Candidatos sul-coreanos distanciam-se dos EUA

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Por Agencia Estado
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Em campanhas eleitorais passadas, candidatos presidenciais da Coréia do Sul alardeavam laços estreitos com Washington. Mas, neste ano, os dois principais candidatos às eleições presidenciais de 19 de dezembro estão se distanciando do principal aliado do país, em meio a um crescente sentimento antiamericano. Os dois candidatos tentam capitalizar a revolta em relação ao julgamento de um tribunal militar dos EUA que inocentou dois soldados americanos que estavam num veículo blindado que atingiu e matou duas adolescentes sul-coreanas. O candidato pró-governo, Roh Moo-hyun, parece estar sendo o mais beneficiado com a revolta pública, que levou mais de 10.000 pessoas a participar de uma vigília nas proximidades da fortemente guardada Embaixada dos EUA, neste fim de semana. Um ex-defensor dos direitos humanos, Roh é visto como o candidato mais propenso a combater o que muitos sul-coreanos percebem como a arrogância das tropas dos EUA na Coréia do Sul, assim como a de formuladores de políticas em Washington. Roh diz que quer que a Coréia do Sul tenha uma voz "igual" na aliança com os EUA, mas tem tentado abafar especulações de que entrará em confronto com Washington. Ele também é visto com simpatia por jovens eleitores que organizaram protestos contra os militares americanos nas últimas semanas. Sul-coreanos idosos, que lembram do papel dos EUA na Guerra da Coréia, de 1950 a 1953, são mais simpáticos à presença das tropas americanas. "Vou votar num candidato que nos defenda dos durões dos Estados Unidos", disse Kim Su-hak, um estudante de 21 anos que postergou sua viagem de férias para poder estar em Seul e votar. O rival de Roh, o líder oposicionista Lee Hoi-chang, tem acusado o presidente Kim Dae-jung de ser brando ao tratar com a Coréia do Norte. O tom de Lee coincide com a posição do presidente dos EUA, George W. Bush, que tem descartado negociar com a Coréia do Norte, a menos que o país desista de seu programa de armas nucleares. Mas muitos sul-coreanos acreditam que a política de Bush não oferece abertura e é uma ameaça aos esforços de conciliação na Península Coreana, e o alinhamento de Lee com Washington pode custar-lhe votos. Antiamericanismo "não terá qualquer qualquer impacto em minha decisão, mas penso que ele irá afetar um monte de pessoas que ainda não decidiram em quem votar", avaliou Ellen Cho, que trabalha num grupo comercial estatal. Enquanto Roh é mais crítico do que Lee em seus pronunciamentos sobre as relações entre a Coréia do Sul e os Estados Unidos, alguns eleitores questionam quanta diferença realmente existe em suas políticas. Os dois prometem que, se eleitos, irão exigir mais autoridade para a Coréia do Sul no código legal que governa os 37.000 soldados dos EUA no país. Mas será difícil cumprir a promessa, já que o código foi revisado há apenas dois anos e o secretário de Defesa americano, Donald H. Rumsfeld, já descartou qualquer nova mudança. No domingo, Lee visitou as famílias das adolescentes mortas pelo veículo militar dos EUA. Ele participou de uma cerimônia religiosa em memória das vítimas, mas manifestantes o acusaram de oportunismo político e jogaram ovos nele. O Korea Herald, um jornal em língua inglesa, escreveu hoje, num editoral intitulado "O fator americano na eleição", que os candidatos deveriam articular medidas práticas para resolver a tensão entre os dois países. O diário advertiu para que eles não se engajem em "populismo raso" para ganhar votos.

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