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Cameron agrupa 16 mil policiais em Londres e violência se espalha pelo país

Por Andrei Netto
Atualização:

ENVIADO ESPECIAL / LONDRESA Grã-Bretanha viveu ontem a sua quarta noite de saques, incêndios e choques entre a polícia e jovens moradores da periferia. Em metrópoles como Birmingham e Manchester, os distúrbios - que causaram a morte de uma pessoa - voltaram a ocorrer, enquanto em Londres o governo mobilizou 16 mil policiais. Criticado por sua apatia, o primeiro-ministro David Cameron interrompeu suas férias na Toscana e convocou o Parlamento. Os primeiros focos de violência na noite de ontem ocorreram em cidades da periferia de Birmingham e de Manchester. Por volta de 20 horas, os ataques promovidos pelos jovens contra lojas e veículos ganharam amplitude. Desde o sábado, 685 pessoas foram presas e 111 policiais foram feridos nos confrontos.Na madrugada de ontem, em Croydon, ao sul de Londres, um jovem de 26 anos foi encontrado baleado em um veículo e morreu a caminho do hospital. Ataques ocorreram ontem em bairros centrais da capital, como Notting Hill e Camden Town. Em regiões como King"s Cross, norte de Londres, carros de polícia circulavam em alta velocidade, e lojas fecharam as portas. Autoridades recomendaram aos moradores que se recolhessem.As rebeliões, organizadas via redes sociais e mensagens de texto por celular, abriram uma crise de confiança na segurança pública. Pressionado, Cameron retornou ao país e anunciou duas medidas: a convocação urgente do Parlamento e o destacamento de 10 mil policiais para ajudar os 6 mil que trabalham em Londres normalmente. "Se vocês têm idade suficiente para cometer crimes, têm idade suficiente para ser punidos", disse o premiê. O deputado David Lammy pediu a suspensão do serviço de mensagens cifradas do BlackBerry para dificultar a convocação dos ataques.Os agentes foram autorizados a usar balas de borracha e cassetetes contra a multidão. Nas regiões visitadas pelo Estado, a falta de reação da polícia era a principal queixa. Críticas à atuação de Cameron e da polícia aumentaram ontem, quando a corregedoria informou "não haver evidências" de que Mark Duggan, morto pela polícia em Tottenham e acusado de ser traficante, havia atirado nos agentes, conforme versão policial. A morte de Duggan desatou as revoltas.Brigadas. Reunidos em "brigadas", moradores das regiões atingidas foram às ruas armados de vassouras, baldes e sacos de lixo para "limpar a bagunça" e retomar a vida normal. O movimento foi organizado via Twitter. Em questão de horas, mais de 65 mil pessoas passaram a acompanhar a mobilização. "Não tem a ver com os distúrbios. Tem a ver com limpeza - londrinos que ligam para a cidade, reunindo-se para criar um sentimento de comunidade", dizia a mensagem no site.Entre os voluntários, o músico e ator Ryan Wilson, de 37 anos, explicou por que se envolveu: "Só quero ajudar. É só um trocado, eu reconheço, mas é melhor do que ficar sentado acompanhando", argumentou. Aysha Shah, de 28 anos, reconheceu estar com medo da violência, mas ainda assim quer ajudar. "É óbvio que as pessoas estão assustadas, mas ao mesmo tempo estão tentando acabar com isso", disse.Em algumas regiões, como em Clapham Junction e em Camden, os participantes aplaudiam a passagem de carros da polícia, em sinal de apoio aos agentes. Os voluntários também ajudaram os funcionários municipais a retirar os carros queimados das ruas e fizeram um minuto de silêncio em reprovação à violência.Segundo empresas de seguros britânicas, o prejuízo causado pelos três primeiros dias de distúrbios é de "dezenas de milhões" de libras - valor que será cobrado do Estado na Justiça, já que pela lei a polícia tem obrigação de manter a ordem no país. / COM APCRONOLOGIARacismo e recessão1981Recessão causa três dias de protestos em Brixton, subúrbio de Londres. Em poucos meses, violência se espalha para Liverpool, Manchester e Leeds1990Distúrbios em Londres contra imposto ajudam a derrubar a premiê Margaret Thatcher2010Estudantes contra o aumento de mensalidades atacam prédios do governo e a comitiva do príncipe Charles

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