26 de outubro de 2012 | 03h00
A maré pode ser resumida na capa de edição de ontem do jornal Libération. Em manchete, ilustrada com uma foto de Hollande e Ayrault, o jornal estampou: "Os aprendizes". A reportagem abordava a última falha de comunicação cometida pelo premiê. Na quarta-feira, Ayrault anunciou que uma lei habitacional proposta pelo governo fora barrada pelo Conselho Constitucional. O problema é que o comitê de sábios ainda não se havia pronunciado, o que causou um choque entre poderes.
No Parlamento, a oposição acusou o premiê de amadorismo. Ayrault teria sido omisso diante dos problemas do país e seria incapaz de enfrentá-los. Ontem, ele respondeu. "A política rasteira e as crônicas cotidianas de demolição não me interessam. O que me interessa é a França", disse. "Os que dirigiram o país durante dez anos e o deixaram no estado que conhecemos deveriam se conter."
As circunstâncias da chegada ao poder dos socialistas foram de fato ruins, com a França mergulhada na estagnação econômica e com milhares de demissões represadas pelas maiores empresas do país, que não demitiam à espera das eleições de maio.
Desde que assumiu, porém, Hollande vem ignorando suas promessas de campanha. No campo econômico, abandonou o discurso progressista e adotou a austeridade para equilibrar as contas públicas. No campo político, cancelou a reforma que daria direito de voto aos estrangeiros em eleições locais. Ele mantém uma relação ruim com a chanceler alemã, Angela Merkel, e se mostra indiferente quanto à guerra civil na Síria. Pesquisas mostram que só entre 40% a 44% dos franceses têm uma opinião favorável a Hollande - índice que Sarkozy só alcançou com um ano de governo.
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