Candidatos não animam republicanos

Discurso embolorado dos pretendentes do partido à Casa Branca mostra que conservadores precisam se reinventar

PUBLICIDADE

Por Adam Nagourney
Atualização:

Um aspecto no qual os eleitores republicanos tendem a ser diferentes dos eleitores democratas é que eles gostam, ou melhor, amam, seus candidatos à presidência. Nem sempre, é claro. Mas desde Ronald Reagan a George W. Bush, passando por Dwight Eisenhower, os eleitores republicanos têm demonstrado um fanatismo por seus candidatos que os democratas só podem invejar. E é isso que torna o disputa pela presidência entre os republicanos tão surpreendente. É difícil lembrar de outra campanha na qual os republicanos tenham parecido tão desanimados sobre suas escolhas. Essa foi a lição inequívoca deixada pela rápida ascensão nas pesquisas de opinião recentes de Mike Huckabee, o ex-governador de Arkansas, o último numa linha da opções republicanas do mês. Uma pesquisa de opinião New York Times/CBS News da semana passada concluiu que nenhum dos candidatos republicanos - nem mesmo o subitamente "quente" Huckabee - é visto favoravelmente por metade do eleitores republicanos. Até certo ponto, isso pode ser uma anomalia, um julgamento severo sobre um elenco de candidatos em que cada um deles vacilou por alguma falha de caráter, ideologia ou antecedentes. Isso é também, sem dúvida, o mais recente indício de como a base republicana está saturada do seu partido. E vários republicanos disseram que isso pode mudar uma vez que os republicanos se decidirem por um indicado e particularmente se os democratas escolherem a senadora Hillary Rodham Clinton, democrata pelo Estado de Nova York. Mas o que está preocupando os republicanos atualmente é que esta recepção morna das fileiras do partido ao que este tem de melhor a oferecer sugere que o Partido Republicano está empacando depois de dominar a política em grande parte dos últimos 35 anos. SLOGANS EMBOLORADOS Os eleitores republicanos estão reagindo - ou, mais exatamente, não reagindo - a uma série de candidatos à presidência que tem definido sua candidatura com promessas, slogans e políticas republicanas já amplamente conhecidas, até mesmo emboloradas. "No geral, a mensagem do nosso partido ficou batida e não estamos tão sintonizados como já estivemos antes", disse o senador Lamar Alexander, republicano do Tennessee, que já tentou ser indicado em 1996 e 2000. "Estamos repetindo palavras e frases da década de 1980, em vez de olhar para frente, para 2008. Não temos sido tão originais e inovadores na nossa apresentação como temos que ser. Estamos aplicando nossos velhos princípios a novas circunstâncias. O mundo é novo." Richard Lowry, editor da revista conservadora National Review, disse que a campanha política "tem sido menor que a soma de suas partes". "O debate entre esses caras tem sido muito pouco edificante e muito voltado para o passado", disse ele. "Só se fala em ?quem fez o quê de errado há sete anos?. Eles também não estão falando sobre o futuro, que é um sinal de um profundo mal-estar republicano. A força intelectual e as boas idéias do Partido Republicano se esgotaram." Isto é o inverso que costuma acontecer em campanhas presidenciais. George H. Nash, um historiador conservador, disse que, desde 1940 - ano em que os republicanos acabaram indicando Wendell Wilkie de Nova York para enfrentar o presidente Franklin D. Roosevelt - que o partido não parece tão sem inspiração. "Pelo que me lembro, parece que há uma maior preocupação e um grau maior de reserva nesta campanha política", disse Nash. "O único ano comparável a este em alguns aspectos foi 1940." O presidente Bush não ficou nada a dever a um astro do rock para as platéias republicanas quando concorreu em 2000 e 2004. Isso não mudou, mesmo hoje, pois 71% dos eleitores republicanos disseram na pesquisa de opinião do Times/CBS News na semana passada que aprovam o desempenho de Bush, um endosso que os republicanos que cobiçam seu cargo só podem invejar. (Quanto à população em geral, somente 28% aprovam a maneira como ele está se conduzindo no cargo.) FATOR REAGAN Ronald Reagan agitou os republicanos em 1980 com sua presença carismática e visão lúcida - seu feroz posicionamento anti-soviético, seu apelo para diminuir o tamanho do governo e reduzir os gastos com bem-estar social , que continuaram a definir as políticas do Partido Republicano desde que ele saiu. "Em 1980, não houve a sensação de que os republicanos precisavam de um outro Ike", disse Peter Robinson, um membro do Hoover Institute que foi redator de discursos para Reagan. "Está acontecendo algo muito incomum aqui". A comparação com os democratas só serve para acentuar o problema dos republicanos. Os democratas podem estar prestes a fazer história indicando ou um afro-americano ou uma mulher. Os competidores do partido têm tropeçado uns nos outros na promessa de mudar a direção que o país está tomando. E a base e democrata gosta do que tem - no levantamento feito pela Times/CBS News na semana passada, Hillary apresentou o mais alto grau de favoritismo de todos os candidatos democratas, com 68%. Em contraposição, apenas 41% dos republicanos vêem Rudolph W. Giuliani de forma favorável - e ele é o líder dos republicanos nessa contagem. Em eleições anteriores, os republicanos também apresentaram e indicaram candidatos que não inspiravam as bases, como Bob Dole, de Kansas, em 1996, e George Bush pai, em 1992 (embora Bush tenha ganho em 1988 por, habilmente, ter se apresentado como o terceiro mandato de Reagan). Mas, acima de tudo, os republicanos têm regularmente encontrado candidatos que seus eleitores podem amar. Quanto aos democratas, provavelmente voltaram atrás 47 anos, até Kennedy, para encontrar um candidato que realmente desperta as bases do partido. A inversão de papéis deste ano chama a atenção. Richard N. Bond, ex-presidente do Comitê Republicano nacional, disse que, depois de 40 anos na política republicana, não se lembra de uma situação na qual os democratas estivessem tão mais entusiasmados com seus candidatos. "Quando se trata da intensidade partidária, na pergunta ?Pensando à frente, você está interessado em participar da eleição de 2008?? foi constatada uma diferença de 17 pontos entre as respostas dos republicanos e dos democratas", disse Bond. "Esse é um número monstro. Mostra que os republicanos não estão animados e que vão precisar de um candidato que consiga articular uma visão pós-Bush do país." FRUSTRAÇÃO Mas será que isso realmente deveria causar surpresa? Para começar, nenhum desses candidatos para 2008 está particularmente identificado com o "movimento" conservador nem goza da confiança dos conservadores que formam a base republicana. Portanto, uma grande parte desta campanha tem sido o esforço por parte dos candidatos para estabelecer - ou lustrar - suas credenciais junto aos eleitores. "Os conservadores estão mais frustrados com eles do que com o partido como um todo", disse Gary L. Bauer, um importante social conservador que concorreu à presidência em 2000. "Muitos deles afirmam ser conservadores, mas há inconsistências nos seus antecedentes." Isso também explica por que os candidatos republicanos gastam tanto tempo discutindo não o futuro mas o passado: a mudança de posição de Mitt Romney sobre o aborto; os escândalos que obscureceram o período de Giuliani como prefeito; ou o apoio a Huckabee, como governador do Arkansas, por conceder matrículas em faculdades estaduais a filhos de imigrantes ilegais. Esta luta pela legitimidade ideológica tem um outro efeito - eles todos parecem estar lendo a mesma cartilha de campanha. Todos eles falam em redução de tributos. Todos eles falam em diminuir o tamanho da máquina do governo e em nomear juízes "estritamente conservadores". Eles todos apóiam a guerra no Iraque e prometem tratar duramente os imigrantes ilegais. Num momento em que o país, e até muitos republicanos, estão sedentos por uma mudança, esse elenco de candidatos está prometendo mais do mesmo - fazer exatamente o que Bush fez, apenas melhor. "O motivo pelo qual todos fazem a coisa errada é porque todos esses candidatos têm uma visão do mundo genericamente parecida com a de Reagan", disse Grover G. Norquist, presidente da organização Americanos em Favor da Reforma Tributária. "As ideologias são todas questões já definidas. Todos eles querem cortar impostos. Todos eles lhe darão melhores magistrados. Todos vão permitir que você mantenha suas armas de fogo." Vários republicanos disseram que isso tudo poderá mudar assim que os republicanos souberem contra quem estarão concorrendo. "Acredito que Hillary Clinton e Barack Obama - quanto se souber mais a respeito das opiniões dele - poderão criar uma inversão no entusiasmo em favor de nosso candidato", disse o ex-candidato Bauer. "Então, acho que não será difícil conseguir votos para os republicanos." O fato de, três semanas antes do reunião dos líderes do partido em Iowa, os republicanos estarem esperando que Clinton ou Obama os salvem quer dizer alguma coisa sobre a conjuntura do Partido Republicano.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.