PUBLICIDADE

Bush troca palavras e assusta mercados no Japão

Por Agencia Estado
Atualização:

Dado a tropeçar nas palavras, o presidente George W. Bush cometeu uma séria gafe com grande repercussão no combalido mercado financeiro japonês nesta segunda-feira. Depois de ter conseguido um impacto positivo em favor do primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi, afirmando a confiança dos EUA em sua capacidade para tirar o país da crise econômica, Bush provocou um surto de insegurança e uma disparada do dólar ao dizer, numa coletiva em Tóquio, que havia discutido a "desvalorização". Na verdade, Bush e Koizumi haviam discutido o quadro de deflação (queda nos preços em decorrência da crise na demanda) que afeta a economia japonesa, mas quando aflitos assessores da Casa Branca corrigiram o erro, o estrago já estava feito. Ainda que a maioria dos operadores do mercado tenha se dado conta de que se tratava de uma confusão semântica, alguns preferiram precaver-se contra a possibilidade de o desacreditado Koizumi ter mesmo uma estratégia de desvalorização e inflação do iene para tirar seu país da recessão, e a moeda japonese caiu momentaneamente. A Bolsa de Tóquio fechou com um avanço de apenas 0,45%, depois de ter registrado um ganho de 7% na semana anterior, que fora alimentado pela expectativa de que a visita do presidente americano daria novo alento político para que primeiro-ministro colocasse em marcha as reformas econômicas que anunciou mas até hoje não executou. Reforço Bush esforçou-se nesse sentido. Ao reafirmar a importância da aliança EUA-Japão para a paz e a prosperidade na Ásia, em discurso na Dieta, o líder americano disse que considera Koizumi um amigo "em cuja palavra eu confio e cujo conselho eu procuro". Ele lembrou que uma ação decisiva do primeiro-ministro para levar adiante as reformas necessárias para tirar o Japão da crise tem implicações não apenas para o próprio país e seus vizinhos da Ásia, mas também para os EUA, que estão tentando superar uma recessão. "É importante que a segunda economia do mundo cresça, pois isso ajudará a região e o mundo", disse o presidente americano. Segundo Bush, durante seu encontro de três horas com Koizumi, o líder japonês tomou a iniciativa de falar sobre os problemas econômicos de seu país, antes de ser perguntado, e disse o que ele queria ouvir. "Meu principal foco no encontro era julgar a intenção, o desejo e a disposição (de Koizuimi) de trabalhar duro e executar uma agenda ambiciosa", disse. "Tendo ouvido o primeiro-minsitro longamente, hoje, e tendo olhado nos seus olhos, sinto-me muito confiante de que isso é exatamente o que ele fará". "Eixo do mal Nas conversas a portas fechadas, Koizumi transmitiu a Bush a apreensão de seu país com a linguagem que ele adotou contra o "eixo do mal" formado pelo Iraque, Iran e Coréia do Norte. Na entrevista coletiva, ele disse que interpreta a expressão "eixo do mal "como um reflexo" da firma determinação do presidente Bush de dos EUA de luta contra o terrorismo". O presidente dos EUA moderou um pouco a linguagem da campanha contra o terrorismo. Ele disse que sua preferência é por "resolver todas as questões pacificamente, seja com o Iarque, seja com o Iran ou com a Coréia do Norte". Como o Japão tem relações diplomáticas com o Irã e os EUA não as tem, assessores da Casa Branca informaram que Bush pediu a Koizumi para fazer chegar a Teeran a mensagem de Washington e ajudar a encontrar uma solução pacífica para a questão do terrorismo. "Todas as opções" contra o terrorismo Mas o próprio Bush fez questão de dizer que foi franco com o primeiro-ministro japonês ao tratar do tema, dizendo-lhe que "todas as opções estão sobre a mesa" e serão consideradas para neutralizar as redes de células terroristas e os programas do Iran, Iraque e Coréia do Norte de desenvolvimento de armas de destruição em massa. "Nós também dissemos que eles não devem se enganar, por que nós defenderemos nosso interesses e defenderemos o povo americano", disse Bush. "Além disso, não há nada sobre o que conversar", afirmou. Bush encerrou sua visita ao Japão com um almoço com o imperador Akihito no palácio imperial e partiu para a Coréia do Sul, onde fará, a partir desta terça, a escala mais controvertida da viagem. Retórica agressiva Sua retórica agressiva contra a Coréia do Norte, inaugurada por uma frase de seu discurso anual ao Congresso, no final do mês passado, foi recebida com espanto e consternação pelo governo do presidente Kim Dae Jung, que a considera contraproducente para a estratégia de diálogo e reconciliação que iniciou há dois anos com Pyongyang. Como parte dos preparativos de sua visita, Bush deu uma entrevista a um programa matinal de televisão em Seul e disse que seu governo mantém a oferta de negociações incondicionais com a Coréia do Norte, feita em junho e até hoje sem resposta. Mas, no ambiente crispado criado pelas declarações iniciais do líder americano, estudantes e militantes de esquerda saíram às ruas para protestar contra sua visita e um deputado do partido do governo, Song Sok Chan, provocou uma troca de empurrões no parlamento acusando Bush de ser "o mal incarnado que quer tonar a divisão da Coréia permanente chamando a Coréia do Norte de parte do mal". A parte mais visível da visita do líder americano à Coréia do Sul será a visita aos 37 mil soldados americanos que garantem a segurança da zona desmilitarizada que separa os dois países desde a guerra inconclusa que eles travaram cinqüenta anos atrás e que os mantêm, até hoje, em estado de beligerância.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.