Campanha chinesa matou de fome 1 em cada 5 tibetanos

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Por Cláudia Trevisan e PEQUIM
Atualização:

A Revolução Cultural (1966-1976) é vista como o período mais sombrio para os tibetanos sob o domínio da China, mas foi o Grande Salto Adiante ([O SHOW]1958-1962[/O SHOW]), campanha de industrialização de Mao Tsé-Tung, o responsável pela maior devastação humana e cultural na região. Ao todo, morreram 30 milhões de chineses. De cada cinco tibetanos, um morreu de fome em razão da coletivização forçada e do colapso da produção agrícola. A estimativa é do jornalista britânico Jasper Becker, autor de Hungry Ghosts (Fantasmas Famintos, em tradução livre). "Os tibetanos foram o povo que sofreu mais", disse Becker em entrevista ao Estado. Com experiência de 20 anos na China e cinco livros sobre o país, ele lembra que as políticas iniciais do Grande Salto Adiante estiveram na origem do levante tibetano contra o domínio chinês, que completou 50 anos no dia 10. Nômades que vagavam pelas montanhas com seus rebanhos, os tibetanos foram obrigados a entregar seus animais e instrumentos de trabalho ao Estado e a integrarem-se a unidades coletivas de produção.Além da mudança no estilo de vida, tiveram de entregar ao Departamento de Relíquias todo tipo de objetos pessoais, como joias, tapeçaria, imagens e textos religiosos, afirmou Becker. A partir de 1958, Mao Tsé-tung endureceu ainda mais, abandonando as promessas de autonomia aos tibetanos feitas quando o Exército de Libertação Popular ocupou a região, em 1951. "Ele decidiu que as minorias étnicas tinham de ser integradas à cultura chinesa. Não poderiam mais falar a própria língua, usar roupas típicas, nem ter religião." Alguns dos objetos recolhidos pelos enviados de Pequim foram parar em museus, mas a maior parte foi destruída, dentro da política deliberada de acabar com as diferenças culturais no país. A reação, o levante de 1959, causou a morte de 87 mil pessoas, de acordo com o governo tibetano liderado pelo dalai-lama. Em 1962, quatro anos antes da Revolução Cultural, restavam intactos apenas 8 dos 6.259 mosteiros e conventos da região habitada por tibetanos. "Quando fui ao Tibete pela primeira vez nos anos 80, parecia que tudo havia sido bombardeado", recorda Becker.

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