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Bustani é afastado da Opaq

Por Agencia Estado
Atualização:

José Maurício Bustani não resistiu aos Estados Unidos. Hoje, em Haia, uma votação realizada pelos países da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) afastou o diplomata brasileiro do cargo de diretor da entidade. Dois meses depois do início da campanha da Casa Branca contra o brasileiro, o resultado da votação de refletiu o poder de Washington. Por 48 votos contra Bustani, 43 abstenções (a maioria dos países latino-americanos) e apenas sete votos a favor do brasileiro, entre eles a China, Rússia, México, Irã, Bielorússia, Cuba e Brasil. Os Estados Unidos precisavam de 66% dos votos para conseguir afastar Bustani, mas acabaram conseguindo 87%. "Foi um linchamento. Fui trucidado confortavelmente", reconheceu Bustani. O brasileiro se surpreendeu pela rapidez do processo de votação. "Estou decepcionado. Não houve sequer uma debate sobre a base legal de minha saída. Esse é o efeito do rolo compressor da atuação dos Estados Unidos", afirmou o diplomata. Segundo ele, os países votaram "acuados e aterrorizados". Entre as abstenções, a surpresa foi a França, que não seguiu as orientações dos demais governos europeus de apoiar os Estados Unidos. "Os europeus pediram para que eu saísse", disse Bustani. Ao final da votação, Bustani deixou o centro de conferência de Haia e se dirigiu para sua residência. Na saída, foi aplaudido pelas delegações, com exceção dos diplomatas de Washington. "Não me arrependo de nada que fiz", afirmou. Os Estados Unidos alegavam que a administração de Bustani tinha levado a Opaq ao caos financeiro e que a Casa Branca havia perdido a confiança no embaixador. Para Bustani, porém, os reais motivos foram sua recusa em aceitar as ordens da Casa Branca e o estilo unilateral adotado por John Bolton, um dos diplomatas norte-americanos encarregados dos temas de desarmamento. "Eles (norte-americanos) queriam me dar ordens, sobre os funcionários e sobre as contas da Opaq. Eu disse que isso eu não aceitaria", afirmou. Outro fator, na avaliação de Bustani, foi sua tentativa de estabelecer um diálogo com o Iraque. "Eu buscava um diálogo com aqueles países que supostamente fazem parte do Eixo do Mal. Mas será que os Estados Unidos querem terminar mesmo com o eixo", questiona o brasileiro. Na avaliação de Bustani, a crise na Opaq não afetará as relações entre o Brasil e os Estados Unidos. Nos últimos dias, os diplomatas brasileiros fizeram questão de mostrar que estavam apoiando Bustani e que estavam fazendo gestões com outros países para evitar a saída do brasileiro. Para funcionários da Opaq, porém, a atuação do Itamaraty foi tarde demais e alguns chegam a dizer que o Brasil atuou exatamente da forma que os Estados Unidos gostariam. Futuro Hoje, os países continuarão a se reunir em Haia com o objetivo de encontrar um substituto a Bustani. A tarefa, porém, não será fácil. Os próprios delegados norte-americanos reconhecem que convidaram uma série de pessoas e que elas teriam se recusado. Na avaliação da Casa Branca, a recusa ocorre devido aos problemas financeiros da Opaq. Mas Bustani tem outra opinião: "Quem vai querer essa posição sabendo que se não seguir as determinações dos Estados Unidos estará fora? Essa pessoa terá que provar todos os dias que não é pau-mandado de Washington. Eu não gostaria de estar na pele dele". Ao ser perguntado sobre o que faria agora, o brasileiro respondeu: "vou começar a empacotar minhas coisas". Bustani enviou ainda ontem um comunicado ao Itamaraty para se inserir no quadro de funcionários do ministério. "Estou à disposição do presidente da república", concluiu. No Itamaraty, a informação é de que Bustani terá sorte na designação de seu novo posto, já que a "dança das cadeiras" dos diplomatas começa a partir do segundo semestre.

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