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Campanha presidencial na Venezuela é marcada por agressões a jornalistas

Desde janeiro, foram 64 alertas de intimidações ao exercício da profissão, a maioria dirigida a críticos do chavismo

Foto do author Luiz Raatz
Por Luiz Raatz e CARACAS
Atualização:

CARACAS - A campanha presidencial venezuelana tem sido marcada por acusações de agressões a jornalistas. Desde janeiro, o Instituto Prensa y Sociedad (Ipys), entidade que monitora a liberdade de imprensa no país, registrou 64 alertas de agressões ou intimidações ao exercício da profissão. Deles, 60 atingiram profissionais de veículos críticos ao governo. Outros quatro foram registrados contra jornalistas de meios estatais.

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Ao longo de todo ano de 2011, houve 94 casos. De acordo com o Ipys, os alertas mais comuns são ameaças - às vezes concretizadas - de agressões físicas e roubo ou confisco de equipamentos, como câmeras, gravadores e microfones. Há também, segundo o instituto e jornalistas locais, a pressão econômica contra veículos privados, exercida por meio de remanejamento de publicidade oficial, subsídio a veículos estatais e pressão política contra anunciantes.

"Na Venezuela não há casos exacerbados de violência, como na Colômbia ou no México. Em dez anos houve seis mortes. As coisas são feitas de maneira mais sutil", disse ao Estado a diretora executiva do Ipys, María Helena Balbi. "Além disso, em ano eleitoral, há muito mais mobilização e o clima político fica muito mais polarizado."

Nesta quarta-feira, 16, a presidente da Federação Nacional dos Jornalistas da Venezuela, Silvia Alegrett, manifestou a preocupação da categoria contra as recentes agressões em reunião com membros do governo.

"Temos visto um aumento de agressões a jornalistas durante o desempenho da função. Por isso, pedimos ao ministro da Comunicação Andrés Izarra uma reunião para tratar o problema", disse a dirigente sindical por meio de nota. "Expusemos nossa preocupação com as denúncias registradas na campanha eleitoral."

Representantes do chavismo acusam a oposição de agressão ao Sistema Nacional de Meios Públicos (SNMP), que reúne rádios, jornais, agências e canais estatais do governo. Em uma entrevista a uma rádio comunitária de Sucre, Izarra disse que os ataques são uma tentativa desesperada da oposição e pediu que eles sejam prudentes. Nos últimos dias, os veículos do governo têm mostrado imagens dos profissionais agredidos diversas vezes ao longo do dia. O SNMP também entrou nesta quarta com uma representação na Assembleia Nacional.

O Ipys admite a ocorrência dos incidentes. A entidade, no entanto, questiona o tratamento desigual dado pelo governo às denúncias dos dois lados do espectro político venezuelano. "Foi aberta sindicância para os quatro casos de jornalistas do SNMP agredidos", afirmou María Helena. "Não houve investigação sobre nenhuma das 60 denúncias que envolviam profissionais independentes."

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Editor de investigação do diário El Universal, Francisco Olivares diz que as agressões são indiretas. "São obra de grupos políticos partidários do chavismo que podem, ou não, atuar com a anuência do PSUV", afirmou ao Estado. "A ação do governo contra os meios é pontual e sutil."

Segundo a ONG, um efeito colateral do clima de polarização dos meios de comunicação na Venezuela é o descrédito dos profissionais. "Os jornalistas são cada vez mais identificados com correntes políticas e perde-se a noção de que eles têm uma missão informativa", disse María Helena. "Tudo é colocado em termos de a favor e contra, chavistas e antichavistas. E o governo passa a ver coberturas de temas do cotidiano como uma tentativa de desestabilização da oposição."

 

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