Bush quer criar Departamento da "Segurança da Pátria"

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Por Agencia Estado
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Sob crescente pressão do Congresso dos Estados Unidos e da opinião pública norte-americana para explicar as falhas dos serviços de segurança e inteligência, que podem ter facilitado os ataques terroristas de 11 de setembro, o presidente George W. Bush propôs hoje a criação de um novo ministério - o Department of Homeland Security ou, numa tradução literal, o Departamento da Segurança da Pátria - para atuar nas áreas de proteção dos transportes e das fronteiras, a preparação e resposta a emergências, a prevenção contra ataques químicos, biológicos ou radiológicos, a proteção da infra-estrutura e a análise de informações. Bush pediu tempo às redes de televisão para explicar, à noite, sua decisão ao país. Trata-se da maior mudança institucional do executivo federal norte-americano desde 1947, quando o presidente Harry Truman criou o Departamento de Defesa e iniciou a reoriganização do governo para a Guerra Fria. O momento escolhido pelo presidente para fazer o anúncio deixou patente seu objetivo político mais imediato de retomar a iniciativa e manter o controle do debate sobre a guerra ao terrorismo, que lhe deu grande popularidade nos meses seguintes aos ataques mas, agora, virou problema. Revelações embaraçosas, nas duas últimas semanas, sobre o que o FBI e a CIA sabiam a respeito dos movimentos de alguns dos envolvidos dos ataques, antes de 11 de setembro, mudaram o clima da discussão e, pela primeira vez, deixaram a administração na defensiva. Coleen Rowley, agente do FBI em Minneapolis que fez as denúncias mais danosas até agora, criticando a conduta omissa de seus superiores antes e depois dos ataques, prestou depoimento hoje perante a Comissão de Justiça do Senado. Antes dela, o diretor do FBI, Robert Mueller, enfrentou os membros da comissão que lhe pediram e receberam garantias de que Rowley não sofrerá nenhum tipo de punição ou sabotagem profissional por ter rompido com a tradição burocrática de autopreservação e apontado as irregularidades cometidas pela agência. Em carta de 13 páginas que escreveu a Mueller, Rowley afirmou que, com um pouco de sorte, o FBI poderia ter evitado os ataques de 11 de setembro, se tivesse agido com base nas informações que possuía. Embora Rowley não tenha acrescentado nenhuma informação nova, deputados e senadores de uma comissão mista de inteligência que iniciou nesta semana o exame das falhas de comunicação e análise do FBI e da CIA, em sessão secreta, disseram na quarta-feira que os primeiros dois dias de audiências produziram novos fatos embaraçosos. Isso certamente também influiu na decisão da Casa Branca de anunciar hoje a criação do novo ministério da Segurança. O novo departamento será o 15º ministério pleno do gabinete presidencial dos EUA e não deverá ter problemas para receber a aprovação do Congresso, onde a dispersão de agências com responsabilidades semelhantes ou complementares por vários ministérios é alvo antigo de críticas. Mas o debate deverá consumir várias semanas. O líder da maioria democrata no Senado, Thomas Daschle, disse que quer conhecer os detalhes da proposta mas prometeu "trabalhar com a administração para criar" a nova posição. A expectativa, nos meios políticos em Washington, é que Tom Ridge, o ex-deputado e ex-governador da Pensilvânia, que assumiu um posto transitório de diretor da Segurança Interna criado por Bush depois dos atentados, será o primeiro ocupante do novo ministério, cujos planos traçou. O FBI e a CIA, que estão no centro da atual controvérsia política precipitada pela exposição das falhas na transmissão e análise dos indícios que ambas possuíam sobre o complô terrorista, antes de 11 de setembro, deverão permanecer onde estão no organograma do executivo: a CIA sob as ordens diretas da Casa Branca e o FBI, a maior das polícias federais dos EUA, no Departamento da Justiça. Pelos planos da Casa Branca, 22 outras agências federais hoje independentes ou alojadas em meia dúzia de ministérios (com um total de 170.000 funcionários), e seus respectivos orçamentos (que somam atualmente US$ 37,5 bilhões) o passarão à juridisção do novo ministério. Entre elas estão o Serviço Secreto e o Serviço de Aduana (atualmente no Departamento do Tesouro), e o Serviço de Imigração e Naturalização e a Patrulha de Fronteiras (Departamento de Justiça), a Guarda Costeria (Departamento de Comércio), o Serviço de Inspeção Sanitária de Animais e Plantas (Departamento de Agricultura), a Agência de Segurança dos Transportes (Departamento de Transportes) e a Agência Federal de Manejo de Emergência (independente). Antecipando parte do discurso de Bush, seu porta-voz, Ari Fleischer, reiterou a posição oficial da administração, de que, mesmo reconhecendo as falhas e omissões dos serviços de segurança, não havia como evitar os ataques que destruíram o World Trade Center e parte do Pentágono. "O presidente acredita que, a despeito de tudo o que se fez em várias entidades da administração, com grande sucesso, podemos e devemos fazer mais", disse Fleischer.

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