Câmara aprova texto sobre uso recreativo de maconha no México

Tendência é que o Senado aprove a legalização da droga e o país siga o exemplo de Uruguai, Canadá e de vários Estados americanos; no caso mexicano, a peculiaridade é que o narcotráfico ainda é um dos principais problemas do país

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Por Redação
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CIDADE DO MÉXICO - A Câmara dos Deputados do México aprovou nesta quarta-feira, 10, o texto que regulamenta o consumo, cultivo e comércio de maconha para fins recreativos em todo o território, que deverá ser ratificada pelo Senado antes de 30 de abril. Com 316 votos a favor, 129 contra e 23 abstenções, os deputados mexicanos deram mais um passo para transformar o país no terceiro das Américas a legalizar a droga – ao lado de Uruguai e Canadá. 

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Até 2012, no início do mandato do presidente Enrique Peña Nieto, a legalização da maconha no México era considerada uma utopia. O Partido Revolucionário Institucional (PRI), que havia acabado de vencer as eleições, era radicalmente contra. No entanto, um movimento popular ao norte do Rio Grande começou a mudar a posição do governo mexicano. 

Por meio de iniciativas populares, os Estados do Colorado e de Washington, nos EUA, legalizaram o consumo de maconha, aumentando a pressão para que Peña Nieto mudasse de direção. “Precisamos abrir um novo debate sobre a legalização”, disse o presidente. 

Discussão para regularizar a maconha no México começou com a aprovação em 2015 do fornecimento de derivados da substância para várias crianças doentes e uma decisão histórica da Suprema Corte emitida em novembro Foto: Anthony Bolante/Reuters

Luis Videgaray, futuro chanceler do México e então assessor de Peña Nieto, afirmou que não fazia sentido manter a repressão ao consumo de drogas se o maior consumidor do mundo estava liberando o uso da maconha. “Não podemos tratar como ilegal um produto no México que em parte dos EUA já é legal.”

Quando Peña Nieto passou a faixa presidencial para o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, em 2018, a legalização passou a ser apenas uma questão de tempo. Na ocasião, o partido Movimento Regeneração Nacional (Morena), de Obrador, obteve maioria nas duas Casas do Congresso, facilitando a aprovação de leis mais progressistas. 

A iniciativa aprovada hoje, que também busca regular o uso científico e industrial da maconha, foi debatida na Câmara dos Deputados, após ter sido aprovada no Senado em novembro. “A lei vai contribuir para alcançar a paz”, disse o deputado Rubén Cayetano durante a intervenção da bancada governista. Agora, o texto deve voltar ao Senado para uma última discussão, já que os deputados modificaram grande parte do conteúdo. No entanto, é quase certo que se tornará lei em razão da maioria do Morena.

A lei representa um marco para o México, onde a violência ligada ao narcotráfico deixa milhares de mortos a cada ano. O texto permite o cultivo próprio e comunitário, por meio de cooperativas. A proposta autoriza ainda o porte lícito de até 28 gramas por pessoa, além do cultivo caseiro de no máximo oito plantas. Diz também que os menores de 18 anos não podem ter acesso à cannabis e proíbe o consumo em áreas de trabalho ou escritórios.

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Entre as modificações dos deputados, está a rejeição em criar um instituto regulador do mercado, como propôs o Senado. A responsabilidade recairia sobre a Comissão Nacional contra as Dependências Químicas (Conadic), do Ministério da Saúde. Com a aprovação do texto, o México, de 126 milhões de habitantes, está a um passo de se tornar o maior mercado de maconha do mundo.

“Teoricamente, sim, criará o maior mercado legal do mundo pela capacidade de produção que o México tem, porque a maconha cresce em condições naturais sem os investimentos energéticos que fazem, por exemplo, no Canadá”, afirma Lisa Sánchez, diretora da ONG México Unido Contra a Delinquência.

A regulamentação da maconha surge em cumprimento de uma decisão do Supremo Tribunal, de outubro de 2019, que declarou “inconstitucional a proibição absoluta” de seu consumo recreativo. A corte já havia emitido, em 2015, uma série de sentenças que consideravam ilegal proibir o uso para maiores de idade. / AFP e EFE

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