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Calma na América Latina é temporária

Países que se opõem aos governos bolivarianos avançam e os da esquerda radical ainda conseguem manter suas posições

Por Jorge Castañeda
Atualização:

PROJECT SYNDICATEA gangorra perpétua da geopolítica latino-americana está mais ativa do que nunca. Os chamados países da "Americas-1" ? os que são neutros no confronto entre EUA e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, (e Cuba), e os que se opõem abertamente aos governos bolivarianos da Bolívia, Equador, Cuba, Nicarágua e Venezuela ? avançam lentamente. A esquerda radical da "Americas-2" vem recuando aos poucos, mas ainda consegue manter suas posições e acabar com qualquer tentativa para reduzir sua influência. Mas essa relativa calma nesse conflito ideológico, político e diplomático entre os dois grupos é apenas temporária. Seria mais uma calmaria antes do vendaval que vem se aproximando. A Nicarágua é um país muito pequeno e pobre para representar alguma ameaça, mas sempre traz problemas. O presidente Daniel Ortega quer se manter perpetuamente no cargo e está disposto a usar todo tipo de estratagema para isso. Cedo ou tarde, esse será um grande desafio para o Hemisfério. Ou a região vai preferir desviar os olhos? Nesse caso, essa comunidade hemisférica provará ser realmente inconsistente, diante de um segundo problema: Honduras. No dia 7, países bolivarianos conseguiram impedir o retorno de Honduras à OEA, apesar das eleições livres e justas realizadas no país em novembro. Então, o que vai se fazer? Ignorar a implosão democrática iminente da Nicarágua e a ausência de democracia em Cuba? Ou adotar os mesmos critérios aplicados no caso de Honduras para a Nicarágua, Cuba e Venezuela? Infelizmente, os dois únicos países que podem ter um papel importante para amainar as crescentes tensões ficarão passivos. O México está consumido por sua guerra fracassada contra os cartéis da droga. E o Brasil também está paralisado, em parte por causa da campanha para a próxima eleição presidencial, e em parte por causa dos recentes revezes diplomáticos do governo. O presidente Lula quis promover seu país no cenário mundial como uma potência emergente, mas não foi bem-sucedido. Sua principal meta ? conseguir uma cadeira permanente para o Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas ? está mais distante do que nunca, e seus objetivos mais modestos não tiveram sucesso maior. A tentativa de Lula, junto com a Turquia, para intermediar um acordo entre Irã e o Ocidente, fracassou quando um novo bloco de sanções ao Irã foi aprovado. O Brasil acabou sozinho, com a Turquia, votando contra as sanções, e sem nada para mostrar por seus esforços de mediação. O Brasil sempre relutou em se envolver nos conflitos internos de seus vizinhos. Agora que se aventurou do outro lado do mundo e teve pouco sucesso, é improvável que deseje levar adiante outros projetos fúteis, como a reforma da OEA, ou evitar um novo confronto entre Venezuela e Colômbia, ou procurar garantir eleições livres e justas na Nicarágua. Embora a América Latina consiga continuar resistindo ao vendaval econômico global, a calmaria diplomática na região é enganadora. Qualquer temporal mais forte pode pôr fim a ela. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO É EX-CHANCELER MEXICANO

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