Caças da Síria atacam território libanês pela primeira vez em 2 anos de levante

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Por BEIRUTE
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Caças sírios atacaram alvos em território do Líbano, ontem, segundo informou a Agência Nacional de Notícias Libanesa. Foi a primeira vez desde o início da guerra civil na Síria, há exatos dois anos, que a Força Aérea do ditador Bashar Assad cruzou a fronteira para atacar áreas suspeitas de esconder rebeldes no país vizinho. O breve despacho da agência de notícias libanesa informou que "aviões da Força Aérea da Síria" atacaram a área de Wadi al-Khayl Valley, próxima da cidade de Arsal, na fronteira entre os dois países. Até a noite de ontem, no entanto, não havia informações sobre danos ou mortes provocados pelos ataques e não estava claro se haviam realmente atingido uma área dentro do Líbano. A região montanhosa e de difícil controle é conhecida por ter uma fronteira permeável. É considerada um santuário de insurgentes sírios e abriga uma população que se opõe ao regime de Assad.O canal de TV Al-Manar, controlado pelo grupo xiita libanês Hezbollah, que apoia Assad, confirmou os ataques e disse que os caças tinham como alvo dois galpões utilizados pelas forças anti-Assad. A Agência France Presse, citando anonimamente um funcionário de segurança do Líbano, informou que pelo menos quatro mísseis foram disparados pelas forças de Assad contra alvos libaneses. As tropas sírias já chegaram a trocar tiros e a disparar granadas de morteiro contra rebeldes do outro lado da fronteira, mas jamais havia usado aviões de guerra para atacar alvos suspeitos no território vizinho. Alerta. O governo sírio não confirmou os ataques. Mas na quinta-feira havia alertado o Líbano para possíveis ações militares contra o que chamou de incursões repetidas em território sírio de "gangues terroristas" - como o regime de Assad se refere à oposição armada - vindas do Líbano.O alerta foi feito em um telegrama diplomático entregue ao Líbano por meio da Embaixada da Síria em Beirute. Diante de um longo histórico de conflitos com o país vizinho, o Líbano tem procurado manter-se neutro em relação ao conflito na Síria. Ainda assim as tensões sectárias foram acentuadas pelo conflito, agravadas em parte pelo fluxo de mais de 300 mil sírios em busca de refúgio no Líbano. Muitos deles são sunitas, assim como o são a maioria dos insurgentes sírios. Assad é alauita, minoria ligada aos xiitas.O ataque foi o terceiro episódio de tensão na fronteira nas últimas semanas e é um sinal de como o conflito sírio pode desestabilizar todo o Oriente Médio.No dia 4, as forças de oposição a Assad mataram dezenas de soldados sírios que haviam cruzado a fronteira em busca de refúgio temporário no oeste do Iraque. Dois dias depois, os insurgentes prenderam um grupo de soldados das Nações Unidas que patrulhavam as Colinas do Golan, território sírio ocupado por Israel em 1967. Foi a primeira vez que forças de paz internacionais foram envolvidas no conflito sírio. Os soldados foram soltos três dias depois.Conflito interno. A notícia do possível ataque com caças dentro do território libanês coincidiu com a intensificação do conflito interno na Síria. A violência do confronto entre forças leais a Assad e os opositores do regime chegou à capital, Damasco, e subúrbios do entorno. Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, grupo de oposição a Assad com sede em Londres, pelo menos 26 pessoas foram mortas ontem. Três granadas de morteiro teriam atingido o coração da capital, centro de poder do presidente Bashar Assad. Uma das granadas caiu no distrito de Muhajireen onde fica o Palácio Tishreen, uma das três residências oficiais de Assad, segundo o canal de TV pró-governo, Al-Ikhbariya. Ativistas da oposição síria também registraram ataques com granadas de morteiro nas proximidades das agências de segurança sírias, na região de Al-Barakmeh, e junto do Ministério de Educação Superior no bairro de Mazzeh. Uma ponte que liga Mezzeh a Mount Qasyoun teria sido destruída. Segundo a ONU o número de mortos nos conflitos desde o início da guerra civil na Síria, em março de 2011, chega a 70 mil. Milhões de pessoas já deixaram o país. / AP e NYT

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