Campanha de Lieberman incomoda fiéis no Muro

Jornalistas e jovens partidários de ultradireitista causam tumulto em local sagrado do judaísmo

PUBLICIDADE

Por Gustavo Chacra
Atualização:

O candidato ultradireitista Avigdor Lieberman decidiu encerrar sua campanha com uma visita ao Muro das Lamentações, considerado o lugar mais sagrado para o judaísmo. Dezenas de jornalistas o acompanharam. Muitos esqueceram até mesmo de colocar o quipá, item obrigatório no local. Nem parecia o lugar onde tradicionalmente os judeus rezam em paz. Pessoas gritavam, flashes eram disparados e cinegrafistas subiam em cadeiras sem perceber que incomodavam os judeus que aproveitavam o momento para rezar. Com seguidores jovens, Lieberman não atrai eleitores da tradicional direita religiosa. Ao contrário, seus simpatizantes lembram os de Barack Obama durante a campanha nos EUA. A maioria que o acompanhava ontem era jovem. Havia muitas mulheres e alguns negros imigrantes da Etiópia. Pouco religiosas, as meninas pediam para serem fotografadas e faziam poses insinuantes, algo improvável para um eleitor dos tradicionais partidos de direita. Algumas fingiam torcer para o Shas, partido religioso. Indagada se apoiava o Shas, uma delas respondeu, em inglês fluente e tom irônico: "Claro que não, você acha que eu votaria neles?" A diferença é que Obama foi considerado um marco contra o racismo nos EUA, onde, quatro décadas atrás, era inimaginável um negro na Casa Branca. Em Israel, Lieberman é o inverso disso. Ele ataca justamente os árabe-israelenses, que seriam a minoria equivalente aos negros americanos dos anos 60. Ao mesmo tempo, o candidato que emigrou da ex-URSS há mais de 30 anos não se dá bem com religiosos. Os "russos" são acusados por conservadores religiosos de comer carne de porco e rezar em igrejas. Além disso, Lieberman já deu a entender que aceitaria negociar terras com os palestinos. Indagado ontem por um judeu conservador que estava perto do muro se apoiava a divisão de Jerusalém, ele desconversou.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.