujo retorno ao Iraque está sendo negociado. A maioria quer que Bush obtenha o aval do Congresso e das Nações Unidas antes de desencadear qualquer ação. Num sinal de que os norte-americanos não estão convencidos do argumento oficial, segundo o qual é essencial agir o quanto antes para destruir arsenais de armas químicas e biológicas do Iraque, e o potencial do país para construir uma bomba nuclear, 53% acham que Bush está interessado, principalmente, em tirar Saddam do poder e só 29% crêem que sua motivação seja a destruição do arsenal do Iraque.

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