Caminhões do México são proibidos de entrar nos EUA

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Por Agencia Estado
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Em um duro revés para a estratégia de comércio exterior do presidente George W. Bush, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou na noite de terça-feira uma emenda à lei de dotação orçamentária do Ministério dos Transportes proibindo a entrada de caminhões mexicanos no país. A medida, que passou por uma folgada maioria de 285 votos contra 143, apanhou a Casa Branca de surpresa. Se for mantida pelo Senado, a decisão tornará sem efeito cláusula do Acordo Norte Americano de Livre Comércio, o Nafta, que assegurou a livre circulação de veículos de transporte de carga nos territórios dos EUA, Canadá e México. Bush lamentou a decisão e disse que trabalhará para revertê-la. A briga em torno da medida pode contaminar o debate no Congresso sobre a Autoridade de Promoção Comercial (TPA), o mandato legal que o executivo necessita para negociar novos acordos comerciais, como a Área de Livre Comércio das Américas, a Alca. A aprovação do TPA, que está longe de assegurada, depende da capacidade da administração de montar uma coalizão de republicanos e democratas no Congresso favoráveis à abertura comercial. O voto da Câmara vedando o acesso aos caminhões mexicanos nos EUA, nos termos previstos no Nafta, mostrou que é mais fácil articular esse tipo de aliança quando se trata de defender propostas protecionistas. Nada menos de 82 republicanos, alguns deles conhecidos por sua fidelidade a Bush, pularam a cerca e juntaram-se a 203 oposicionistas democratas para aprovar a proibição, que teve o apoio do Sindicato dos Condutores, o maior dos EUA, e de empresas de transporte rodoviário. Jeffrey Schott, um especialista em comércio do Instituto de Economia Internacional, disse que se a aprovação da emenda pela Câmara for "uma tentativa séria para impedir a administração de ir adiante com suas obrigações sob o Nafta, a reação de Bush poderá aumentar a tensão entre forças favoráveis ao livre comércio e os membros do Congresso aliados aos sindicatos e complicará ainda mais a passagem da TPA". A decisão dos deputados foi uma rejeição frontal de uma ordem executiva que o líder norte-americano assinou no mês passado estabelecendo os critérios para resolver a disputa com o México, que já dura anos. A ordem de Bush visava a abrir os EUA ao tráfego de caminhos do México a partir de janeiro próximo. Pelo Nafta, a entrada de caminhões mexicanos nos EUA deveria ter começado em 1997. Mas grupos protecionistas norte-americanos impediram que isso acontecesse, alegando que os veículos mexicanos não atendem aos padrões de segurança dos EUA. Eles podem circular apenas numa faixa de 32 quilômetros, em zonas comerciais, junto à fronteira. Em fevereiro passado, respondendo a uma queixa do México, um painel do Nafta determinou que a não abertura do mercado norte-americano às empresas de transporte do país vizinho constitui uma violação do acordo. O argumento da segurança foi invocado pelos deputados dos dois partidos para justificar seu apoio à medida, que, na prática, pretende revogar unilateralmente concessões negociadas num acordo internacional. "O Nafta é um pacto comercial, não um pacto de suicídio", disse o deputado David Obey, democrata de Wisconsin. "Não somos obrigados a por nossos motoristas em situação de risco para satisfazer uma burocracia internacional". Os líderes da maioria republicana haviam tentado, inicialmente, aprovar uma solução de compromisso que prorrogaria em 18 meses o início da entrada dos caminhões mexicanos nos EUA. Nesse período, inspetores do ministério dos Transportes conduziriam um exame dos caminhões mexicanos. Mas a recusa dos republicanos em incluir algumas emendas dos democratas irritou os líderes da minoria e os levou a propor a proibição completa da entrada dos caminhões. Ela deverá afetar cerca de 9 mil veículos.

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