Bush: retirada do Iraque significaria vitória para inimigos da América

Faltando dois meses para a eleição legislativa de novembro, presidente americano iniciou série de discursos para justificar sua impopular estratégia na guerra ao terror

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Por Agencia Estado
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Em discurso nesta quinta-feira na cidade de Salt Lake City, o presidente dos EUA, George W. Bush, anteviu uma vitória na guerra contra o terrorismo e comparou a luta contra o fundamentalismo islâmico com a luta contra os nazistas e os comunistas. "A segurança do mundo civilizado depende de uma vitória na guerra contra o terror, e isso depende de uma vitória no Iraque", disse o presidente, em um discurso que está sendo interpretado como uma tentativa de angariar apoio para sua pouco popular estratégia de guerra há dois meses das eleições legislativas americanas. Em novembro, os estados Unidos vão às urnas renovar o Congresso, e é grande o risco do Partido Republicano, de Bush, perder o controle das duas casas legislativas devido o rechaço dos eleitores às conseqüências da guerra no Iraque. Ainda assim, o presidente considerou que uma vitória no Iraque será "um grande triunfo ideológico na ´luta do século 21´". Em resposta à investida do presidente republicano, membros do partido democrata americano acusaram o presidente de insistir em políticas falidas que só enfraqueceram a guerra ao terrorismo. Iniciando a série de discursos sobre a guerra, na convenção nacional da Legião Americana, nesta quinta-feira, Bush admitiu que o mundo vive tempos conturbados - marcados pela violência sectária no Iraque, disputas na fronteira entre Israel e Líbano e a suposta trama terrorista para explodir aviões entre os EUA e a Inglaterra. Mas ele argumentou que o derramamento de sangue e ameaças fazem parte de uma luta ideológica entre a liberdade e o extremismo, que os EUA não devem abandonar. E advertiu que se os opositores à guerra no Iraque vencerem a discussão política e conseguirem fazer com que as tropas americanas sejam retiradas do país, haveria um desastre no Oriente Médio com repercussões em todo o mundo. "Muitas dessas pessoas são sinceras e patrióticas mas elas poderiam - elas não poderiam estar mais enganadas", ponderou o presidente. "Se os EUA se retirarem do Iraque antes de ele poder se defender por si só, as conseqüências seriam totalmente previsíveis, e totalmente desastrosas. Estaríamos entregando o Iraque para nossos piores inimigos - os comparsas de Saddam, grupos armados ligados ao Irã e terroristas da Al-Qaeda de todo o mundo que repentinamente teriam uma base de operações bem mais valiosa do que o Afeganistão do Taleban". "Alguns políticos olham para os nossos esforços no Iraque e vêem um desvio do que deveria ser a guerra ao terror", disse o presidente. "Isso soaria como boa notícia para Osama bin Laden, que já proclamou que a ´terceira guerra mundial´ está sendo levada no Iraque." Audiência receptiva Bush escolheu uma audiência receptiva em Utah, um dos estados mais conservadores dos EUA, para dar início à série de discursos eleitorais defendendo sua estratégia de guerra. Mesmo assim, cerca de 4 mil manifestantes antiguerra se reuniram no centro da cidade. Apenas 33% dos americanos aprovam a maneira como Bush lida com a guerra, segundo uma pesquisa AP-Ispos. Não por menos, como em todas as eleições desde os ataques do 11 de Setembro, a segurança nacional continua sendo o assunto dominante na campanha atual. Bush disse que a violência no Oriente Médio e o complô em Londres fazem parte do mesmo movimento que resultou nos atentados do 11 de Setembro. "Vocês são veteranos, vocês já viram esse tipo de inimigo antes", explicou Bush. "Eles são sucessores dos fascistas, dos nazistas, dos comunistas e de outros totalitários do século 20. E a história mostra qual será o resultado". "Esta guerra vai ser difícil. Esta guerra vai ser longa. E esta guerra vai terminar com a derrota dos terroristas", adiantou. "Se deixarmos as ruas de Bagdá antes de o trabalho estar feito, teremos que encarar terroristas nas nossas próprias cidades", disse Bush. "Manteremos o rumo, ajudaremos no sucesso dessa jovem democracia iraquiana e a vitória no Iraque será um grande triunfo ideológico na luta do século 21." Mas nem todos no conservador Estado de Utah apóiam o presidente. O prefeito de Salt Lake City, Rocky Anderson, um democrata, liderou os 4 mil manifestantes em demonstrações de protesto pelas ruas da cidade na quarta-feira, quando chamou Bush de "um presidente desonesto, belicista e violador dos direitos humanos". Bush obteve sucesso, e conseguiu apoiadores em discursos anteriores sobre guerra, quando invoca a memória dos ataques do 11 de Setembro e retrata os conflitos atuais como uma extensão dessa batalha ideológica. É a terceira vez em menos de um ano que Bush faz uma série de discursos sobre o Iraque e terrorismo.

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