Cantor da Faixa de Gaza se destaca em programa de TV

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Por AE
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Um jovem de 23 anos acostumado a cantar em casamentos em um campo de refugiados na Faixa de Gaza tem dado aos palestinos um raro sentimento de orgulho e união nacional, ao chegar à final do reality show "Arab Idol", um concurso musical assistido por milhões de pessoas no Oriente Médio.Em toda a Faixa de Gaza, um território pobre controlado pelos militantes do grupo islâmico Hamas, as pessoas se reuniram em torno das televisões em casas, escritórios e cafeterias nesta sexta-feira para ver Mohammed Assaf disputar com candidatos do Egito e da Síria uma vaga na final.Quando Assaf começou a cantar seu hino de nacionalismo palestino, "Raise the keffiyeh", fogos de artifício tomaram conta dos céus de Gaza e os telespectadores começaram a dançar a tradicional "dabka". Para o professor Ahmed Abu Ali, de 38 anos, o jovem cantor de sorriso largo e voz suave está colocando a Palestina no mapa. "Esse jovem está expressando os sentimentos de todos nós, ele está expressando nosso sofrimento, nossa dor, mas também nosso amor pela vida", comenta.O programa, produzido pela emissora saudita MBC Group, é gravado na capital do Líbano, Beirute. A competição, que está na segunda edição, começou em março, com 27 participantes. O vencedor vai ser escolhido na noite deste sábado, por voto popular.Filho de pais palestinos, Assaf nasceu na Líbia e cresceu no campo de refugiados Khan Younis, na Faixa de Gaza. Ele teve de enfrentar muitas dificuldades para participar do programa. O jovem conta que teve de implorar para o Hamas para poder deixar a Faixa de Gaza e depois subornou guardas na fronteira com o Egito. Durante a fase de testes, um colega palestino deu sua vaga para ele, por acreditar que Assaf teria mais chances de ganhar.Conforme Assaf foi avançando na competição, a euforia e o orgulho nacional foram se fortalecendo na Cisjordânia, em Gaza e Jerusalém Oriental, os territórios onde os palestinos esperam um dia estabelecer seu país. A torcida pelo talentoso cantor permitiu que os palestinos esquecessem, pelo menos temporariamente, as disputas políticas e geográficas internas.Enquanto isso, os políticos tentam aproveitar o carisma de Assaf. O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, que governa a Cisjordânia, ligou para o jovem no fim do mês passado para parabenizá-lo e depois divulgou um comunicado pedindo que o povo votasse nele. Já o Hamas inicialmente criticou o programa, afirmando que o nome "Arab Idol" (Ídolo Árabe) é uma blasfêmia. Entretanto, esta semana um deputado do grupo, Yehiyeh Moussa, chamou Assaf de "embaixador da arte palestina".Mesmo assim, alguns líderes religiosos continuam criticando o jovem cantor. Em um sermão nesta sexta-feira na mesquita Al Aqsa, em Jerusalém, Mohammed Salim disse que os palestinos esqueceram da luta pela independência em função do programa. "Votar por essas músicas e imoralidades não só é proibido, como é um crime contra a causa do nosso povo", afirmou. Fonte: Associated Press.

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