Bush volta à cena para defender seu legado

Ex-presidente inaugura biblioteca e tenta melhorar imagem do Partido Republicano

PUBLICIDADE

Por Denise Chrispim Marin , CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:

Depois de quatro anos e de duas eleições longe dos holofotes, o ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush voltou à cena política para defender seu legado. Na última quarta-feira, em Dallas, ele recebeu elogios de três outros ex-chefes de Estado e de seu constrangido sucessor, Barack Obama, durante a inauguração de sua biblioteca presidencial. O retorno de Bush à cena política americana se dá em um momento de reagrupamento das correntes republicanas para as eleições parlamentares de 2014 e presidenciais de 2016. Jeb Bush, ex-governador da Flórida apontado como possível candidato à Casa Branca, dependerá essencialmente da melhoria da imagem de seu irmão para ter sucesso na campanha. George W. Bush dedicou-se à pintura de quadros e a palestras bem remuneradas nos últimos quatro anos. Hoje, tem aprovação de 47% dos americanos, segundo recente pesquisa do Washington Post, porcentual equivalente ao de Obama. Michael Barone, analista político conservador, não tem dúvidas de que a criação da Biblioteca Bush e o evento de inauguração servirão para melhor a imagem do ex-presidente. O prédio de US$ 250 milhões, administrado pelo Arquivo Nacional, dará aos visitantes e pesquisadores um recorte favorável ao governo Bush. "Embora não estivesse fisicamente presente, seu nome tem estado muito mais no centro dos debates políticos do que o de qualquer outro presidente americano", disse Barone. "Nenhum presidente falou mais negativamente de seu antecessor como Obama. Talvez só Franklin Roosevelt (1933-1945) sobre Herbert Hoover (1929-1933)."O retorno de Bush aos holofotes, entretanto, não chega a tremer os pilares da política americana. "Ele não tem interesse em ter mais nenhum papel na política e somente prejudicará as ambições de seu irmão pela presidência", afirmou Thomas Mann, especialista do Brookings Institution.A inauguração da biblioteca levantou uma nova discussão sobre as decisões mais controvertidas tomadas por Bush, em especial, sobre a invasão do Iraque e a demora em reagir ao desastre causado pelo furacão Katrina, em 2005."Eu acredito que a liberdade é uma bênção de Deus. Nós expandimos a liberdade em casa ao elevarmos os padrões de nossas escolas e reduzirmos os impostos para todos. Nós liberamos uma nação da ditadura e tornamos pessoas livres da aids. E, quando a liberdade foi atacada, nós tomamos decisões difíceis para manter a segurança do nosso povo", afirmou Bush.Elogios. Obama, que no poder adotou parcialmente estratégias criadas por Bush, como o aumento de soldados no Iraque e no Afeganistão e o uso de aviões não tripulados (drones), elogiou o antecessor. "Ele é um bom homem", disse. "Ele trabalha com seriedade."Os ex-presidentes Jimmy Carter (1977-1981), George H. Bush (1989-1993) e Bill Clinton (1993-2001) também compareceram. Carter elogiou Bush por ter ajudado "os mais necessitados do mundo". Clinton disse que não teria conseguido aprovar no Congresso o plano de alívio contra a aids, como Bush conseguiu. O próprio Obama afirmou que a tentativa de seu antecessor promover uma reforma imigratória, abortada por seus colegas republicanos no Congresso, abriu caminho para seu governo insistir na aprovação de nova legislação sobre o tema. "Se nós conseguirmos, será em grande parte graças ao trabalho duro do presidente George W. Bush", reconheceu Obama.Segundo Mann, mesmo com os discursos generosos de seus pares e a passagem do tempo, Bush terá dificuldades em mudar sua imagem. Os americanos continuam a pagar pelos erros cometidos por ele. Entre os mais sérios estão a redução de impostos, a guerra do Iraque e a conversão do superávit nas contas públicas em déficit. Mas, sobretudo, segundo Mann, por ter tornado o conservadorismo moderado um alvo de escárnio entre os radicais da direita. "Seus instintos eram ruins e ele demonstrou pouco interesse em assuntos e política pública", afirmou o analista.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.