Câncer reaparece e Chávez aponta vice como potencial sucessor

Em discurso com tom de testamento, líder anuncia nova cirurgia em Cuba para tratar sua doença.

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Por Claudia Jardim
Atualização:

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou que regresará à Cuba neste domingo para realizar uma nova cirurgia para combater a reaparição do câncer e indicou seu vice-presidente, Nicolás Maduro, como sucessor do chavismo caso algo lhe aconteça e tenha que afastar-se do comando do país. Essa é a primeira vez que Chávez admite que a gravidade de seu estado de saúde pode afastá-lo da Presidência. Reeleito em outubro, o líder venezuelano desenhou um panorama pouco otimista, no qual incluiu a possibilidade de que ele não possar terminar o atual mandato e, inclusive, não assuma o novo mandato que começa em 10 de janeiro. "Se, como diz a Constituição, ocorrer algo que me inabilite para continuar no comando da Presidência, seja para terminar os poucos dias restantes e, especialmente, para levar o novo período, (...) Nicolás Maduro deve concluir o período (presidencial)", disse Chávez, em cadeia nacional na noite do sábado. Líder da "revolução bolivariana", visto como o único que garante a unidade dos diferentes grupos que apoiam o governo, Chávez pediu à população eleger a Nicolás Maduro como novo presidente caso ele não assuma o novo mandato e novas eleições tenham de ser convocadas. "Minha opinião firme, plena como a lua cheia, irrevogável absoluta, total, é que nesse cenário que obrigaria a convocação de eleições presidenciais vocês o elejam como presidente", disse Chávez, acompanhado pelo núcleo central de seu gabinete e pelo presidente do Parlamento. Ao ouvir a indicação de Chávez, o semblante de Maduro foi de susto e ao mesmo tempo de consternação. Emergência e piora A reaparição do câncer, com o qual Chávez batalha há mais de um ano, foi diagnosticada nesta semana durante novos exames realizados em Havana. De acordo com Chávez, a equipe médica disse que ele deveria ser operado de emergência ainda neste final de semana. Porém, ele insistiu em retornar à Venezuela para comunicar à população sobre seu estado de saúde. "Lamentavelmente, nessa revisão exaustiva surge a presença de células malignas na mesma área afetada", disse, ao afirmar que nesta ocasião a cirurgia é "absolutamente imprescindível". Há poucos meses, durante a campanha eleitoral, Chávez chegou a afirmar que estava curado. No entanto, sua ausência pública logo após a reeleição chamou a atenção sobre uma possível piora em seu estado de saúde. Chávez disse que realizou exames médicos antes de se candidatar à reeleição e que os resultados foram favoráveis. "Se tivesse surgido algum resultado negativo, tenham certeza que eu não teria inscrito e assumido a candidatura presidencial", afirmou. O anúncio gera uma reviravolta política no país. Essa será a quarta cirurgia que Chávez realiza para estirpar a doença e a segunda neste ano. "É um dia triste para nós(...) é mais uma lição", disse o presidente da Assembléia Nacional Diosdado Cabello em entrevista ao canal estatal. "Tenho esperança e fé de que ele vai sair dessa situação", afirmou. O Parlamento realizará uma sessão extraordinária neste domingo para autorizar a viagem do presidente à Havana. Unidade Chávez disse que o vice-presidente "é um dos líderes jovens de maior capacidade para continuar [seu governo)" e "com sua mão firme, com seu olhar, com seu coração de homem do povo". Chanceler durante pouco mais de seis anos, Maduro assumiu a vice-presidência logo depois da reeleição de Chávez, substituindo Elias Jaua, atual candidato a governador do populoso e rico Estado de Miranda. Na Venezuela, o vice é designado diretamente pelo presidente. A ascensão de Maduro, projetado como o "homem forte" do governo, foi vista como um claro sinal de que ele seria o possível "herdeiro" do legado chavista, caso o estado de saúde de Chávez piorasse. Analistas consideram que Maduro reúne poder político inclusive entre os militares, aval imprenscindível para governar o país. O ex-chanceler, que foi motorista de ônibus e sindicalista, se aproximou de Chávez em 1992, quando ele e sua esposa, a advogada Cília Flores, atuavam pela libertação do então tenente-coronel que foi preso depois de fracassada uma intentona golpista contra o governo de Carlos Andrés Perez. Na mensagem emocionada ao país, num tom de testamento, Chávez pediu unidade a seu governo, a militares, civis e à população em geral. Ele afirmou que "em qualquer circunstância" a "revolução" e a "via venezuelana ao socialismo" devem seguir. "Me dá muita dor na verdade que esta situação cause dor, cause angústia a milhões de vocês", disse. "Felizmente, esta revolução não depende de um homem". BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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