
16 de agosto de 2014 | 19h10
CIDADE DO PANAMÁ - Considerado fundamental no início do século passado, quando, sob o comando de Theodore Roosevelt, os EUA iniciaram a expansão de sua capacidade militar e de sua política externa, o Canal do Panamá - cuja inauguração completou cem anos na sexta-feira - divide a opinião de especialistas em relação ao seu papel estratégico na região hoje em dia.
Enquanto alguns acreditam que apenas o aspecto econômico - em uma disputa entre EUA e, principalmente, China - continua em jogo, incluindo nessa análise a expansão do canal prevista para ser inaugurada entre o fim do próximo ano e o começo de 2016, outros ressaltam que a rivalidade crescente entre os dois países no campo financeiro também se aplica aos interesses políticos.
“Os EUA nunca diriam diretamente que estão em competição com a China pelo Canal do Panamá porque esse é um tema de grande impacto na infraestrutura do país”, afirmou ao Estado Johanna Mendelson Forman, analista da consultoria Stimson Center.
Para a especialista, o fato de projeções indicarem que, em 15 anos, Pequim pode se tornar a principal parceira comercial da América Latina cria implicações profundas entre os interesses dos dois países para a região. “Claro que os EUA estão observando os movimentos dos chineses, caso eles decidam investir em pontos estratégicos - o que os EUA não teriam como evitar. O Brasil também está observando os chineses, afinal, ambos fazem parte do Brics (grupo composto ainda por Rússia, Índia e África do Sul).”
A ideia de utilizar uma ligação entre oceanos como exemplo de sua capacidade de liderança e influência é contestada por quem vê o canal como uma necessidade majoritariamente econômica. “O canal era muito mais importante estrategicamente no século passado, quando o poderio marítimo de uma nação era mais importante do que hoje”, explicou Michael Hogan, do Centro para Deliberações Democráticas da Universidade da Pensilvânia e autor do livro The Panama Canal in American Politics (“O Canal do Panamá na Política Americana”, em tradução livre).
Para o analista, o canal hoje - ou mesmo após a sua expansão - continuará mais interessante para países com ampla atividade comercial. “Como a China compete com os EUA em muitos aspectos econômicos, Pequim se interessa em oportunidades em que possa ganhar terreno.”
A opção mais provável para os chineses concorrerem com os americanos na região é a construção de um canal similar na Nicarágua - obra de valor estimado em US$ 40 bilhões e cuja concessão de 50 anos, renováveis pelo mesmo período, foi emitida recentemente para o magnata chinês das telecomunicações Wang Jing.
Hub. Com a ampliação do Canal do Panamá, o presidente panamenho, Juan Carlos Varela, que assumiu o cargo em julho, pretende transformar o país em um centro logístico mundial e já pensa em um projeto para a construção de um quarto conjunto de eclusas para enfrentar a disputa representada pela possível construção do canal nicaraguense.
“O Panamá está se preparando para aumentar sua relevância como centro internacional de comércio”, afirmou o presidente à agência Associated Press durante as festividades do centenário. “Nosso país estudará outros componentes - como portos, estradas e aeroportos - que precisam ser construídos para tirar proveito de nossa posição geográfica.”
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16 de agosto de 2014 | 19h28
CIDADE DO PANAMÁ - No dia 15 de agosto de 1914, quando o capitão John Constatine completou a primeira travessia do Canal do Panamá com a embarcação Ancon, um sonho centenário - encurtar a distância entre os Oceanos Atlântico e Pacífico - tomou forma.
A obra, considerada uma das mais importantes do século 20, porém, foi cercada de dificuldades, imprevistos e mortes - estima-se que mais de 30 mil pessoas morreram, em razão da febre amarela e da malária.
Iniciada em 1881 pela França, sob comando do conde Ferdinand de Lesseps, que anos antes havia construído o Canal de Suez, no Egito, a obra foi abandonada anos mais tarde, principalmente em razão da corrupção e de problemas de planejamento. Em 1904, os EUA retomaram o projeto, inaugurando-o dez anos depois.
“O canal praticamente define o Panamá. Existimos como nação, como país, em razão do canal”, afirmou escritor Ovidio Díaz Espino no documentário Panamá: o País que Uniu o Mundo, que estreou no History Channel na sexta-feira.
A produção, que mescla depoimentos e reconstituição histórica, relata os bastidores da construção do canal, explicou o argentino Carlos Cusco, responsável pela produção do documentário. “Não falamos sobre a tecnologia, mas sobre as pessoas que tornaram possível a construção do canal.” O programa será reprisado no dia 30, às 20 horas, e no dia 31, às 7h30 e às 14 horas.
O repórter viajou a convite do History Channel
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