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Cai o secretário da Justiça de Bush

Sob pressão e envolvido em escândalos, Gonzales soma-se a grupo de amigos do presidente que deixaram o governo

Por Patrícia Campos Mello
Atualização:

Washington - Depois de meses de desgaste no cargo, o secretário de Justiça dos Estados Unidos, Alberto Gonzales, renunciou ontem. Um dos melhores amigos do presidente George W. Bush, Gonzales estava envolvido em polêmicas como a demissão de promotores por motivos políticos e escutas sem autorização judicial na chamada guerra ao terror. Ele vinha sendo alvo de constantes pedidos de renúncia por parte dos democratas. "Al Gonzales é um homem íntegro, decente e de princípios; eu aceitei sua renúncia com relutância", disse o presidente Bush. "É triste viver em uma época em que uma pessoa como Alberto Gonzales é impedida de fazer um trabalho importante porque seu nome foi arrastado para a lama por motivos políticos." Gonzales deixa o cargo no dia 17 de setembro. Com a saída do secretário de Justiça, Bush fica ainda mais solitário no poder - nos últimos tempos, deixaram o governo vários de seus colaboradores próximos, como Donald Rumsfeld, Paul Wolfowitz, Dan Bartlett e, duas semanas atrás, Karl Rove. A situação de Gonzales ficou insustentável após uma série de depoimentos confusos que ele deu ao Congresso. Ele afirmou "não me lembro" ou "não tenho lembrança disso" mais de cem vezes em depoimentos, além de se contradizer constantemente. Alguns congressistas acusavam o secretário de Justiça de perjúrio, afirmando que ele mentia na tentativa de diminuir a pressão da Casa Branca sobre seu departamento. Mesmo assim, muitos analistas apostavam que Bush não iria ceder à pressão do Congresso para demiti-lo. Mas o anúncio de hoje mostra que o presidente optou por um caminho mais pragmático - livrou-se de passivos políticos, como Rove e Gonzales, para conseguir fazer alguma coisa nos 17 meses que restam em seu mandato. Gonzales não explicou o motivo de sua saída e não respondeu a perguntas da imprensa. Ele será substituído interinamente pelo procurador-geral Paul Clement. Já circulam alguns nomes de candidatos ao posto - o mais cotado é Michael Chertoff, atual secretário de Segurança Interna. Mas seu nome pode enfrentar resistência no Senado, que precisa aprovar a indicação da Casa Branca, por causa do fiasco da ação de sua pasta após a passagem do furacão Katrina em New Orleans, em 2005. Outros nomes são Larry Thompson, ex-vice-secretário de Justiça, o ex-procurador-geral Ted Olson, e Christopher Cox, presidente da SEC, a comissão de valores mobiliários americana. "Com a saída de Gonzales, será possível despolitizar e melhorar a reputação da secretaria de Justiça", disse Kent Alexander, ex-promotor-geral em Atlanta e atual vice-presidente da Universidade Emory. Gonzales foi o mais alto funcionário de origem hispânica a servir ao governo dos EUA. "Eu vivi o sonho americano", disse Gonzales, agradecendo ao amigo Bush pela oportunidade de atuar no setor público - os dois estavam juntos há 13 anos, desde que Bush o contratou de um escritório de advocacia para ser seu conselheiro no governo do Texas, em 1995. Para os democratas, Gonzales continuava a se comportar como se fosse advogado pessoal de Bush, em vez de agir como defensor independente da Constituição. "Levou tempo demais para ele ser demitido, mas finalmente foi", disse o senador democrata Charles Schumer. "Ele não tinha bom julgamento nem coragem de dizer não a Karl Rove", emendou o senador Harry Reid, líder da maioria no Senado. CONTROVÉRSIAS *Espionagem - Após o 11 de Setembro, desenvolveu a base legal para justificar as escutas de cidadãos americanos *Guerra ao terror - Em 2002, afirmou que Bush tinha "autoridade constitucional" para negar status de prisioneiros de guerra a supostos membros da Al-Qaeda e do Taleban *Tortura - Sob seu pedido, Departamento de Justiça elaborou memorando permitindo a Bush burlar convenções nacionais e internacionais contra a tortura. Mais tarde, memorando foi anulado *Guerra no Iraque - Antes do conflito, argumentou que Bush não tinha obrigação legal de obter aprovação do Congresso para invadir o Iraque *Procuradores - Em dezembro, demitiu oito procuradores federais, levantando a suspeita de que a medida teve motivações políticas

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